Catálogo de Linhagens da raça Nelore Voltar

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Publicado em 27/10/2015 às 10:10:10 - atualizado em 27/10/2015 às 15:10:47
A raça Nelore é a locomotiva do rebanho nacional. Imagem: Adriano Garcia, 2012.

Fruto da cooperação entre a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e entidades de pesquisa do Brasil, o Catálogo de linhagens do germoplasma zebuíno: Raça Nelore foi um estudo pioneiro na ocasião de sua produção.

Este é um projeto piloto que envolveu rebanhos da raça Nelore dentre os quais existem uma maior concentração de animais da importação da Índia no período de 1960 a 1963, considerada até os dias atuais a mais importante para a formação e disseminação da raça no Brasil.

A pesquisa fornece a base para análises semelhantes em outras raças zebuínas e permite o estabelecimento de critérios para a identificação de novas linhagens, com vistas ao melhoramento genético.

 

# A seguir você poderá verificar os genearcas da raça Nelore que se firmaram em solo brasileiro.

 

Texto: adaptação da equipe CRPBZ

Fonte: MAGNABOSCO,C.de U;COORDEIRO,C.;TROVO,J.B.de F; MARIANTE,A.daS.;LÔBO,R.B.;JOSAHKIAN,L.A.;coord.Catálogo de liinhagens do germoplasma zebuíno;raça Nelore.Brasília:Embrapa-Cenargem,1997.52p.

( Embrapa-Cenargen.Documentos,23) - CDD636.0821

Importações

 

Existem indicações de que o número de zebuínos importados da Índia se aproxima de 7.000 cabeças (BRASIL, 1984) até a década de 1960. As importações ocorreram em diversas épocas, e os animais destinaram-se principalmente aos Estados do Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais.

 

De acordo com os resumos estatísticos publicados pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, 1996) - de 1938 a 1996, considerando as categorias PO e LA, foram inscritos 2.349.280 animais no Registro Genealógico Definitivo (RGD), e 4.832.468 no Registro Genealógico de Nascimento (RGN). Esta mesma publicação avalia a existência, no ano de 1994, de 457.000 animais portadores de RGD e 973.000 animais portadores de RGN, em reprodução.

 

Para se ter uma ideia do incremento populacional dos zebuínos, basta comparar o volume de importações de material genético europeu "(cerca de 800.000 animais) e indiano (cerca de 7.000 animais), com os contingentes registrados nos respectivos serviços de registro genealógico, quando se constata que o número de animais cadastrados das raças europeias é muito inferior ao número encontrado nas raças zebuínas" (BRASIL, 1984).

 

Raças

 

As raças zebuínas, originalmente introduzidas da Índia e selecionadas no Brasil, são: Gir, Guzerá, Nelore e Sindi, tendo sido aqui formadas as raças Indubrasil e Tabapuã, bem como a raça Brahman formada nos EUA. Foram ainda importados alguns exemplares da raça Cangaian, porém, até hoje, seu efetivo populacional é bastante reduzido.

 

A raça Gir teve os primeiros exemplares importados provavelmente, por volta de 1906. Entretanto, a importação expressiva que veio a influenciar o rebanho atual, data de 1920, a qual propiciou a multiplicação dos núcleos de criação ainda hoje existentes.

 

Os exemplares da raça Guzerá, que tornaram um atrativo econômico, têm origem nas importações destinadas à regiões de Cantagalo, no Estado do Rio de Janeiro, de onde se expandiu para o Estado de Minas Gerais, principalmente para as regiões de Curvelo. Posteriormente, esta raça encontrou pecuaristas interessados na sua criação no município de Uberaba, continuando a se expandir para o norte do Estado de São Paulo e daí para outras regiões. No Triângulo Mineiro, em cruzamento com as raças Gir e Nelore, deu origem à raça Indubrasil.

 

A raça Nelore pertence ao segundo grupo indiano (bovinos de pelagem branca ou cinza com cifres curtos), de acordo com a classificação de Joshi e Phillips, citados por SANTIAGO (1987). A população Nelore brasileira é oriunda das importações de 1930 e notadamente das de 1960 e 1962. Atualmente o gado Nelore brasileiro está tendendo a uma uniformização dentro do tipo Ongole indiano.

