Octávio Ariani Machado, um baiano importador de Zebu e defensor do puro sangue no Brasil
Voltar
Você está em:
Memórias do Zebu » Importações de Zebu para o Brasil » Terceira Fase (1898 - 1921)
Publicado em 23/11/2015 às 15:23:55
- atualizado em 28/11/2016 às 18:15:44
Nascido em 18 de dezembro de 1886 em Salvador-BA, Octávio Ariani Machado foi criado neste mesmo estado. Depois de formado em Direito em 1907, exerceu o cargo de juiz preparador na Vila de São Francisco do Conde, no Recôncavo Baiano, uma região próxima da Usina Capimirim, então de propriedade de seu pai - o Comendador Manoel de Souza Machado. Trabalhou com seu irmão, Fernando Machado, na administração dos negócios quando seu pai se encontrava em idade avançada.
Com o falecimento de Comendador Manoel de Souza Machado, Octávio Ariani herdou o gado leiteiro, sendo que seu irmão herdou também a linhagem do rebanho importado da Índia em 1906 pelo patriarca. Segundo relatos de Villas-Bôas (Machado, 2006), posteriormente, Octávio Ariani adquiriu esses animais de seu irmão, quando passou a investir com ênfase no aprimoramento do seu plantel zebuíno puro.
Os irmãos Machado (Octávio e Fernando) se casaram com as filhas de Jayme Lopes Villas-Bôas, proprietário da Usina Aliança. Octávio se casou com Lavínia e Fernando com Teresa. O casal Lavínia e Octávio teve sete filhos: Jacy, Jayme, Octávio, Manoel, Luciano, Lavínia Augusta e Teresa. Os negócios das famílias se estreitaram com os casamentos conjuntos. Os irmãos associaram-se ao cunhado, Jayme Villas-Bôas, e fundaram a empresa Machado & Cia.
Filhos de Octávio Ariani Machado e Lavínia Villas-Bôas Machado. Fonte: Família Machado.
Filhos de Octávio Ariani Machado e Lavínia Villas-Bôas Machado. Fonte: Família Machado.
O pesquisador Alberto Alves Santiago (1972), através de seus estudos sobre a raça nelore no Brasil narra que,
(...) Para aumento de sua criação, adquiriu dois anos mais tarde dos importadores Manoel de Oliveira Prata e Adroaldo Cunha Campos, alguns animais das raças Gir e Guzerá, que vinham da Índia a bordo do vapor Cervino. O nome de Octávio Ariani Machado pode ser inscrito entre os dos importadores de gado indiano, porquanto alguns anos após a conflagração europeia fez vir, por intermédio de representante comercial em Hamburgo, um touro Guzerá, da firma Hagenbeck. Por ter vindo no navio Larne, recebeu esse nome.
(SANTIAGO, 1972, p. 156).
Na imagem - da esquerda para direita - o importador de Uberaba Manoel de Oliveira Prata, Octávio Ariani Machado e seu filho em 1920. Fonte: Família Machado.
Posteriormente, comprou animais diretamente do criatório Lemgruber, os touros Amianto, que aparece em fotografia de 1922, e Shangay. Na importação de Ravísio Lemos e Manoel de Oliveira Prata, adquiriu novamente, dois touros indianos importados da raça gir com os nomes de "Gandi e Califa". O primeiro se tornou um dos mais importantes genearcas importados, pai de Bey, Gandi II, White e Marajá II (SANTIAGO, 1972. p.156). Nessa mesma leva, importou um casal da raça nelore cujos nomes eram: o touro Calcutá e a vaca Índia. Mais adiante, adquiriu do criador Pedro Marques Nunes o touro Marajah, filho do touro Marajah importado da mesma leva de 1930.
Nas imagens em sequência: Touro Amianto, o importador Ravísio Lemos e as Vacas Calcutá e Índia. Fonte: Família Machado.
Bey saindo da Bahia, entrega feita por Octávio Machado para Afrânio Machado Borges que representou Rodolpho Machado Borges. Fonte: MZ
Ao dirigir pessoalmente a seleção de seu rebanho, Octávio realizava a escolha dos reprodutores e as vacas de acordo com as características que pretendia fixar e os defeitos que queria eliminar. Por algum tempo o criador tentou gerar uma nova raça através do cruzamento do gir com o nelore, ao qual denominou por Indubahia. No entanto, não satisfeito com os resultados, continuou na seleção das raças puras.
Outra ousadia de Octávio Ariani Machado foi a seleção de certas linhagens com frequência de pelagem avermelhadas, características que se mantinham na fase adulta. Dessa forma, cuidou para que se fixasse esse caráter, gerando dessa forma uma linhagem de nelores "avermelhados" com excelente qualidade (SANTIAGO, 1972. p.157).
Imagens diversas Octávio Machado com amigos e familiares. Fonte: Família Machado.
Aspecto interessante no plantel de Ariani é que seus animais foram mantidos isolados por decênios do gado nelore das regiões centro-sul do país - fator que gerou características próprias e peculiares de sua linhagem. Nesse sentido, desde os anos de 1950, criadores paulistas e mineiros passaram a procurá-lo com frequência, ora para adquirir animais com aspectos típicos puros, ora para buscar o refrescamento no sangue de seus respectivos rebanhos. Até a atualidade o gado do Recôncavo Baiano é muito requisitado por sua característica peculiar.
Perfis do criador baiano Octávio Ariani Machado. Fonte: Família Machado.
O mérito de Octávio Ariani Machado foi ter mantido puro seus três plantéis de zebuínos, desenvolvendo um trabalho criterioso de seleção durante uma fase em que o Indubrasil preponderou, e muitos criadores cruzaram suas vacas puras para formar rebanho dessa "raça" formada a partir de cruzamento de animais zebuínos. Com isso, Octávio pôde dispor de gado puro para fornecer aos criadores brasileiros, na fase seguinte, em que se resgatou e se valorizou as raças puras indianas. As criações de gado zebu em seu domínio foram, todas, bem sucedidas. Ele selecionou as três raças até 1962, quando faleceu.
(VILLÂS-BOAS MACHADO, 2006 p. 19)
A seguir, saiba sobre alguns criadores que compraram animais de Octávio Ariani Machado,
- Seleção VR: Torres Homem Rodrigues da Cunha, com os touros Bombaim, Young, Cacique 93, Provedor, Fab e Índio e algumas fêmeas;
- Seleção IRCA: Irmãos Rocha Cavalcanti, com os touros Rajá, Kant, Irak, Vigilante, Jaspe e muitas fêmeas;
- Seleção Soraya: Miguel José Vita, cuja criação começou com a aquisição de 50 novilhas e do touro Karim, sendo depois adquirido o touro Major;
- Rubens de Andrade Carvalho (Rubico), com várias aquisições, inclusive os touros Tupy e Irã;
- Durval Garcia de Menezes, com os touros Tupy (adquirido para o Ministério da Agricultura e tomado por empréstimo) e Fakir;
- Seleção do Instituto de Pecuária da Bahia, com o touro Monte Alto;
- Dr. Santo Lunardelli, com o touro Senador, que foi utilizado em inseminação artificial, de forma pioneira no Brasil, no final da década de 50;
- Valdomiro Brandão (Vavá), com o touro Ypiranga;
- João Baptista de Andrade (Joãozito), que utilizou, inclusive, o touro Major, do amigo Miguel Vita.
Fonte: (VILLAS-BÔAS. 2006, p: 20-21)
Adaptações e pesquisa: Thiago Riccioppo, Historiador, Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU; Gerente Executivo do Museu do Zebu/ABCZ e colaborador do CRPBZ.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU