Coronel José Caetano Borges, um pioneiro em favor do "Induberaba" no Brasil
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Memórias do Zebu » Importações de Zebu para o Brasil » Terceira Fase (1898 - 1921)
Publicado em 13/08/2015 às 16:50:01
- atualizado em 29/05/2017 às 18:01:09
O coronel José Caetano Borges, chamado pelos amigos íntimos de "Zeca", nasceu em Uberaba em 03 de outubro de 1873, filho do agropecuarista coronel Antônio Borges de Araújo e de D. Maria Brígida de São José Borges. O pai foi um dos pioneiros na introdução do zebu na região e reconhecido como o criador que um dia fora proprietário do lendário "Touro Lontra", um dos primeiros exemplares puro a adentrar oficialmente no município de Uberaba, em meio à uma recepção calorosa e festiva da população, animada com banda de música e outros atrativos solenes.
Católico fervoroso, José Caetano Borges era um sujeito disciplinado e metódico. Destacou-se no mundo dos negócios, principalmente ao dedicar-se à sua paixão maior - a pecuária. O coronel era lembrado pelo charme cavalheiresco dos princípios e os trajes sempre impecáveis - mesmo quando lidava com a vida no campo o terno era seu parceiro inseparável. Amante das artes e da poítica, fazia viagens constantes pelo mundo, não se privavando de luxo e outros requintes culturais. Vivia no monumental casarão na Rua Tristão de Castro, conhecido posteriormente como Palacete José Caetano, que, entre os anos de 2006 a 2012, tornou-se sede oficial da Fundação Cultural de Uberaba.
O contato da família Borges com o zebu teve início através dos irmãos Zacharias e Antônio Borges de Araújo (o pai), quando se conheceram no ano de 1889 na fazenda de Manoel Ubelhart Lemgruber, em Sapucaia/RJ. Ao observar gados exóticos e "que nunca haviam visto antes", foram informados de que se tratavam de animais da raça zebu, originária da Índia. Pecuaristas que eram, interessaram-se prontamente em comprar o tipo e, ante a recusa do proprietário em vendê-lo, souberam que em uma fazenda próxima, entre os municípios de Leopoldina e Entre Rios, de propriedade do Dr. José Lontra, conhecido nas redondezas como médico particular do Imperador D. Pedro II, existiam animais como esses, sendo muitos deles "puros", inclusive.
Animais selecionados na Índia em 1906 por Ângelo Costa sob encomenda do criador de Uberaba José Caetano Borges. Fonte: MZ.
Desse modo, com o apoio de Joaquim Veloso de Rezende compraram dois reprodutores que, ao chegar a Uberaba em 15 de novembro de 1889 (data da Proclamação da República), um deles recebeu o nome de Lontra, então sobrenome do médico da Corte. Seguindo a iniciativa de seu pai, José Caetano Borges trabalhou para formar seu plantel de gado indiano, apesar de ter enriquecido como empresário no ramo agroindustrial. Cosmopolita, "Zeca" e sua família mantinham regularmente vínculos culturais com a Europa e, em uma dessas ocasiões, permaneceram no velho continente por oito meses.
Tornou-se membro da famosa Guarda Nacional, quando, através do decreto assinado pelo presidente da República Hermes da Fonseca, recebeu o título de Coronel comandante da 230º Regimento da Cavalaria da Comarca de Uberaba, juntamente com Joaquim Machado Borges. Como outros pioneiros na criação de Zebu no Brasil, o Coronel tornou-se rapidamente um dos maiores importadores e criadores de zebu em seu tempo. Homem afeito ao mundo dos negócios, era proprietário da Fábrica de Tecidos Cassu, em Uberaba, além de ser um dos sócios majoritários das "Docas de Santos", o principal porto internacional de intercâmbio mercantil do sudeste brasileiro.
José Caetano Borges e sua esposa Cherubina Machado Borges com os filhos João, Antonio e Silvio na Praça de São Marcos em Veneza. s/d. Fonte: Família Borges.
As primeiras importações efetivas que introduziram levas de zebuínos indianos em Uberaba ainda reportam ao fim do século XIX. Mais precisamente entre os anos de 1904 e 1921, foram importados cerca de 45 animais, na totalidade de 5.500 cabeças. Dentre os primeiros importadores, estavam os membros da família Borges.
