Rômulo Kardec conquistou o Registro Genealógico do Brahman no Brasil Voltar

Você está em: Memórias do Zebu » Importações de Zebu para o Brasil » Quinta Fase (1994 – 2010) Publicado em 22/01/2016 às 15:27:30 - atualizado em 28/11/2016 às 19:08:05
Rômulo Kardec em fotografia da década de 1990. Acervo: MZ

Engenheiro agrônomo, formado pela Universidade de Viçosa, com especialização em Zootecnia. Pecuarista, Rômulo Kardec de Camargos investiu na criação de animais da raça brahman, nelore e girolando. Atuou como jurado em vários países, dentre eles EUA, México e Argentina, onde também ministrou cursos de julgamento. Trabalhou como técnico da ABCZ em 1970, sendo um dos fundadores do Colégio de Jurados. Chegou a ocupar por duas vezes a presidência da entidade (1992/95 e 1998/2001).

Em 2001, comandou por alguns meses a Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Uberaba. Entre os prêmios recebidos por ele estão: Mérito Pecuário Internacional (no México e na Bolívia) e Líder Empresarial do Setor Carne (Gazeta Mercantil, em 1999 e 2000), e Mérito ABCZ (2002).

 

Rômulo Kardec de Camargos era casado com Maria da Graça Martins de Camargos, com quem teve três filhos. Faleceu às vésperas de completar 60 anos, em março de 2004. Ele esteve diretamente envolvido na introdução e oficialização do registro genealógico da raça Brahman no Brasil, durante o seu primero mandato como presidente da ABCZ. No entanto, para contar essa história, é necessário remeter a outras figuras que também foram preponderantes.

 

Em meados da década de 1980, pecuaristas norte-americanos propuseram uma "Joint Venture" para a criação do Brahmam a Rubens Carvalho, o Rubico, herdeiro de um legado de criação de gado Zebu desde os primeiros anos da década de 1920. Para tanto, Rubico deveria criar o Brahman no Brasil e desenvolver um rebanho Nelore na América do Norte. "A Four Star Cattle Company", em Houston, no Texas, foi fundada com esse propósito. A fazenda foi gerida por uma década pelo filho mais novo do criador, o Rubiquino. Em pouco tempo, a qualidade do Brahman foi sendo conhecida e apreciada, sobretudo, devido à precocidade da raça.


Rômulo Kardec com o presidente da República FHC e o ministro Pratini de Morais na ocasião em que o Ministério passou a ser chamado como Ministério da Agricultura e Pecuária. Acervo: MZ.

Dez anos depois, quando a Joint Venture se dissolveu, Rubiquinho retornou ao Brasil. O Nelore da "Four Star Cattlle Company" era apontado por pesquisas do "Clay Center" e da "Texas A & M", da "Texas Univesity", como a melhor raça para cruzamentos. Contudo, como os americanos mantinham-se céticos, os principais centros criadores e exportadores do Brahman naquele período era o México e a América Central.

 

Alguns brasileiros interessados no Brahman teriam importado imediatamente o gado para o país e exportado raças zebuínas adaptadas no Brasil para o EUA, não fosse as dificuldades encontradas para convencer a ABBA, American Brahman Breeders Association, das distinções e semelhança das raças zebuínas. Rubico Carvalho e Manoel Garcia Cid fizeram esforços para incentivar a aliança dos criadores do Brahman com aqueles que criavam outras raças zebuínas.

 

Rômulo, como presidente, conseguiu finalmente convencer a ABBA a abrir o livro de registro para todas as raças. Rubico Carvalho teve a honra de ser o primeiro criador do Nelore a ter um Brahmam registrado nos Estados Unidos. Fato que se repetiu, anos atrás, na Índia. Desse modo, o criador é reconhecido devido sua relevância e contribuição para aquele que foi o século decisivo para o Zebu - tornando-se o primeiro a possuir o registro número um da raça Nelore nesses dois países. Depois disso, segundo consta nos certificados de origem fornecidos pelo livro de registro de raças, o "Herd Book", pouco mais de duas dezenas de reprodutores zebuínos, a maioria Guzerá, foram levados para esse centro. Nos primeiros anos de seleção, o Brahmam progrediu bastante.


Rômulo Kardec em uma reunião na presidência da ABCZ. Fonte: Museu do Zebu.

É bom lembrar que a criação de gado Zebu entre a família de Rubico teve início no município do Prata, em Minas Gerais, nos anos de 1918, quando a pecuária zebuína da região Triângulo Mineiro era favorecida por inúmeras importações de suas raças realizadas por Francisco José de Carvalho diretamente da Índia. Dois anos depois, o mesmo criador conseguiu o registro de sua marca no Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal.

