João de Abreu Júnior, um especialista em Guzerá puro desde o final do século XIX Voltar

Você está em: Memórias do Zebu » Importações de Zebu para o Brasil » Terceira Fase (1898 - 1921) Publicado em 24/07/2015 às 15:06:18
João de Abreu Júnior, em fotografia do início do século XX. Acervo: MZ, 2015.

João de Abreu Júnior nasceu em Portugal, na Ilha de Madeira, em 29 de maio de 1869, filho de João de Abreu e de D. Maria de Jesus Freitas. Quando tinha oito anos imigrou para o Brasil, acompanhando um tio. Era de família humilde que sempre lidara com gado e pequenas construções em geral. Como todo imigrante, começou a vida dando duro no trabalho - aprendeu o ofício de pedreiro, cantaria e alvenaria. Aos poucos, absorveu os bons ventos advindos do impulso dado pela República Velha às obras de infraestrutura nos centros urbanos.

A partir de 1888 a escravidão foi abolida, onde os serviços nas fazendas passaram a ser remunerados. Em meio às dificuldades, a lavoura de café entrou em crise e o valor das propriedades rurais caiu. O ensejo, no entanto, tornou-se favorável àqueles que vieram para o Brasil em busca de oportunidades. João de Abreu conseguiu adquirir uma pequena fazenda onde começou a vender madeira e dedicar-se à pecuária comprando animais para abate e revendendo-os aos abatedores. Em pouco tempo, destacou-se nos negócios de compra e venda de gado nas principais capitais brasileiras.

 

"(...) Em uma de suas andanças notou que os animais mais pesados eram da cor cinza, chifres longos, e que davam origem a bois de carros enormes e fortes. Soube que eram mestiços de guzerá e decidiu criar esta raça. João trabalhou arduamente e, com muita economia, conseguiu, em 1893, comprar a fazenda do Fundão, em Cantagalo. Dedicou-se a comprar vacas leiteiras que tivessem bom tamanho. Passou a incorporar mais sangue zebuíno em seu rebanho leiteiro, procurando animais com maior resistência às doenças e pastagens pobres. Fabricava manteiga e queijo que eram de estocagem e transporte mais seguro. Plantava lavouras e mantinha cafezais, num trabalho árduo e constante. Logo possuía vários açougues próprios ou em sociedade, nas grandes cidades e em Niterói. Todo o lucro aurífero era aplicado na compra de animais zebuínos.

 

PRATA, Hugo. Zebu: Visionário e Pioneiros. Uberaba: ABCZ, 2014, p. 161.


Publicidade do zebu, publicação no Rio de Janeiro. Acervo: MZ.

Quando a zootecnia nem havia pensando em lançar suas bases científicas no Brasil, João de Abreu começou a trabalhar por intuição dando início ao empreendimento próprio de escrituração zootécnica. Decidiu criar animais puros em 1895 na Fazenda Ribeirão Dourado, então propriedade do Barão das Duas Barras, adquirindo um lote de novilhas e o "touro Gladiador" - seu primeiro puro-sangue guzerá. A base inicial do rebanho seria formada em pouco tempo com a aquisição de algumas vacas, com destaque para o "touro Sultão", um filho de zebuínos importados da Fazenda Chave do Lontra, de propriedade do médico Dr. Lontra.

 

Segundo o pesquisador Hugo Prata, em 1911 o rebanho atingiu a marca de 300 animais, sendo 150 vacas parideiras, 100 novilhas e 51 machos, havendo entre eles animais puros indianos (a maioria) e mestiços. Mas um fato interessante marcou a história da introdução do zebu em Uberaba - a aquisição do "touro Pavilhão", que foi levado à cidade por Segismundo Mendes dos Santos. O guzerá foi comprado durante a Primeira Exposição Nacional do Rio de Janeiro em 1917, tornando-se pouco tempo depois um dos mais importantes genearcas da raça na região ao receber diversos prêmios.


Publicidade do zebu, publicação no Rio de Janeiro. ACERVO: MZ.

Em alguns anos, João de Abreu alcançou destaque e prestígio entre as oligarquias brasileiras da época. Chegou a adquirir a Fazenda Itaoca, que era considerada uma relíquia para aqueles que se dedicavam com paixão ao mundo propício do agronegócio naquela conjuntura. Ao tomar posse das terras em 1918, rapidamente fez nascer ali um povoado considerável, com direito a armazéns, destilaria, escola, cocheiras, estábulos, capela e outros espaços similares àqueles que existiram nos tempos clássicos da Política do Café-com-Leite.

 

Amigo dos importadores Manoel Caldeira Jr. e Pedro Santerre Guimarães, que lhes vendera animais indianos autênticos e genuinamente escolhidos ainda no convés do navio, logo tratou de especializar-se como criador apenas de zebu puro em todo o seu rebanho. Destacava-se no meio por incorporar no trato dos animais algumas técnicas avançadas como a adoção de banheiros carrapaticidas, balança de pesar leite, gerador hidráulico de eletricidade, moinho, entre outras "geringonças" avançadas para a época.

 

O pesquisador Alberto Alves Santiago escreveu em uma de suas obras bibliográficas que "o rebanho da Fazenda Itaoca era considerado o mais puro do país e o que mais se assemelhava à raça indiana Kangrej. Foi formado unicamente por animais trazidos da Índia". Segundo Hugo Prata, um dos maiores méritos de João de Abreu foi o de manter puro o seu rebanho guzerá, quando todos os criadores de zebu cruzavam a raça com o nelore para obter o indubrasil.

 

Autor(a): Mimi Barros é professora, educadora, historiadora do Museu do Zebu/ABCZ e colaboradora do CRPBZ.


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