Miguel Calmon du Pin e Almeida (Marquês de Abrantes)
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Memórias do Zebu » Importações de Zebu para o Brasil » Primeira Fase (1813 - 1870)
Publicado em 23/06/2015 às 10:37:59
- atualizado em 28/11/2016 às 18:07:01

Miguel Calmon du Pin e Almeida (1796 - 1865), ou Visconde e Marquês de Abrantes, formou-se na Faculdade de Direito de Coimbra em 1821 e coordenou a resistência brasileira contra a tentativa de independência da Bahia entre 1822 e 1823. Elegeu-se deputado constituinte em 1827, onde foi em seguida convidado por D. Pedro I para ocupar a pasta da Fazenda, notabilizando-se na organização da Caixa de Amortização da Dívida Pública. Após a abdicação de Imperador, retornou para sua terra natal e fundou em Santo Amaro a Sociedade de Agricultura da Bahia e a Sociedade Philomática de Química.
Como produtor agrícola, negociante e pesquisador, escreveu em 1834 a obra "Ensaio sobre o fabrico do açúcar", que tinha como objetivo estimular a modernização açucareira brasileira, a qual se encontrava abatida pela concorrência estrangeira. Em 1837 voltou a ocupar o cargo de Ministro da Fazenda durante a Regência de Diogo Antônio Feijó. Eleito senador da Província do Ceará em 1840, foi empossado novamente no Ministério quando D. Pedro II assumiu o poder aos 14 anos de idade.
Como conselheiro de Estado, dois anos depois cumpre missões diplomáticas em Paris, Londres e Berlim. Participou ativamente na resolução da Questão Christie - embate jurídico e diplomático entre o Brasil e a Inglaterra deflagrado em meio a uma série de momentos considerados críticos para o II Reinado. Chegou a tornar-se membro do antigo IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, onde publicou diversos artigos e obras científicas relevantes.
Até os dias atuais, as fontes históricas consideradas mais remotas sobre a introdução do zebu indiano no Brasil datam do ano de 1813, quando o Marquês de Abrantes menciona na obra na obra citada acima a existência na Bahia de um casal da raça proveniente da Costa do Malabar. Deixados no Porto de Salvador por um navio inglês, sem motivo aparente, foram colocados em leilão juntamente com outros animais que os acompanharam no trajeto. Segundo ele, a dupla foi comprada por um criador anônimo que apresentou oferta imbatível na ocasião.
Em "Os Grandes Reprodutores Indianos (1956)", André Weiss afirma que esses exemplares eram de origem mestiça, provenientes do cruzamento com animais crioulos e outros vindos da costa nordeste da Índia, região onde se fixaram as Feitorias de Damão, Goa e Diu, ambas integrantes de parte do Império português mantido no Oriente.
Em seu "Ensaio sobre o Fabrico do Açúcar (1834)", o Marquês diz:
(...)O Malabar é, sem dúvida alguma, a raça que deve ser propagada no Brasil. Além de ser mais forte e ativo para o serviço, conserva-se sempre nutrido, é mais vivedor e menos sujeito a moléstias. Resistiu com muito mais vigor à praga do carrapato. A reprodução é mais rápida do que a do gado europeu, dando à luz ao seu primeiro filho antes de se completar três anos e meio. (Abrantes, 1834. p. 88)
A partir de então, o barão participou de inúmeras iniciativas em defesa do zebu, seja contribuindo para organização de exposições ou demonstrando as qualidades e as vantagens desse gado. "(...)Em 1880, já podiam ser vistos mestiços zebuínos de suas matrizes em animais de trabalho nas propriedades da Família Clemente Pinto. Em muitos locais o zebu firmava-se como gado mais adequado, destronando as raças europeias até então em voga, mas que, definitivamente, não podiam competir com o zebu nos cafezais, nas montanhas e no dia-a-dia das fazendas". (SANTOS, 2009).
Texto e pesquisa: Thiago Riccioppo, Historiador, Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU; Gerente Executivo do Museu do Zebu/ABCZ e colaborador do CRPBZ.
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