Ao criar a empresa de importação Borges & Irmãos liderada por José Caetano Borges, houve a ida a Índia do português radicado em Uberaba, Ângelo Costa, entre os anos de 1905/06. O sucesso da entrada de 49 reprodutores de raças Guzerá, Gir, Killari e Nelore foi arrebatador. Tal feito incentivou Ângelo Costa a retornar ao distante continente asiático em 1907 e trazer novos animais que, contudo, foram vendidos avulsos a muitos criadores da região do Triângulo Mineiro.
Imagem do touro Lontra adquirido por Zacharias e Antônio Borges de Araújo em 1889. Provavelmente o primeiro zebuíno puro que chegou a Uberaba. Fonte: MZ.
Foi em meio a esse contexto, para expor, divulgar e negociar um dos primeiros plantéis de zebu no Brasil, além de outras raças, que o Coronel promoveu nas lendárias terras da fazenda Cassu, a primeira exposição de gado de Uberaba realizada no ano de 1906. Depois dela, muitas outras viriam a contribuir para a vocação pecuarista da cidade e região durante os primeiros anos do século XX.
O Coronel José Caetano Borges também foi um dos principais responsáveis pela formação da raça Indubrasil, então considerada a primeira do tipo puro a surgir no Brasil. Ele almejava que o nome desse novo zebu fosse definido como "Induberaba", casusando o descontentamento daqueles que criavam a raça em outras regiões. Por esse motivo, em 1936, a classe ruralista em torno da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro - SRTM experimentou a primeira cisão entre os interesses partidários.
Segundo queriam os divergentes, o nome "Indubrasil" seria uma opção mais abrangente. Além de Uberaba, o novo gado era criado em outros municípios, como o sul de Minas e o interior paulista, que também reivindicavam a parte que lhes cabiam por direito na divulgação e adaptação da novidade. O que pode ser verificado alguns anos antes, pois as divergências quanto a essa questão foram registradas em ata da reunião da Sociedade Herd Book Zebu realizada no dia 04 de agosto de 1929, por exemplo.
Superado o problema, não é difícil entender a contribuição do Coronel José Caetano Borges foi incontestável para a trajetória da introdução e fixação da raça no Brasil. Os negócios envolvendo o crescimento do rebanho bovino nacional, e outras atividades agroindustriais, incentivaram o princípio "associativista" aos criadores, tornando-o indispensável para o fortalecimento da pecuária zebuína.
Ele esteve presente nas principais transformações que implicaram a transição da Sociedade do Herd Book Zebu para a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro - SRTM em 1934 (a futura Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - ABCZ de 1967), além de ser considerado protagonista essencial nos momentos fundamentais da história da pecuária zebuína. Sua biografia merece ser aprofundada, dada à amplitude dos registros históricos (documentos, bilbiografias, fotografias, entre outros) que o mencionam e que permitem ir muito além do que aqui foi tratado.
Família Caetano Borges em montagem fotográfica do início do século XX. Acervo: MZ.
Superado o problema, não é difícil perceber que a contribuição do Coronel José Caetano Borges foi, entre tantos aspectos, incontestável para a trajetória da introdução e fixação das raças de Zebu no Brasil. Os negócios envolvendo o crescimento do rebanho bovino nacional, e outras atividades agroindustriais, incentivaram o princípio "associativista" que faltava aos criadores, tornando-o indispensável para o fortalecimento da pecuária zebuína no século XX.
Ele esteve presente nas principais transformações que implicaram a transição do Herd Book Zebu para a SRTM (ou futura ABCZ, a partir da década de 1960), além de ser considerado protagonista essencial nos momentos clássicos e definitivos da história da pecuária zebuína. Sua biografia merece ser aprofundada, dada à amplitude dos registros históricos (documentos, bibliografias, fotografias, entre outros) que o mencionam e que permitem ir muito além do que aqui foi tratado.
Autor: Thiago Riccioppo, Historiador, Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU; Gerente Executivo do Museu do Zebu/ABCZ e colaborador do CRPBZ.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU