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Publicado em 27/05/2014 às 11:00:25 - atualizado em 27/04/2015 às 10:26:35

De acordo com Alberto Alves Santiago (1984), a raça Sindi é originária da região de Kohistan, parte da província de Sindh no Paquistão, onde é conhecida como Red Sindhi. A variedade Las Belas do Sindi, considerada a mais pura da raça, ainda é encontrada nesta região até as divisas com a região do Baluchistão. Sua feição assemelha-se ao gado vermelho afegão do qual credita ser um dos troncos do Sindi moderno.


Santiago reforça que sua origem mais remota, provavelmente se relaciona aos deslocamentos de culturas milenares de povos semi-nômades que já haviam experimentando algum processo de domesticação bovina, entre as quais se relacionavam ao Gir do oeste da Índia, o Sahiwal do Pundjab e ao já dito gado vermelho do Afeganistão.

Em 1930 Ravísio Lemos e Manoel de Oliveira Prata trouxeram alguns exemplares da raça Sindi da Índia para o Brasil, contudo muitos desses animais acabaram desaparecendo em possíveis cruzamentos com o Gir, restando apenas alguns poucos preservadores da raça.

Cerca de 20 anos sem importações de zebuínos da Índia, entre os finais de 1940 e início da década de 1950, Felisberto de Camargo - agrônomo e diretor do Instituto Agronômico do Norte, localizado à época no estado do Pará, resolveu trabalhar para a quebra das barreiras sanitárias impostas pelo Ministério da Agricultura - MA que impediam a importação de animais de outros países para ao Brasil.

Entre os objetivos cotejados por Camargo estavam o estímulo a criação de búfalos na Ilha de Marajó, bem como à busca de bovinos da Ásia que se adaptassem adequadamente as condições difíceis de produção no Norte do País, especialmente na região amazônica.


Zebuínos da raça Sindi. Crédito: J. M. Matos.

O pesquisador André Weiss, contemporâneo de Felisberto de Camargo, analisa que essa conjuntura marcava:

 

Em 1948 deu início às démarches, junto às autoridades superiores, para a efetivação de seu plano que, em linhas gerais, consistia na introdução de gado Red Sindhi e Sahiwal, além de búfalos das raças Murrah, Nili e Ravi. Submeteu o plano as autoridades do Ministério da Agricultura, que ouviu as autoridades responsáveis pela Defesa Sanitária Animal. Estas estabeleceram condições rigorosas, a começar pela construção de um lazareto quaternário, em Belterra - Pará, na Fordlândia. Assentadas todas as providências, Felisberto de Camargo seguiu para a Ásia, onde percorreu os principais centros de criação, particularmente das raças Sindhi, Sahiwal e Tharparkar, acabando por se decidir pela primeira. (WEISS, 1956. p. 19).

 

Na Ásia, enquanto o Diretor do Instituto Agronômico do Norte mantinha contatos para a aquisição dos animais no Paquistão, o Ministério da Agricultura - MA no Brasil decidiu sustar a aquisição do gado. Desafiando a decisão governamental, Felisberto de Camargo continuou a efetuar negociações, adquirindo os animais e os meios para transportá-los.

 

Para buscar resolver o "fato consumado" de forma conciliatória, o Ministério da Agricultura, estabeleceu que, ao invés dos animais se destinarem diretamente à Belterra no Pará como estava previsto, eles ficariam a princípio em estado de quarentena na Ilha Fernando de Noronha sob responsabilidade direta do Departamento de Produção Animal.

 

Nesta ocasião, o gado veio embarcado por via aérea através da "Eagle Aviation LTD." - companhia inglesa de Londres. Ocorreram duas viagens; o primeiro lote no dia 14 de outubro de 1952 e o segundo no dia 24 daquele mesmo mês. As escalas foram realizadas em Khartoun, no Sudão e em Kano, na Nigéria e, finalmente, em Fernando de Noronha, quando esses animais passaram pela quarentena e foram estudados e testados por pesquisadores do Instituto Agronômico do Norte - IAN de Belterra.

 

O plantel do gado Sindi, adquirido no Paquistão, compunha-se de 31 cabeças, entre machos e fêmeas. Um lote de 6 animais - 3 casais - foi obtido em dois estabelecimentos oficiais, a saber: a Fazenda de Seleção de gado Red Sindhi - Central Government Red Sindhi Cattle Breeding Farm, pertencente ao governo paquistanês, em Kalir, e na Fazenda de Seleção do Gado Sindhi intitulada Governmernt of Sind Red Sindhi, repartição do governo na Província de Sindh, em Mirpurkas. Cf. (WEISS, 1956, p. 19)

 

Os demais exemplares, em número de 25, eram produtos de criação particulares, da Fazenda Patel e da Fazenda Sitari, ambos em Karachi. Eram animais de excelentes caracterização, sendo os touros pertencentes às melhores linhagens leiteiras. Em 1953, ao se levantada, após quase um ano e meio na quarentena, o número de cabeças subia a 60, e consequência de nascimentos ocorridos na Ilha. Cf. (WEISS, 1956, p. 19)

 

Esta importação foi extremamente significativa, pois marcou a entrada definitiva do gado Red Shindhi no Brasil.

 

Em 1954, depois da longa estadia na ilha, o lote, que já era de 50 animais (reprodutores, matrizes e crias) seguiu para Belterra. Tempos depois, muitos desses animais seguiram para a Ilha de Marajó (onde o rebanho acabou sendo extinto). No entanto, algumas fêmeas deste grupo seriam doadas para a Escola Superior Luiz de Queiroz - ESALQ em Piracicaba - SP. Neste centro desenvolveram-se pesquisas com esses animais, entre quais houve a difusão da raça em alguns criatórios do estado paulista.