 

A raça Sindi, em muito se assemelha ao Gir do oeste da Índia, ao Sahiwal, do Punjab e ao gado vermelho do Afeganistão. Devido ao deslocamento das tribos nômades, sofreu cruzamentos com a raça Gir em algumas regiões. Os exemplares da raça Sindi que chegaram no Brasil por volta de 1906 e 1930, destinavam - se às regiões da baixada fluminense, no Estado do Rio de Janeiro, ou aos municípios de Novo Horizonte e Jardinópolis, no Estado de São Paulo, Em geral, eram animais pequenos, de bela aparência, e adequados às regiões de escassos recursos alimentares, onde seria difícil a manutenção de animais de maior porte.

 

A raça Indubrasil foi a primeira raça zebuína formada por criadores brasileiros, com base no gado importado da Índia. Inicialmente, seus pioneiros do Triângulo Mineiro deram-lhe o nome de Induberaba, sendo que somente em 1936 foi reconhecida oficialmente com o nome de Indubrasil, o qual até hoje conserva. Sua origem, embora predominantemente fundamentada nas raças Gir, Nelore e Guzerá, é obscura quanto à exata contribuição genética de cada uma das raças ou tipos zebuínos importados.

 

Segundo SANTIAGO (1984), a primeira variedade zebuína mocha, objeto de seleção no Brasil, foi a raça Tabapuã, assim denominada em razão do nome do município onde se formou no Estado de São Paulo. Fenotipicamente, este gado assemelha-se bastante ao Zebu Americano (Brahman), o que faz com que muitas vacas Brahman, quando descornadas confundam - se com a raça Tabapuã. No entanto, quando à sua composição racial, é predominantemente Nelore, com algumas características do Guzerá e traços da raça Gir.

Linhagem KARVADI

 

O genearca Karvadi (Fig. 1) foi introduzido no Brasil em 1963 pelo selecionador Torres Homem Rodrigues da Cunha, proprietário do plantel VR. Kavardi passou a ser intensamente utilizado, o que fez com que as análises efetuadas neste trabalho, apresentasse o maior Coeficiente de Parentesco Médio da população estudada. Foi um animal que, segundo seu proprietário, citado por SANTOS (1993), apresentava uma excelente caracterização racial, alta fertilidade, ossatura robusta dentre outras características desejáveis. Na tentativa de aproveitar substancialmente as características zootécnicas deste animal que já chegara da Índia com 11 anos de idade, foi inaugurado em 1968, na Fazenda Santa Cecília, um serviço de coleta de sêmen. A partir de então, Karvadi foi intensamente utilizado deixando um grande número de descendentes.


Imagem do touro indiano Karvadi, o mais importante genearca de todos os tempos. Fonte: MZ

De acordo com as informações apresentadas na Tabela 2, observa - se, no caso da linhagem KARVADI, a predominância do animal Chummak (7447) com CPMd da ordem de 7,6. Isso pode ser devido ao fato desse reprodutor ter sido bastante utilizado, além de ser pai de touros que também tiveram utilização marcante na década de 70 e início dos anos 80. Dois filhos de Chummak bastante utilizdos foram os touros Man (B 940) e Maranamu (B942). Outro descendente de grande importância na linhagem Karvadi é o touro Dumu (9637) pai de Gim (C 23) e avô de Ludy (C 6740), que apresentam DEPs e ACCs elevadas para as características de desempenho disponíveis.

 

Caracterização fenotípica - De acordo com a opinião de técnicos ligados à ABCZ, dentre as principais características fenotípicas comumente observadas em descendentes do genearca Karvadi, destacam-se:

 

Boa caracterização racial;

• Musculatura compacta, bem equilibrada;

• Constituição robusta, ossatura forte e bem equilibrada;

• Cascos grandes e resistentes;

• Características sexuais secundárias bem definidas nos dois sexos;

• Temperamento ativo;

• Úbere bem implantado com tetas reduzidas; e

• Umbigo reduzido.


Tabela 2

Linhagem TAJ MAHAL

 

O genearca Taj Mahal (Fig. 4) foi introduzido no Brasil pelo selecionador Veríssimo Costa Jr., em 1963. É reconhecido entre os pecuaristas por apresentar um excelente posterior e uma perfeita linha de dorso. Sua maior contribuição foi obtida a partir de seu principal descendente, o touro Taj Mahal I.

 

Dentre os touros que apresentaram CPMd mais elevada na linhagem TAJ MAHAL, (tabela 3), a maioria apresenta DEP positiva para os efeitos diretos no peso aos 240, 365 e 550 dias. Observa - se ainda que a maior influência genética do touro Taj Mahal I (3050) deve - se ao fato de o mesmo ser o pai de reprodutores como Pakar (B789), Iguaçu (B3145) e Tabadã (D72) e avô dos reprodutores Legat (D9289) e Bãjhol (D5488). A influência de Taj III (2977) é reforçada pelas contribuições de seu filho Marajá (A1648) e de seu neto Rastã (H4616). Este último é um touro mocho de grande contribuição nesta variedade da raça Nelore.


