Ângelo Costa, um importador de zebu português radicado em Uberaba Voltar

Você está em: Memórias do Zebu » Importações de Zebu para o Brasil » Terceira Fase (1898 - 1921) Publicado em 27/08/2015 às 15:34:46 - atualizado em 28/11/2016 às 18:24:46
Brasão da Família Costa no Brasil, final do século XIX.

Ângelo Costa, português radicado em Uberaba, foi estimulado pelo criador José Caetano Borges a ir diretamente à Índia a fim de adquirir exemplares de gado zebu. Para tal feito, José Caetano Borges fundou a empresa Borges & Irmãos, investindo pesados recursos financeiros para a efetivação de um grande projeto de importação. Em meados de 1906, acompanhado do ajudante Antônio Gonçalves da Costa, partira de Santos com destino a Bombain, onde procedera a compra de 49 reprodutores das raças Guzerá, Gir, Khillari e, principalmente, Nelore.

No fim daquele ano, o vapor alemão Wurzburg aportou no Rio de Janeiro. O diretor do Jornal dos Agricultores, Antônio de Medeiros, examinou os animais que, em seguida, foram enviados por este mesmo vapor ao porto de Santos, lá o gado foi desembarcado. Do porto, o gado foi levado a Campinas, posteriormente baldeado a Uberaba pela ferrovia Mogiana. A maioria do lote foi entregue ao promotor da viagem, o criador José Caetano Borges. O restante coube como pagamento a Ângelo Costa, que vendeu seus animais a criadores do Triângulo Mineiro.

 

Ângelo Costa regressou por iniciativa própria a Índia no ano seguinte em 1907, com o objetivo de trazer novas levas de reprodutores zebuínos para venda avulsa. Novamente, o resultado da viagem foi excelente, a destaque da estratégia de propagandística de Ângelo Costa que, enviava fotografias dos animais para divulgação aos criadores, antes dos mesmos desembarcar no Brasil. Esse modelo de marketing passou a ser adotado pelos próximos importadores que o sucedeu.


Imagem de animais adquiridos por Ângelo Costa e Antônio Costa, acompanhados por indianos. Fonte: Museu do Zebu, 1907.

De acordo com estudos de (SANTIAGO, 1954, p.69) que analisou jornais de 1907, podemos conhecer os detalhes desta segunda importação. O vapor alemão Clobenz aportou no Rio de Janeiro a 24 de Julho de 1907, conduzindo 64 reprodutores dos 75 embacardos. Na travessia entre Bombain e Aden, tenebrosos temporais colheram o navio, cujos 11 animais pereceram e boxes foram arremessados ao mar por impetuosas ondas.

 

No Brasil, a embarcação era aguardada no cais por um grupo de destacados criadores, como o Barão de Duas Barras, Sabino Barroso, Antônio Lutterbach, Conde Modesto Leal, Viriato Mascarenhas, General Pinheiro Machado, Apolônio Peres e Antônio de Medeiros e Joaquim Carlos Travassos que na ocasião deixou o seguinte testemunho,


Apesar de na foto este navio chama Loanda, seu nome inicial. Nesta embarcação foram trazidos o gado da Índia para o Brasil por Ângelo Costa em 1906.

(...) Os importadores vão aprendendo, à sua custa, a distinguir pelos característicos as boas raças que ainda pelos atavismos existem na Índia, da massa de animais inferiores que lá abundam. Veio nessa leva, entre cinquenta cabeças, uma boa porcentagem de animais escolhidos das duas principais raças, que na Índia, mais ou menos conservam o tipo original: a Nelore e a Guzerá. Ao que parece, é essa a primeira vez que vai o Estado de Minas receber alguns exemplares da raça Guzerá, que, se não são os puros sangues primitivos, deles se aproximam tanto quanto é possível. Alguns dos que estavam a bordo, embora pelos característicos apresentavam algum sangue Guzerá, Kankrej e Nagori; raças vizinhas de sua província originária, nem por isso perdem as suas excelentes qualidades. São animais igualmente volumosos, bem lançados e bonitos. Além dessas duas principais raças indianas vieram na manada dois belos tipos da raça Nagori, mais ou menos cruzados com a Nelore e Guzerá, devido às aproximações das duas províncias, raça essa que se recomenda aos criadores como a mais apropriada para o desenvolvimento da carne, por ser uma raça muito quartada e de desenvolvimento precoce. Muitas vacas dessas duas primeiras raças vieram acompanhando os reprodutores. (TRAVASSOS, Apud WEISS, 1956.p. 15).

 

Autor: Thiago Riccioppo, Historiador, Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU; Gerente Executivo do Museu do Zebu/ABCZ e colaborador do CRPBZ.


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