Manoel de Oliveira Prata - importou Zebu em 1920 e 1930, durante o auge da industrialização da carne Voltar

Você está em: Memórias do Zebu » Importações de Zebu para o Brasil » Terceira Fase (1898 - 1921) Publicado em 01/09/2015 às 09:31:43 - atualizado em 28/11/2016 às 18:23:18
Manoel de Oliveira Prata em fotografia de 1920. Acervo: MZ.

Nascido em Uberaba, Manoel de Oliveira Prata era filho de Joaquim de José da Silva Prata e de Ana Cândida Monteiro Prata. Era apelidado de "Nequinha". De família de pecuaristas, cresceu nesse meio. Nas palavras de Hugo Prata, (...) "conhecia do riscado" - uma referência carinhosa ao Gir. Foi casado com a dançarina francesa Georgettes Dupin, a quem conheceu em Uberaba durante a passagem na cidade de uma companhia teatral do Rio de Janeiro. Na antiga capital do país, viveu por muitos anos até a morte de Georgettes. Mesmo durante esse tempo que estivera no Rio, vinha constantemente a passeio para Uberaba.

O professor Hugo Prata (2009, p.14) refere-se a Manoel de Oliveira Prata como um verdadeiro galanteador,

 

"(...) Era um mito, moço alto, bonito, sobrancelhas cerradas, muito bem vestido, com terno de linho branco cento e vinte, colete, camisa de colarinho alto, gravata e um prendedor de ouro" (PRATA, 2009, p.14). Na ocasião de sua velhice, aos 70 anos voltou a morar em Uberaba e se redimiu a seu antigo amor Carmem Dimas, do qual na juventude na ocasião que a abandou para se casar com a francesa Gergettes Dupin. (PRATA, 2009, p.14).

 

Nessa fase de sua vida, era comum a aglomeração de pessoas ao seu redor para ouvir suas histórias vividas de aventuras, valentias e desavenças. Quando faleceu, por não ter deixado herdeiros diretos, legou toda sua herança a Carmem Dimas.


Manoel de O. Prata e seu irmão Joaquim de O. Prata na juventude, ambos importantes criadores e introdutores do zebu no Brasil. Acervo: MZ, 1920.

No auge da expansão da economia brasileira no mercado nacional e internacional da carne no início do século, a década de 1920 esteve marcada pelo intenso número de uberabenses que foram à Índia a busca da aquisição de novas levas de gado das raças zebu. A adaptação, a qualidade, a produtividade e a precocidade desses animais diante das condições ambientais brasileiras mostravam resultados excelentes. Sem dúvida alguma, períodos históricos como esses contribuíram para lançar a região do Triângulo Mineiro como precursora na esteira da expansão da pecuária nacional.

 

Manoel de Oliveira Prata e Adroaldo Cunha Campos foram um desses sujeitos que aproveitaram o momento para realizar importações da Índia. Financiados por criadores da região, perpetraram importantes aquisições em viagens realizadas em 1920, dentre as quais podemos citar o famoso touro Indu-Marajó, que ajudou a formar o rebanho de Vicente Rodrigues da Cunha. No ano seguinte, Manoel de Oliveira Prata retornou ao continente asiático para escolher novos animais. Dos inúmeros lotes de animais que obteve na Índia nessas ocasiões, vários foram encaminhados para diversas regiões do país e até do exterior.


Uberabenses em Bombaim: Godofredo Nascimento, Pedro Santerre, Armando Veloso, Luitprant Prata, Luis O. Vale e Manoel O. Prata, Manoel A. Caldeira Jr. e Adroaldo C. Campos. Acervo: MZ, 1920.

Rompendo o interregno de quase uma década imposto pela proibição de importações realizadas pelo governo brasileiro, Francisco Ravísio Lemos e Manoel de Oliveira Prata conseguiram em 1930, através de licença federal expedida pelo Ministério da Agricultura, organizar mais uma expedição à Índia. Francisco Ravísio Lemos, membro de tradicional família de criadores e detentor de certos recursos, organizou detidamente a logística para realização de tal feito. Conf. (SANTIAGO, 1972 p. 123). Participaram também desta viagem, Mariana de Paula Lemos, esposa de Franscisco Ravísio Lemos, seu primo Olavo Lemos e filho Horácio Lemos Neto.

 

As regiões percorridas compreendem a Índia e o atual Paquistão. Na ocasião foram adquiridos cerca de 200 exemplares das raças Gir, Guzerá e Nelore. Segundo Barisson Villares apud (SANTIAGO, 1972 p. 123), teria vindo também um representante da raça Sindi. O gado foi desembarcado no Rio de Janeiro, onde permaneceu no quarentenário da Dependência da Produção Animal na Ilha do Governador, posteriormente, foi liberado após comprovada a sanidade do rebanho. Assim, os reprodutores foram vendidos e distribuídos em diversas regiões que estavam se tornando pioneiras em criatórios zebuínos no país, tais com a Uberaba, Cássia, Curvelo, Formiga, Ubá, Franca, Piraí e Cantagalo.


Manoel de Oliveira Prata e Horácio Lemos na Índia em 1930. Acervo: MZ, 1930.

Entre 1930 e 1940, mais precisamente no final desta década, houve no Brasil a busca por animais puros indianos. O pesquisador Alberto Alves Santiago (1972 p. 123) supõe que esta "mudança de orientação" relacionou-se as levas trazidas por Manoel de Oliveira Prata e Francisco Ravísio Lemos em 1930, uma vez que os rebanhos se encontravam ligeiramente mestiçados.

 

Muitos dos touros escolhidos na Índia nessa ocasião contribuíram, sobremaneira, na formatação de alguns plantéis. Dentre esses, destacaram os célebres: Marajah, Rajah e Sheik, da raça Nelore e genearcas do plantel de Pedro Marques Nunes, animais que favoreceram decisivamente para uniformização e qualificação do rebanho de Piraí. Além do touro Gaiolão, segundo seus proprietários, nascido a bordo no navio e que deixou filhos importantes em Casa Branca e Franca. Também destacou o esplêndido guzerá raçador Togo, animal de refinadas caracterizações que se tornou carro-chefe do rebanho de um dos mais importantes criadores desta raça na época, o fazendeiro de Cantagalo, João de Abreu Júnior.


Octávio Ariani Machado à esquerda e ao seu lado Manoel de Oliveira Prata. Acervo: Família Machado, s/d.

Santiago (1956, p. 126) acredita ser também da mesma leva o touro Gandi que serviu o rebanho de Otávio Ariani Machado, de Santo Amaro, na Bahia; gerou Bey que foi vendido a Rodolfo Machado Borges e se revelou grande raçador. Além de White, reprodutor do plantel de Evaristo Paula, de Curvelo. Nessa expedição organizada por Francisco Ravísio Lemos e Manoel de Oliveira Prata, encerrou-se uma importante fase de importações do zebu. A partir de então, sérias medidas sanitárias impostas pelo governo proibiram as importações por um longo período até a década de 1950 e 1960.

 

Autor: Thiago Riccioppo, Historiador, Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU; Gerente Executivo do Museu do Zebu/ABCZ e colaborador do CRPBZ.


CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU

Fone: +55 (34) 3319-3900

Pça Vicentino R. Cunha 110

Parque Fernando Costa

CEP: 38022-330

Uberaba - MG


©2015-2025 - Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - Todos os direitos reservados