 

Em Setembro de 1963 desembarcam no porto de Santos os animais que mudariam para sempre a história da pecuária brasileira. Esta importação foi realizada pelos criadores Rubens de Andrade Carvalho, Veríssimo Costa Jr., Torres Homem Rodrigues da Cunha, Celso Garcia Cid e Jacintho Honório da Silva Filho. A entrada oficial do Brahmam no Brasil ocorreu apenas em 1994 entre as importações zebuínas que ocorreram durante a 5ª fase. Apoiados em um marketing bem estipulado, a ABBA apresentou o Brahmam ao restante do mundo.

 

O gado chegou registrado e selecionado pela ABCZ à cidade de Barretos, na Fazenda Brumado, então propriedade de Rubico. Manoel Garcia Cid, Carlos Eduardo Quartim Barbosa, John Jeffcoat e duas outras empresas agropecuárias também tiveram participação especial como importadores filiados à associação nesse início. O rebanho desta mesma década foi o primeiro da raça Brahmam a entrar no Programa de Melhoramento Genético da USP, em Ribeirão Preto. Todos os recursos têm sido investidos no seu aprimoramento.

 

A FIC (Fecundação In Vitro) incrementou a taxa de natalidade de bezerros. A partir de 1997 criadores da raça nos Estados Unidos passaram a investir no Brasil. Na introdução do Brahman no Brasil. Pode-se contar com a experiência adquirida pelo pecuarista Jovelino Carvalho Mineiro Filho, como um dos pioneiros na importação desta raça. Tradicionalmente, selecionador de Nelore, em 1995, começou sua criação com 30 touros da raça Brahman da Cabanha Las Lillas da Argentina, assim introduzindo a raça Brahman na Fazenda SantAnna.


Comitiva da ABCZ com o primeiro animal nelore da Índia, Anupalem Reg. nº 1 do livro Especial de Importação. Na imagem o gado é marcado por Rômulo Kardec. Fonte: MZ, 1998.

Segundo informações do site da Fazenda Santanna, em 1997, junto com o amigo Miguel Espírito Santo, Jovelino Carvalho Mineiro Filho importou o plantel do criador Guilhermo Caballero Vargas, plantel este que pertencia a Cia. Liebigs (frigoríficos) criadores de Brahman há 55 anos, a pasto extensivo, selecionando por fertilidade, precocidade e, sobretudo pelos aprumos, prepúcios curtos, assim formando um rebanho rústico apto as condições de criação da América do Sul Tropical.

 

A raça Brahman, no criatório da Santanna, surpreendeu tanto pelo desempenho e resultados economicamente positivos, tanto na seleção de gado puro, mas, sobretudo nos cruzamentos com a vacada comercial do Brasil, que se priorizou a ampliação do Brahman, importando material genético dos USA, principalmente, da Colômbia e Austrália. Dessa forma, a capacidade do rebanho foi reforçada, obtendo alta performance em condições de criação a pasto extensivo. A fazenda importou regularmente animais do Paraguai, embriões e sêmen da Austrália e Colômbia e dos USA, sendo que a genética norte-americana (berço da raça), desenvolveu-se em condições de manejo muito diferente das necessidades no Brasil.

 

Além da influência do Mercosul, todos os países que faziam divisa com o Brasil na América do Sul já eram criadores do Brahman. O projeto assinado entre o Brasil e a Índia para trazer embriões puros para melhorar o sangue do rebanho nacional é finalmente oficializado entre 1997 a 2010. Nesse espaço de tempo, o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) concede a licença para esse fim. O Projeto Índia, liderado pelo criador Jonas Barcellos Corrêa Filho, promove a seleção desses embriões para importação, que chegam definitivamente em 2010 ao Brasil.

 

Sendo um dos objetivos da ABCZ promover a competição entre as raças para fazer com que o nível genealógico aumente e promova o plantel brasileiro, segundo os criadores, quem deve responder pela utilidade do animal no peso, na fertilidade e nas pistas de julgamento, deverá ser ele mesmo. Criadores importantes da pecuária de corte no Brasil introduziram uma genética oriunda de países como Estados Unidos, Argentina, Colômbia e Paraguai. Desde então pelos dados dos Registros Genealógicos de Nascimento notou-se um crescente aumento da criação da raça. Atualmente o gado está presente em 70 países, segundo a ABBA, o que faz da raça a mais cosmopolita que existe entre os zebuínos.

 

Autor: Thiago Riccioppo - Historiador, Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU; Gerente Executivo do Museu do Zebu/ABCZ e colaborador do CRPBZ.


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