Miguel Calmon Du Pin e Almeida, além de Ministro da República era criador de zebu no Rio de Janeiro
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Memórias do Zebu » Importações de Zebu para o Brasil » Terceira Fase (1898 - 1921)
Publicado em 14/07/2015 às 08:33:40
- atualizado em 28/11/2016 às 18:30:13

Numa ocasião em que estivera na capital da República, no Rio de Janeiro, o criador baiano comendador Manoel de Souza Machado, então proprietário da Usina Capimirim no Recôncavo Baiano, teve acesso aos materiais de uma campanha feita em favor da importação de zebu. O adendo era estimulado pelos zootecnista Joaquim Carlos Travassos que, em colaboração de Antônio de Medeiros, editor do Jornal dos Agricultores, desenvolviam neste jornal.
Animado ante as informações sobre as raças zebuínas, o comendador encomendou a seu amigo pessoal e conterrâneo, o ministro Miguel Calmon Du Pin e Almeida, a compra de exemplares destes animais na Índia, haja vista que o mesmo seguia para o Oriente juntamente com o criador mineiro Teodureto do Nascimento. Segundo Alberto Alves Santigo (1972),
A caminho de Java, o ilustre estadista deteve-se em Madras, onde comprou pela importância de 900 rúpias dois esplêndidos exemplares que, pelo certificado oficial de técnico do Colégio de Veterinária daquela cidade indiana, possuíam todos os característicos da raça. Aproveitando a oportunidade, Miguel Calmon adquiriu mais quarto casais, a razão de 250 rúpias cada um, destinados ao governo de seu estado, que revendeu a criadores particulares. Apesar da viagem de três meses, da Índia à Bahia, chegaram perfeitamente bem; o touro recebeu nome de Cacique e a vaca Araci. Esta sendo fecundada deu a cria a 24 de dezembro de 1906 a Itabira, primeira bezerra nelore pura a nascer naquele Estado.
(SANTIAGO, 1972. p. 155)
Numa das publicações de Travassos, o zootecnista comenta,
(...) Dos zebus de Capimirim, estamos convencidos, vai sair uma família bovina do mais alto renome; se mais do que tudo, operar uma seleção rigorosa e proporcionar aos animais uma alimentação substancial e farta, dentro de poucos anos poderá ter espécimes nacionais, baianos, do mais alto mérito, dignos de serem examinados e admirados por todos.
(TRAVASSOS, apud. SANTIAGO, 1972. p. 155)
Dados biográficos do Ministro Miguel Calmon Du Pin e Almeida*:
Casou-se com Alice da Porciúncula Calmon du Pin e Almeida. De 15 de novembro de 1906 a 18 de julho de 1909 foi Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Indústria, Viação e Obras Públicas, do Governo Afonso Pena e depois de Nilo Peçanha. Retornou ao Governo, agora sob a presidência de Artur Bernardes, como Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio, de 16 de novembro de 1922 a 15 de novembro de 1926.
Denunciou os crimes do governo Floriano Peixoto contra o proletariado brasileiro durante a Primeira República, Diz o Ministro Calmon du Pin e Almeida: "No governo Floriano Peixoto decretou-se o desterro de várias pessoas de notoriedade nacional para Cucui e Tabatinga. Depois da revolta de 14 de novembro de 1904, Fizeram-se deportações larga manu para a Amazônia, não se sabendo até hoje o paradeiro das centenas, senão milhares, de indivíduos largados ao abandono, sem alimentação nem assistência médica, nas margens dos rios do território do Acre, considerado então região mortífera por excelência. (Ministro da Agricultura Miguel Calmon du Pin apud PINHEIRO, 1999, p. 88). Livro "Estratégias da Ilusão"
"Os amotinados foram rapidamente varridos da praça, indo os mais audazes e cabeçudos entrincheirar-se no velho bairro da Saúde, perto das obras do porto, onde, cercados pela infantaria do Exército e bombardeados pela artilharia da esquadra, tiveram que render-se à autoridade. O governo mostrou-se então de uma severidade deveras espantosa para com a gente miserável do Rio de Janeiro. Sem direito a qualquer defesa, sem a mínima indagação regular de responsabilidade, os populares suspeitos de participação em motins daqueles dias começaram a ser recolhidos em grandes batalhas policiais. Não se fazia distinção de sexo nem de idade. Bastava ser desocupado ou maltrapilho e não provar residência habitual, para ser culpado. Conduzidos para bordo do Lloyd Brasileiro, em cujos porões já se encontravam, a ferros e no regime da chibata, os prisioneiros da Saúde, todos eles foram sumariamente expedidos para o acre."
(Ministro Miguel Calmon du Pin e Almeida, apud PINHEIRO, p. 89-90). Livro "Estratégias da Ilusão".
Em 1936, sua viúva transfere da mansão dos Calmon, na rua São Clemente, em Botafogo para o Museu Histórico Nacional todo um conjunto completo de obras de arte, móveis, tapetes, documentos, fotografias e bibliotecas que ficou conhecido como "Coleção Miguel Calmon". A mostra nos passa a ideia do estilo de vida dos poderosos da Primeira República.
*Biografia: Cpdoc - FGV
Texto e adaptações: Thiago Riccioppo, Historiador, Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU; Gerente Executivo do Museu do Zebu/ABCZ e colaborador do CRPBZ.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU