Joaquim Carlos Travassos, um importante selecionador do Nelore
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Memórias do Zebu » Importações de Zebu para o Brasil » Segunda Fase (1875 - 1891)
Publicado em 24/06/2015 às 15:48:15
- atualizado em 28/11/2016 às 18:01:42
Joaquim Carlos Travassos nasceu no município de Angra dos Reis - RJ, na fazenda Longa de Ilha Grande em 1839, propriedade de seus pais Cel. Pedro José Travassos e D. Emília Rita Travassos. De uma extensa família composta por sete irmãos, sendo quatro homens e três mulheres, o jovem Travassos, ingressou com apenas 17 anos na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Em 27 de novembro de 1862, após concluir os estudos preparatórios na presença de Suas Majestades Imperiais, recebeu o grau de Doutor. No ano seguinte, casou-se com Maria Antônia de Oliveira, que deu à luz duas de suas filhas.
Fluente em inglês e francês, Travassos é reconhecido como um dos introdutores da doutrina espírita kardecista no Brasil, sendo a ele atribuídas as primeiras traduções das obras do médium francês Allan Kardec - O livro dos Espíritos, 20ª edição francesa; o Livro dos Médiuns, 12ª edição francesa e o O Céu e o Inferno, obra traduzida da 4ª edição francesa, ambas publicadas em 1875. Os estudiosos do espiritismo, como (WANTUIL, Zêus) em Os Grandes Espíritas no Brasil - (1969) atribuem a Travassos a doação ao amigo, o médico Adolfo Bezerra de Menezes, do "Livro dos Espíritos" que, atraído à doutrina, veio a se tornar um dos maiores divulgadores da religião.
Com o advento da República, Travassos foi eleito senador na primeira Legislatura do Estado do Rio de Janeiro durante o curto período de existência daquela Casa Legislativa. Na sessão extraordinária de 28 de agosto de 1891, apresentou o projeto de Lei que buscava regulamentar a colonização e imigração no Brasil, argumentando a necessidade de seleção do elemento colonizador. Após a queda de Deodoro da Fonseca, decorrente da tentativa frustrada do golpe de 3 de novembro de 1891, são dissolvidos o Governo e a Assembleia do Estado fluminense. A partir de então abandona a vida pública, dedicando-se com energia e entusiasmo à pecuária e à agricultura. Publicou pela editora Altina a obra Monographias Agrícolas: Forragens Nacionais (1903).
A ascensão de Joaquim Carlos Travassos na pecuária o levou a ser conhecido no início do século XX como o "campeão do zebu" (SANTIAGO, 1972, p. 95). Ao descrever as características de algumas das raças indianas, fomentou certo tipo de publicidade que, futuramente, foi capaz de incentivar o interesse dos pecuaristas pela pecuária zebuína no Brasil. Os animais importados vinham com registro de pureza de raça garantido por um veterinário do Colégio de Agricultura de Madras. Atento acompanhador da introdução e adaptação do gado zebu no Brasil, Travassos consolidava no mercado brasileiro a garantia e a qualidade dos animais de procedência do Posto de Madras.
Por intermédio da casa importadora Crashley & Co., promoveu e indicou duas importações significativas da Índia - a primeira diz respeito a um casal de Nelore adquirido em 1904 no Posto zootécnico de Madras, onde esses animais foram vencedores do primeiro concurso de gado realizado nessa localidade. Quando desembarcados no Rio de Janeiro, os bovinos foram exibidos a inúmeras pessoas na cocheira Moreau, onde posteriormente foram levados para a fazenda do criador em Passos; a segunda importação, novamente do Posto de Madras, apresentou a Miguel Calmon Du Pin e Almeida em 1905 outro casal de Nelore, o qual acabou sendo vendido ao criador baiano Comendador Manoel de Souza Machado, proprietário da antiga Usina Capimirim.
Em artigos publicados na obra Monographias Agrícolas (1904), Travassos avaliava que o gado zebu adaptava-se perfeitamente ao Brasil devido, em partes, à semelhança do clima local com a Índia, motivo pelo qual defendia a adoção de raças zebuínas no país em detrimento das espécies europeias, pois justificava que os animais de climas temperados degeneravam-se com mais facilidade em climas tropicais. Em seus trabalhos técnicos, tornou-se árduo defensor da "zebuização" para qualificar o rebanho nacional através do cruzamento do zebu com o gado crioulo. Entendia que o Nelore seria a raça mais promissora para o Brasil, como se pode observar em um de seus registros feitos na impressa especializada no ano de 1907, quando afirma que,
" (...) em toda Índia onde existiam mais de 40 variedades de Bos Indicus, há pelo desleixo, tantas variedades inferiores quanto Estados".
(TRAVASSOS, Apud. SANTIAGO, p. 96)
Em relação ao gado importado para o criador baiano Comendador Manoel de Souza Machado, proprietário da Usina Capimirim, o pesquisador Alberto Alves Santiago na obra O gado Nelore (1972) comenta que,
(...) O gado vinha acompanhado de certificado passado por veterinário do Colégio de Agricultura de Madras, informando serem considerados como exemplos puros da raça Nelore. O touro tinha 4 anos e recebeu o nome de Cacique; era cinzento, como manchas escuras. A vaca era branca, tendo pouco mais de 2 anos, mas já vinha fecundada e passou a ser chamada Araci; deu cria a uma bezerra, talvez a primeira dessa raça nascida na Bahia, à qual foi dado o nome de Itabira. (SANTIAGO, 1972, p: 95)
Texto e pesquisa: Thiago Riccioppo, Historiador, Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU; Gerente Executivo do Museu do Zebu/ABCZ e colaborador do CRPBZ.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU