Desempenho do agronegócio brasileiro em 2015 e perspectivas para 2016
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A Força do Agronegócio » Palavra de especialistas
Publicado em 15/12/2015 às 09:16:29
- atualizado em 15/12/2015 às 09:25:57
Desempenho do agronegócio brasileiro em 2015 e perspectivas para 2016O cenário desfavorável vivenciado pelo Brasil em 2015 - ano marcado por forte e contínua retração econômica, aceleração da inflação, redução da confiança empresarial, aumento substancial no desemprego, assim como intensa instabilidade política somada à severa crise fiscal - tem se refletido negativamente também no desempenho do agronegócio nacional.
Veja o trabalho relaizado pelos especilistas do CEPEA!
GeraldoSant'Ana de Camargo Barros, PhD
Professor titular USP/Esalq; coord. Científico Cepea/Esalq-USP
Adriana Ferreira Silva, Dra.
Pesquisadora do Cepea/Esalq-USP
Responsáveis pelos cálculos do PIB do Agronegócio CEPE/CNA
cepea@usp.br
No acumulado de janeiro a setembro deste ano, o PIB do setor recuou 0,51%, sinalizando para uma queda anual de 0,7% em 2015 em relação a 2014. E o movimento baixista marca tanto o ramo agrícola quanto o pecuário, que caíram a taxas similares: 0,49% e 0,54%, respectivamente, até setembro. Avaliando-se o agronegócio pelo ângulo de seus segmentos (insumos, primário, indústria e serviços), as baixas mais expressivas ocorreram no segmento industrial (queda de 1,31%, até setembro), mas os PIBs do segmento primário e dos serviços relacionados ao agronegócio também baixaram no acumulado até setembro: 0,30% e 0,64%, respectivamente.
O único segmento do agronegócio que cresceu neste período foi o de insumos: 1,22%. Destaca-se, entretanto, que o principal impulso ao segmento foi a expressiva elevação dos preços de fertilizantes, concomitante às acentuadas valorizações do dólar frente ao Real. Como resposta a este cenário, observou-se retração de 13% nas importações de fertilizantes, na comparação entre janeiro a outubro de 2015 e o mesmo período de 2014 (segundo dados da ANDA). Buscando evitar custos ainda mais elevados, com a escalada do dólar, muitos produtores tentaram antecipar suas compras de fertilizantes já no final do primeiro semestre, mas o atraso na liberação de recursos do Plano Safra pode ter prejudicado grande parte das compras.
Focando-se na produção agrícola "dentro da porteira", nota-se que a deterioração dos preços neste ano tem pesado sobre os resultados: a queda na comparação entre períodos (jan-set2015/jan-set2014) foi de 4,08%, já descontada a inflação, para a média das culturas consideradas pelo CEPEA para o cálculo do PIB. De modo geral, o patamar mais baixo dos preços da soja foi um dos principais determinantes do desempenho do segmento. Ademais, as seguidas quedas para o milho, desde o 2º trimestre do ano, também pressionaram o agronegócio. Em sentido contrário ao movimento de preços, a produção agrícola nacional registra perspectiva de expansão anual de 4,4%, para a média das mesmas culturas acompanhadas pelo CEPEA. A expansão da safra ajudou a amenizar a diminuição do faturamento e o resultado do segmento é de estabilidade. A renda do segmento primário da pecuária também registra baixa em 2015, sendo pressionada pelos menores volumes de produção, uma vez que, em preços, o cenário é de alta no comparativo com 2014.
Na agroindústria, os piores cenários foram registrados para o etanol e têxteis-vestuaristas. A indústria do etanol tem sofrido com o baixo patamar de preços no ano relacionado ao estoque elevado das usinas. Já nas indústrias têxtil e vestuarista, o câmbio tem impactado de duas formas distintas: o Real desvalorizado promoveu a competitividade do produto nacional, mas, grande parte da matéria-prima usada nestas indústrias é importada, de modo que a dinâmica cambial leva também a aumento do custo de produção.
De modo geral, considerando-se o segmento exportador do agronegócio nacional, o câmbio foi, e segue, como fator positivo. Mas a desvalorização do Real não tem sido suficiente para compensar a forte queda dos preços internacionais, segundo cálculos do Cepea. De janeiro a setembro de 2015, os preços de exportação do agronegócio, em Reais, estiveram 6% abaixo dos observados no mesmo período de 2014. Então, no balanço de preços internacionais em queda, dólar em alta e volume de exportação crescente, houve recuo da receita em reais obtida pelos exportadores na parcial de 2015. Vale ainda lembrar que a contrapartida do câmbio desvalorizado é seu reflexo sobre os custos de produção agrícola.