Taj Mahal, outro touro importado da Índia na leva dos anos de 1960. Fonte: MZ.

Caracterização fenotípica - De acordo com a opinião de técnicos ligados à ABCZ, dentre as principais características fenotípicas comumente observadas na linhagem TAJ MAHAL, destacam-se:

• Carcaça comprida;

• Boa pigmentação;

• Boa conformação de garupa, osso sacro comprido e não saliente;

• Boa inserção de cauda; e

• Temperamento dócil.


Taj Mahal

Linhagem KURUPATHY

 

Este genearca, importado pelo selecionador Rubens de Andrade Carvalho, nasceu no quarentenário do Arquipélago de Fernando de Noronha em 1963. De acordo com este selecionador, o touro Kurupathy (Fig.5) seria filho de Godhavari, fato não confirmado nos arquivos da ABCZ e, portanto, não considerado como verdadeiro, no presente catálogo. Desde então, foi intensamente por aquele selecionador, além de vários outros, produzindo, de acordo com CARVALHO (1992), principalmente fêmeas com alta fertilidade e excelente habilidade materna, além de machos com desenvolvimento precoce.

 

Analisando-se as informações apresentadas na Tabela 4, observa - se que entre os descendentes da linhagem KURUPATHY, todos os descendentes apresentam DEPs positivas para peso aos 120 dias, o que indica que touros e matrizes dessa linhagem podem ser utilizados para melhorar a habilidade materna da raça. Observa-se também que os valores de CPMd dessa linhagem são, em grande parte, devidos às suas filhas e netas.


Kurupathy, genearca indiano importado para o Brasil. Fonte: MZ.

Caracterização fenotípica - Técnicos da ABCZ, relatam que dentre as principais características fenotípicas comumente observadas na linhagem KURUPATHY, destacam-se:

• Boa conformação de garupa, com osso sacro comprido e não saliente;

• Boa linha dorso lombar;

• Temperamento dócil;

• Excelente habilidade materna;

• Fêmeas longevas e férteis; e

• Acabamento de carcaça precoce, apesar de uma musculatura não muito desenvolvida.


Kurupathy

Linhagem GOLIAS

 

Este genearca, introduzido em 1963, pelo selecionador Torres Homem Rodrigues da Cunha, talvez tenha sido, dentre os touros importados, o mais pesado. É importante lembrar que Golias (Fig.6) foi recordista de peso na Índia. Segundo José da Silva "Dico", citado por Santos (1993), este reprodutor destacava - se pela docilidade e constituição robusta.

 

Os dados apresentados na Tabela 5 indicam que, no caso da linhagem GOLIAS, nem sempre a intensidade de utilização do touro correspondeu diretamente aos valores das estimativas de suas DEPs. Os resultados sugerem que GOLIAS pode ter sido utilizado mais na obtenção de fêmeas que, por sua vez, não deixam um grande número de descendentes. Isto parece ter sido agravado pelo fato de, aparentemente, suas filhas terem sido pouco utilizadas para a obtenção de machos. É importante observar que o touro Faulad (7955), com maior CPMd da linhagem Golias, apresenta valores de DEP positivos para peso aos 240, 365 e 550 dias, bem como, para perímetro escrotal aos 365 e 550 dias.


Esta imagem é do genearca Golias, cuja linhagem é muito recorrida até os dias atuais. Fonte: MZ

Caracterização fenotípica - De acordo com a opinião de técnicos ligados à ABCZ, dentre as principais características fenotípicas comumente observadas em descendentes do genearca Golias, destacam - se:

• Constituição robusta e ossatura forte;

• Temperamento dócil;

• Acabamento de carcaça precoce, com musculatura bem desenvolvida;

• Boa habilidade materna;

• Bom arqueamento de costelas com tórax amplo; e

• Alta rusticidade.

 


Golias

 

* Acesse esta pesquisa na íntegra clicando no arquivo:

Sobre alguns animais de referência da linhagem do touro indiano Kavardi, assista a seguir ao documentário - "Torres, Dico & Karvadi: Uma História Real", dividido em duas partes. Este trabalho foi produzido pela empresa Agroquima com direção do documentarista Wagner Indaiá, contando com a consultoria do Gerente Executivo e Historiador do Museu do Zebu - Thiago Riccioppo.


Vídeo - Torres, Dico e Karvadi: Uma História Real - Parte 01 e 02. Imagem: Divulgação.

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