Guzerá
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Zebuinocultura » Conheça as raças zebuínas
O gado indiano Kankrej ou Guzerá como é conhecido no Brasil é a mais antiga de todas raças zebuínas. Sua presença remete a milênios e se mistura com a própria história da humanidade, uma vez que o uso dessa pecuária é uma das bases que estruturou algumas entre as primeiras grandes civilizações da antiguidade. Vestígios arqueológicos, como carimbos de selos e cerâmicas de terracota comprovam a existência do Guzerá a cerca de 5 mil anos em sítios arqueológicos em Mohenjo-Daro e Harappa, na Índia, mais propriamente ao longo do vale do Indo até as fronteiras do Paquistão. Sendo assim, o habitat do Guzerá é a região predesértica de Kutch, em Gujarat, sequenciado ao norte pelo deserto de Thar e pelo deserto de Sind. Sua dispersão ocorreu para outras civilizações em regiões que iam das antigas Mesopotâmia a Síria. No museu de Bagdá no Iraque é possível verificar diversas peças de diferentes épocas que o Guzerá aparece materializado em artefatos de ouro, esculturas e até em moedas.
Mapa dos sítios das primeiras civilizações indianas onde o gado Guzerá era uma das bases de suas organizações sociais e econômicas. Fonte: Redhistória.com
Foi a primeira raça zebuína a chegar ao Brasil. A raça foi trazida da Índia, na década de 1870, pelo Barão de Duas Barras, logo ela foi dominando o cenário da pecuária entre os cafezais fluminenses. Surgia portanto, como solução para arrastar os pesados carroções através de íngremes montanhas até os vagões para transporte de café, e também para produzir leite e carne.
O gado Guzerá já esteve a ponto de desaparecer no Brasil, mas graças a alguns criadores que acreditaram em seu potencial, tomou forças sendo hoje a terceira raça zebuína com maior número de animais no País.
Nas primeiras décadas do século XX, os criadores de Guzerá estiveram entre os apologistas das vantagens e virtudes do Zebu do Triângulo Mineiro e do Rio de Janeiro quando encararam a "guerra contra o Zebu", promovida por intelectuais e a imprensa paulista.
A Guzerá até a década de 1920 era considerada como a principal raça zebuína criada no Brasil, até o advento do gado Indubrasil desenvolvido no Triângulo Mineiro - estado de Minas Gerais, raça essa surgida da fusão da Guzerá, Nelore e Gir. A partir de então, a criação de Guzerá entra em decadência, sendo mantida principalmente por criadores João de Abreu Jr. em Cantagalo - RJ e por Cristiano Pena em Curvelo, bem como alguns de Uberaba-MG.

Imagem estilizada de zebuínos da raça Guzerá. Crédito: Jadir Bison.
Após este declínio, os criatórios de Guzerá voltaram a se desenvolver, onde aos poucos se espalharam por várias fazendas e regiões.
Sua presença histórica na região nordestina demostra a sua capacidade de rusticidade e adaptabilidade em condições do clima seco e inóspito. Por exemplo, a raça perpassou produtivamente durante anos consecutivos, as secas iniciadas em 1945, 1952, resistindo também a outros períodos de secas nas décadas posteriores.
A raça é atualmente difundida no Rio de Janeiro - onde preserva suas origens no núcleo do Zebu no Brasil, bem como em importantes criatórios de Minas Gerais, São Paulo e Goiás, e vem se expandindo para todas as regiões do País com notáveis resultados.
Caracteriza-se por ser uma raça produtora de carne, mas também se mostra bem adaptada como de aptidão leiteira, ao que se pode observar no quadro abaixo.
Quadro com as caracterizações gerais da raça Guzerá.
A seguir assista o documentário produzido por Wagner Indaiá intitulado Guzerá a raça Pura. Este é o primeiro de três capítulos disponíveis. Não perca!
Clique aqui para a assistir a segunda parte do documentário "Guzerá".
Clique aqui para a assistir a terceira parte do documentário "Guzerá".
Acesse este link para conhecer a Associação dos Criadores de Guzerá do Brasil - ACGB. Fundada em 22 de maio de 1956, é uma associação de âmbito nacional, reconhecida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. Sem fins lucrativos, a entidade é constituída com sede na cidade de Uberaba - MG.
Veja também os padrões raciais da raça Guzerá acessando aqui.
Texto: Thiago Riccioppo
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU