Felisberto de Camargo, um dos pioneiros na importação de Sindi durante a década de 1950 Voltar

Você está em: Memórias do Zebu » Importações de Zebu para o Brasil » Quarta Fase (1930 - 1960) Publicado em 28/10/2015 às 14:07:49
Felisberto de Camargo em fotografia de 1952. Fonte: Bahia Red Sindhi, 2015.

Felisberto de Camargo (1896-1977) foi engenheiro agrônomo formado em Piracicaba, São Paulo. Trabalhou em técnicas nas áreas de botânica, citricultura, entomologia e zootecnia. Foi diretor do Instituto Agronômico do Norte (IAN), com sede em Belém, Pará. Enfrentando intempéries enormes, conseguiu enfrentar barreiras e devido a seus enormes esforços pessoais trouxe da 31 bovinos Sindi em 1952, animais que selecionou pessoalmente no Paquistão.

Em meados de 1952, a notícia de uma nova importação de zebu corria no meio pecuário. O momento era visto com expectativa e apreensão por muitos, pois o comércio de gado com o Oriente estava fechado a cerca de 20 anos, após a entrada de inúmeros animais na década de 1930, quando o mercado de zebuínos demonstrava saturação de importados. Contudo, foi a lei 4.398 e outras disposições sanitárias, que contribuíram para proibição por tempo indeterminado, do comércio do "bos indicus" ao Brasil.

 

O agrônomo Felisberto de Camargo, diretor entre os anos de 1940/50 do Instituto Agronômico do Norte situado no Pará, vinha a tempos buscando solucionar a questão de carne e leite para as quentes e úmidas regiões da Amazônia. A estratégia foi estimular o propósito de criação de búfalos na Ilha do Marajó e a criação de grandes rebanhos de gado indiano.

 

Em 1948 deu início às démarches, junto às autoridades superiores, para a efetivação de seu plano que, em linhas gerais, consistia na introdução de gado Red Sindhi e Sahiwal, além de búfalos das raças Murrah, Nili e Ravi. Submeteu o plano as autoridades do Ministério da Agricultura, que ouviu as autoridades responsáveis pela Defesa Sanitária Animal. Estas estabeleceram condições rigorosas, a começar pela construção de um lazareto quartenário, em Belterra, na Fordlândia. Assentadas todas as providências, Felisberto de Camargo seguiu para a Ásia, onde percorreu os principais centros de criação, particularmente das raças Sindhi, Sahiwal e Tharparkar, acabando por se decidir pela primeira.

 

(WEISS, 1956. p. 19).


Gado de Felisberto embarcando em avião cargueiro inglês fretado por ele em 1952. Fonte: Bahia Red Sindhi, 2015.

Entretanto, enquanto o Diretor do Instituto Agronômico do Norte mantinha contatos para a aquisição dos animais no Paquistão, o Ministério da Agricultura no Brasil decidiu sustar a aquisição do gado. Desafiando a decisão governamental, o técnico continuou a efetuar negociações, adquirindo os animais e os meios para transportá-los. Para buscar de resolver o "fato consumado" de forma conciliatória, o Ministério da Agricultura, estabeleceu que, ao invés dos animais desembarcarem em Belterra, com estava previsto, ficariam em quarentena na Ilha Fernando de Noronha, sob responsabilidade direta do Departamento de Produção Animal.

 

Nesta ocasião, o gado veio embarcado por via aérea através da "Eagle Aviation LTD.", companhia inglesa de Londres. As escalas foram realizadas em Khartoun, no Sudão e em Kano, na Nigéria e, finalmente, em Fernando de Noronha. Ocorreram duas viagens; o primeiro lote em 14 e o segundo em 24 de outubro de 1952.

 

O plantel do gado Sindhi vermelho, adquirido no Paquistão, compunha-se de 31 cabeças, entre machos e fêmeas. Um lote de 6 animais - 3 casais - foi obtido em dois estabelecimentos oficiais, a saber: a Fazenda de Seleção de gado Red Sindhi "Central Government Red Sindhi Cattle Breeding Farm", pertencente ao governo paquistanês, em Kalir, e na Fazenda de Seleção do Gado Sindhi "Governmernt of Sind Red Sindhi", repartição do Estado de Sind, em Mirpurkas.

 

(WEISS, 1956. p. 19)

 

Os demais exemplares, em numero de 25, eram produtos de criação particulares, da Fazenda Patel e da Fazenda Sitari, ambos em Karachi. Eram animais de excelentes caracterização, sendo os touros pertencentes às melhores linhagens leiteiras. Em 1953, ao se levantada, após um ano e meio na quarentena, o número de cabeças subia a 60, e consequência de nascimentos ocorridos na Ilha.

 

Essa importação foi extremamente significativa, pois marcou a entrada do gado Shindi vermelho, uma raça que se assentou definitivamente na pecuária brasileira, resistindo condições adversas de clima e mostrando as qualidades das variedades zebuínas adaptadas no Brasil. No entanto, é no semi-árido que esse gado, em estado puro, mostra sua nobreza e, principalmente, sua funcionalidade. Não é à toa que, ao ser questionado pelo repórter de "O Mundo Agrário" sobre o motivo da preferência pelo sindi, Felisberto de Camargo respondeu:

 

"O 'Red Sindhi' é um gado de chifres pequenos. Fruto de milhares e milhares de anos. Fruto do trabalho de uma das mais velhas civilizações do mundo. É a raça zebu leiteira mais nobre entre todas as raças bovinas leiteiras que se criaram nas terras áridas da Ásia, através de cinco mil anos. O Sindhi, ou 'gado vermelho de Sind', é o gado nacional do Paquistão, conservado em estado de relativa pureza, graças à situação de isolamento criada pelos desertos que rodeiam o centro de criação desse rebanho".

 

Autor: Thiago Riccioppo - Historiador, Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU; Gerente Executivo do Museu do Zebu/ABCZ e colaborador do CRPBZ.


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