Sertãozinho, Nova Odessa e Ribeirão Preto, foram uns desses núcleos. O gado sindi passou a ser trabalhado com a finalidade leiteira ainda na década de 1950.

 

Nesse mesmo contexto, o Departamento da Produção Animal da Secretaria Estadual de Agricultura resolveu firmar em 1956, uma parceria com o criador José Cezário de Castilho, propondo o cruzamento de seu rebanho (linhagem de 1930) com a do órgão governamental (linhagem de 1952).


Por mais de cinco anos Nova Odessa, forneceu reprodutores e filhos de touros importados, através de seus leilões. Em 1963, o gado sindi foi transferido para a Estação Experimental de Zootecnia de Ribeirão Preto, que também passou a intesificar a exploração do potencial leiteiro da raça.


No entanto, dez anos depois, as pesquisas com o gado vermelho indo-paquistanês no instituto são desativadas. O rebanho é novamente transferido, desta vez para a cidade de Colina, onde foi vendido. No ano de 1974, os pedidos de registro desta raça praticamente cessaram na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - ABCZ.

 

Na reportagem "Grandes Criatórios" produzida em 2011, o Canal do Boi dedicou um programa para apresentar as vantagens da criação da raça Sindi, confira!

Frente à quase extinção dos criatórios de Sindi no Brasil, o paulista José Cezário de Castilho era único criador que insistia no registro do rebanho. Numa parceria com a Universidade Federal da Paraíba - UFPB em 1980, Castilho disponibilizou animais que seriam avaliados no semi-árido nordestino, especificamente na região de Patos.

 

Ao que se seguiu, a Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba - EMEPA levou os melhores exemplares de 12 fêmeas e 2 machos de Colina para o sertão paraibano. A EMEPA ainda recebeu, em 1988, mais quatro reprodutores, 30 matrizes e quatro crias, descendentes diretos da importação de 1952, que pertenciam ao Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido - CPATU, da Embrapa, no Pará.

 

De ambos os núcleos, o gado Sindi foi partindo para outros estados como Pernambuco e Alagoas. Sendo assim, a década de 1990 passou marcada pela ascensão de criatórios de Sindi no País. Consequentemente, houve pedidos para a necessidade de retomar a execução dos serviços de registro genealógico da raça efetivamente pela ABCZ.

 

Durante dez anos, criadores, a ABCZ e o Ministério da Agricultura e Pecuária - MAPA, discutiram, avaliaram e reavaliaram os documentos pertencentes aos centros oficiais de pesquisa, que alegavam ser a raça totalmente apropriada para a produção de leite no semi-árido nordestino.

 

Além disso, esse período foi reservado para a apresentação de uma nova reivindicação dos criadores de Sindi: o reconhecimento de uma variedade mocha da raça. Nesse sentido, um documento de autoria do zootecnista e professor Alberto Alves Santiago foi encaminhado em 1999 para a ABCZ alegando as vantagens da raça.


Qualidades da raça Sindi.

Em 2001, foi dada a aprovação do registro genealógico dos animais da EMEPA e da EMPRAPA-CPTAU, por parte do Ministério da Agricultura, através de seu Departamento de Fiscalização e Fomento da Produção Animal e pela ABCZ, concretizando assim mais aquilo que em pouco tempo significaria uma vitória para a zebuinocultura brasileira, uma vez que a aceitação do Sindi vem crescendo exponencialmente e demonstra ótimos resultados.

 

A raça sindi, além de retornar ao quadro técnico da ABCZ, encontrou grandes horizontes pela frente. Seja nos criatórios existentes em cidades como Ituverava ou Sales, ambas no interior paulista, ou nos rebanhos do Rio de Janeiro ou do Ceará e de novos criatórios que vão se espalhando pelo Brasil e até no Exterior. Sem contar que, é no semi-árido que esse gado, em estado puro, mostra efetiva funcionalidade de resistência e desenvolvimento.

 

Os animais da raça Sindi, em geral, são pequenos e adequados para regiões de poucos recursos alimentares, onde animais de grande porte encontram dificuldades de serem mantidos.

 

Detém constituição robusta, ossatura delicada quanto à espessura e são efetivamente resistentes. Sua musculatura é compacta e bem distribuída por todo o corpo. O temperamento é ativo e dócil, a pelagem é vermelha, porém podem ter manchas brancas em extensão reduzida no ventre e nunces claras em outras partes do corpo. Tonalidade mais clara ao redor do focinho, das quartelas e nas áreas sombreadas. Os machos são mais escuros, principalmente nas espáduas, no cupim e coxas, chegando quase ao preto.

 

Acesse o site e conheça pelo link a Associação Brasileira dos Criadores de Sindi - ABCSindi, fundada em novembro de 2003, a entidade é resultado da união e vontade de um grupo de criadores pioneiros, técnicos, pesquisadores e instituições públicas que acreditaram no gado vermelho do Paquistão, como mais uma opção para a pecuária brasileira. O principal objetivo da entidade está em promover, preservar e defender a raça, fomentando, expandindo e intensificando sua exploração, visando à melhoria de suas aptidões econômicas.

 

Acesse aqui e sabia como são os padrões raciais definidos pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - ABCZ para a raça Sindi.

 

Texto: Thiago Riccioppo


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