O fim do embargo dos EUA à carne brasileira, marco importante para a história da pecuária nacional Voltar

Você está em: A Força do Agronegócio » Destaques Publicado em 21/07/2015 às 16:42:56 - atualizado em 24/07/2015 às 15:27:38
Logo oficial da Embaixada Americana no Brasil. Foto: brazil.usembassy.gov

Obama tornou-se o anfitrião da Casa Branca que mais tempo recepcionou um presidente brasileiro. O balanço foi feito pelo Jornal Folha de S. Paulo, em matéria recente publicada na primeira semana de junho. Importa aqui não apenas medir créditos, e sim colocar em questão o momento presente, onde quem ocupa o palco é o famoso "a hora é agora!". Com ceticismo ou não, a aproximação é bem vista pelos olhos do mercado financeiro nacional.

Voltemos à visita. O pretexto prometia ser tímido diante do quadro anêmico ao qual o cenário político brasileiro se encontra. Enquanto os EUA se recuperam da crise econômica, o Brasil vê aumentar a "marola" anunciada por Lula em mandato anterior. Além disso, uma recente retaliação do Itamaraty deixou Obama numa situação incômoda - ano passado o encontro foi adiado depois de vir à tona um esquema de espionagem segundo o qual Washington vigiava, entre outros líderes, a própria presidente. Desfeito o nó, o assunto foi dado como superado em nota publicada oficialmente por ambos os governos.

 

A presidente permaneceu nos EUA entre os dias 27 de junho a 02 de julho deste ano. Ela, que foi militante estudantil durante o Regime Militar no país, esteve lado a lado no último dia com ninguém menos que Henry Kissinger, ex-Secretário de Estado e "homem forte" do presidente Nixon - polêmico pela proximidade mantida com diversas ditaduras latino-americanas na década de 1970. Em reunião com o alto escalão do empresariado estadunidense, entre eles, o magnata das comunicações - Rupert Murdoch, Kissinger defendeu que a política externa americana para o hemisfério ocidental tenha o Brasil como "elemento chave".

 

Segundo assessores, a presença tímida de Dilma em meio à paisagem solene da ocasião foi um gesto apropriado para demonstrar vontade em mudar os rumos da política econômica brasileira. O resultado foi considerado positivo, apesar de ser recebido com certa cautela pela crítica, agora inflamada pelo calor pessimista da Operação Lava Jato na Petrobras. Basta lembrar que no penúltimo encontro ocorrido em 2012, a atmosfera permaneceu carregada de promessas concretas, porém um tanto vagas em imaginação.

 

O zeitgeist econômico dava sinais de recuperação acolá, mas permanecia cheio de interrogações por aqui. Se a "Política da Boa Vizinhança" algumas vezes não se portou como deveria em outros tempos, o momento agora é diferente. As declarações de apoio mútuo trocadas com aparente espontaneidade, e com peso inegável no jogo de cena global, mudaram esse saldo. E para melhor, dependendo das circunstâncias e das perspectivas que, no momento, ainda não podem ser avaliadas com precisão.


Obama e Dilma em encontro na Casa Branca no dia 27 de junho de 2015. Foto: noticias.uol.com.br

O calor do momento

 

Para muitos cientistas políticos, o Brasil é para os EUA um personagem que emerge no próprio "quintal", cuja liderança regional ganhou eco global recentemente ao firmar-se, até o final da era Lula, como um país em crescimento contínuo e acelerado. Mesmo sabendo das intempéries, ao declarar confiança no país Obama transfere certo peso político a uma presidente que atinge índices críticos de impopularidade, mas que obtêm equilíbrio democrático distante do sopro esquerdista que atinge a postura de alguns países da América Latina há tempos.

 

E sim, os EUA possuem aliados mais importantes - o que não torna o protagonismo brasileiro menos relevante em questões globais essenciais, como clima, saúde, agronegócio, crimes transnacionais e governança da internet. Da mesma forma, o mercado nacional pode ter a China como seu maior cliente comercial atual, mas jamais poderá desprezar a superpotência onde vive cerca de um milhão de conterrâneos e que chega a comprar 13% de suas exportações, segundo dados do governo avaliados e mencionados pela Folha em artigo publicado recentemente.