Por fim, cabe destacar que, mesmo com previsão de recuo perto de 0,7%, o agronegócio ainda segue com perspectiva de queda bem menos expressiva que a esperada para o total da economia: de 3%, segundo estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para o Fundo, a estimativa de recuo da economia brasileira reflete a queda nos investimentos, a perda de confiança dos empresários e dos consumidores - em grande parte por causa da deterioração das condições políticas -, e as políticas macroeconômicas de cunho contracionistas necessárias para conter o grau de risco do País, causa principal de todos os transtornos que assolam a economia brasileira.
Para 2016...
As primeiras estimativas para a safra 2015/16 realizadas pela Conab indicam variação de -0,2% a 1,6% na área plantada com grãos na temporada de verão. A exemplo de 2015, a cultura da soja permanece como principal responsável pelo aumento de área: estimativa entre 2,1% e 3,8% (671,3 a 1.244,4 mil hectares). O algodão e o milho apresentam redução de área (entre 5,5% e 2,9% para o algodão, e 9,3% e 4,8%, para o milho), reflexo da opção pelo plantio de soja.
A produção total de grãos pode crescer até 2,1%, desconsiderando-se as estimativas para as culturas de inverno. Com isso, a produção estimada para a safra de grãos 2015/16 é de 208,60 a 212,92 milhões de toneladas. Segundo a Conab, a soja apresenta o maior crescimento absoluto, com estimativa de aumento de 4,9 a 6,6 milhões de toneladas, estimada de 101,2 a 102,8 milhões de toneladas.
Em preços, as previsões do Fundo Monetário Internacional para 2016 não são animadoras. Segundo as mais recentes estimativas, a previsão para o grupo de commodities agrícolas alimentares aponta queda média de preços em 4,7%, com o algodão, o milho, a soja e o trigo recuando: 3,4%, 4,2%, 5,2% e 7%, respectivamente. Para o café, a projeção de queda chega a 10%. O açúcar é o único a registrar expectativa de alta, em torno de 2%. Com isso, o agronegócio provavelmente não vai poder contar com âncora do mercado externo para sustentação de seus preços. A gradação desse efeito vai depender do que acontecer com o câmbio, altamente influenciado pelas avaliações de risco do País.
Sob a ótica do mercado interno, a maior preocupação dos produtores no momento está relacionada ao crédito. A liberação dos recursos do Plano Safra 2015/16 está em atraso e os produtores têm enfrentado dificuldade na contratação de empréstimos a juros subsidiados previstos no PPA. Conforme instituições bancárias, a queda nos depósitos à vista e na poupança, ao lado das exigências crescentes de garantias, têm limitado o atendimento à demanda de financiamento rural. Preocupam bastante as informações de que o crédito para investimento estaria sofrendo forte queda, podendo comprometer o crescimento em 2016 e, talvez, em mais um par de anos.
A agropecuária brasileira é movida essencialmente por tecnologia, que alcança os produtores rurais por meio de novos insumos (sementes e melhoria genética animal, agroquímicos, maquinários etc.) e novas práticas agronômicas e administrativas capazes de enfrentar ou mitigar os contínuos desafios ligados ao clima e à incidência maior de pragas e doenças e à volatilidade dos mercados. São fatores que tornam o segmento bastante intensivo no uso de crédito. O prolongamento da crise econômica e política tem grande potencial de atingir o processo de crescimento do agronegócio brasileiro ao reduzir o volume e aumentar o custo do crédito e de outros instrumentos de política agrícola (seguro e apoio à comercialização, pesquisa e extensão), dado o constrangimento fiscal.
A economia doméstica deverá permanecer em nível recessivo em 2016, com menores níveis de emprego e salário real. No cenário externo, principal alavanca do agronegócio brasileiro, as perspectivas também trazem preocupação. O dólar deverá seguir em elevação ao mesmo tempo em que os juros norte-americanos deverão dar um primeiro salto depois de anos seguidos de estagnação em níveis baixíssimos. A isso se soma o crescimento mundial mais lento, principalmente da China. Monta-se, assim, um cenário de preços de commodities estagnados ou em queda. A válvula de escape para o Brasil será, uma alta ainda maior do dólar no mercado interno, compensando a evolução dos preços internacionais. Entretanto, o recrudescimento da inflação poderá levar as autoridades monetárias a avançar na elevação dos juros e nas intervenções no mercado cambial, em prejuízo do agronegócio (mesmo considerando-se o contrapeso do impacto sobre os preços nos insumos).
Em síntese, portanto, não há como não antever um ano de 2016 difícil para o agronegócio, como, de resto, para os demais setores da economia. O caminho do agronegócio em 2016 ficará à mercê de como se consumarem os fatores de incerteza (clima, pragas e doenças, dólar, preços internacionais) que definirão em que direção o PIB do setor vai se mover em relação à baixa taxa observada no ano que termina. Independentemente dessa direção, a mudança não deve ser expressiva.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU