O paulista Philippe Aché era médico de formação. Morador de Ribeirão Preto, veio para Uberaba em 1899 a convite de Tobias Rosa, proprietário do Jornal Gazeta de Uberaba. Foi vereador e em seguida agente Executivo deste município entre os anos de 1909 a 1911. Após sair de Uberaba foi para São Paulo e fundou o conhecido laboratório de medicamentos Aché.

Quando Agente Executivo, suas principais obras foram: encarregou a Hildebrando Pontes de realizar o levantamento estatístico do município; calçamento da Rua do Comércio (atual Arthur Machado); criação da lei que regulamentava as construções; construção da Praça Comendador Quintino; fundação da Biblioteca Municipal Bernardo Guimarães (Lei 231 de 08 de abril de 1905), entre outras ações.

No contexto de seu governo, a principal atividade econômica de Uberaba estava efetivamente se tornando a ser a criação de gado zebu e a agricultura, uma vez que as fontes econômicas que adivinham de atividades comerciais que se realizavam na região sofriam um forte declínio, em contraposição a tomada de comando dessas atividades pela praça de Mato Grosso.

(REZENDE, 1991. passim).

Com Hildebrando Pontes, Felipe Aché organizou a primeira exposição agropecuária promovida pela municipalidade em Uberaba no ano de 1911, com apoio do governo do Estado e do presidente da Sociedade Mineira de Agricultura, Dr. Fidélis Reis. Essa feira marcou profundamente a história da pecuária zebuína. Construíram-se para ocasião, belos estandes no "Alto do São Benedito". Uberaba recebeu pela primeira vez, a visita de um presidente do Estado de Minas Gerais, o Sr. Júlio Bueno Brandão que veio acompanhado do secretario de Agricultura José Gonçalves de Souza, de deputados e outras autoridades.

Em 1910 o Ministério da Agricultura realizou a maior importação do gado zebu até o momento, foram cerca de 620 cabeças que entraram no país naquele ano, vindos da Índia, segundo dados registrados no Anuário Estatístico do Comércio Exterior, publicados pelo Ministério da Fazenda no referido ano. Quanto ao assunto, André Weiss em Os grandes reprodutores indianos no Brasil (1956) diz,

"(...) grande parte desse contingente foi desembarcado em Santos, com destino a Uberaba; alguns exemplares haviam ficado no Rio de Janeiro, adquiridos por criadores da Zona da Mata, de Minas"

(WEISS, 1956 p. 50).

Mais a frente Weiss (1956) refere que o Ministério da Agricultura manteve a política favorável a importação de zebuínos, sendo que, em certos momentos, patrocinou algumas importações. O pesquisador deduz através do relatório apresentado pelo ministro da agricultura Pedro de Toledo que, esta importação de 1910 tenha sido realizada com auxílio do governo federal, pois neste documento consta a relação dos animais importados.

Em média, cada criador recebeu do Ministério da Agricultura entre 3 a 10 animais. Sendo que alguns desses foram: Ovídio Irineu de Miranda, Alberto Prata, João da Silva Prata, Manoel Prata Jr., Vigilato Cruvinel, Hermógenes Gomes da Silva, Delfino Gomes da Silva, Antônio Valim de Melo, Sebastião da Costa, Lauro Borges e Osório da Silva Oliveira, todos de Uberaba; Braz Martins Borges, Alcebíades Lemos de Ávila, Felinto Antônio Cortes, Inocêncio Martins Ferreira, João e José Cortes, de Araxá; Otaviano Borges e Adolfo Martins Borges de Sacramento. No estado do Paraná o fazendeiro Bertino Lobato de Miranda, recebeu 10 animais para o seu rebanho.

O uberabense Felipe Aché foi integrante dessa viagem patrocinada pelo governo. Além do gado, sob encomenda ao Ministério da Agricultura, trouxe também um lote para especificamente para a firma Alexandre Campos & Cia de Uberaba.

Autor: Thiago Riccioppo, Historiador, Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU; Gerente Executivo do Museu do Zebu/ABCZ e colaborador do CRPBZ.