 

Sobre o fim do embargo à carne in natura

 

Mesmo com a retração da economia, a participação do agronegócio foi recorde nas exportações brasileiras em maio de 2015, alcançando 51,5%. O valor atingido foi de US$ 8,64 bilhões, o que representa uma queda de 10,5% em relação a maio de 2014. Já as importações somaram US$ 1,03 bilhão no período. Os números constam da balança comercial da pasta, divulgada no mesmo mês pela Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

 

Os EUA é atualmente o segundo maior parceiro comercial do Brasil, além de ser considerado a principal aposta para melhorar o desempenho do comércio exterior brasileiro. Avaliando o acordo que permitirá a abertura dos EUA à carne in natura brasileira, o saldo pode ser ainda melhor no próximo ano. Espera-se, ao menos, que a estimativa deva alcançar a venda de 40 toneladas anuais, segundo a ABIEC (Indústrias Exportadoras de Carnes). "Um impasse que durava 15 anos chegou ao fim", comemora o MAPA.

 

Analisando dados recentes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), a fatia ocupada pelas mercadorias brasileiras caiu na União Europeia, na China, na Argentina e no Japão. Somente nos Estados Unidos houve crescimento significativo. Trata-se de uma diferença considerada grande frente ao perfil das vendas feitas para a China, que, como foi dito anteriormente, é o principal parceiro comercial do "mulato inzoneiro".

 

Um acordo que viabilizará a padronização de normas técnicas entre os dois países também está sendo costurado através de memorando firmado durante a visita oficial. Para as medidas que envolvem as exigências impostas pelos EUA à compra de gêneros alimentícios no exterior, consideradas historicamente austeras em todo o mundo, o quadro deverá ser promissor. Uma vez estabelecida tal adequação, a credibilidade do Brasil em relação a outros mercados tenderá aumentar, claro.

 

Segundo fontes oficiais do governo, na prática, o Serviço de Inspeção de Sanidade Animal e Vegetal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) já sinalizou de forma positiva para que as exportações efetivamente comecem, mas promete que irá avaliar a equivalência dos programas de sanidade do Brasil com os dos EUA, além de realizar uma auditoria presencial nos sistemas de segurança alimentar do país. E tudo isso levará tempo, dependendo da ação e participação enfática dos órgãos responsáveis.

 

Quase ao mesmo tempo, a Argentina - que, como o Brasil, recebeu sinal verde do mercado para concorrer com a mesma oferta aos EUA - também resolveu derrubar o embargo à carne bovina brasileira. Conforme noticiou a imprensa, a China, por sua vez, habilitou oito frigoríficos do país para exportação de carne bovina, suspensos desde um embargo imposto pelo país asiático em dezembro de 2012. Com base em expectativas alinhadas com o Guia de Comércio Exterior e Investimento (Brasil Export), o gigante asiático deverá ser o próximo parceiro em potencial.


Gráfico sobre as importações dos EUA e Brasil até o ano anterior (2014). Fonte: Folha/USDA.

Entre os países com mercado propício à demanda estão o Japão, Taiwan e a Coreia do Sul, até porque os mesmos seguem as determinações norte-americanas nas importações de carne. Segundo o MAPA, o governo age para que a Arábia Saudita seja o próximo comprador de peso do gênero. Não obstante, as expectativas para a indústria do ramo são pra lá de animadoras. Os índices do Risco-país, segundo estimativas do mercado, foram impactados positivamente após a notícia.

 

O Brasil empenha-se em agir rápido e em consonância com o desempenho favorável do momento para não perder as oportunidades. Conquistas como essa são costuradas com tempo e persistência. E o ramo dos alimentos é algo que jamais deixará de ser prioridade nas relações comerciais do globo. Em nota oficial, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, afirmou que quer abrir novos mercados para a carne brasileira ao longo do próximo semestre, após considerar que a decisão do Governo Barack Obama dá "uma senha" para o acesso a demais localidades.

 

As especulações do mercado financeiro, além de outras considerações relacionadas à indústria alimentícia e, em especial o agronegócio, devem ponderar que um primeiro e importante passo foi dado de modo a deixar marcas sólidas pelo caminho - ou tanto quanto àquelas que estão eternamente em evidência na "Calçada da Fama" em Hollywood. Em momentos difíceis para o cenário político, é possível que hajam aqueles que recebam a notícia com descrédito e cautela. Muito embora, não há como negar que, desde o momento, é sim um marco importante para a história da pecuária nacional.

 

Fontes: ABCZ, MAPA, Folha de S. Paulo, Canal Rural, Carta Capital, Embaixada Americana (Brasília), Apex Brasil, BeefPoint, Abiec.

 

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