Estudo do PMGZ com mais de 1 milhão de progênies Nelore traz resultados reveladores Voltar

Você está em: Zebuinocultura » Destaques Publicado em 11/03/2016 às 19:21:52
Habilidade materna. Acervo ABCZ

O objetivo fundamental do melhoramento genético animal é o aumento das frequências gênicas relacionadas com os fenótipos de interesse zootécnico. No âmbito das populações de raças puras a seleção e o acasalamento são as principais ferramentas para se alcançar as metas de progresso genético nas características de produção.

Pela seleção definem-se, com base em um critério, quais indivíduos serão pais da próxima geração e no acasalamento buscam-se as melhores combinações entre touros e matrizes. Selecionar e acasalar constitui um trabalho complexo e sistemático que demanda capacidade técnica, um pouco de intuição, tempo e dedicação, mas que traz resultados concretos.

 

A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu promove e coordena provas zootécnicas, desde a década de 1960, que visam fornecer ao criador informações precisas e confiáveis para a seleção dos indivíduos que produzirão a geração seguinte.

 

No controle de desenvolvimento ponderal (CDP) os animais são pesados desde o nascimento até o sobreano. Os dados obtidos no processo são matéria prima para a geração de relatórios que contém a classificação dos animais em relação aos seus contemporâneos, corrigindo-se para fatores como idade da mãe ao parto e idade do indivíduo na data de obtenção da pesagem. Essa abordagem permite a comparação entre animais que foram submetidos a condições pouco divergentes de manejo, e a obtenção de índices de desempenho cujas diferenças observadas são, em grande parte, devidas ao valor genético individual. Deste modo, o CDP é uma ferramenta indicada para identificação das progênies geneticamente superiores dentro do rebanho.


Divulgação. Fonte: Revista ABCZ

Outra prova importante desenvolvida e mantida pela ABCZ é a avaliação genética nacional das raças zebuínas. Informações de genealogia, pesagens e medidas corporais, oriundas de quase todas as unidades da federação e auditadas pelo corpo técnico da entidade, compõem a base de dados utilizados nesta prova. Valores genéticos e Diferenças Esperadas nas Progênies (DEPs) para características de importância econômica são calculados com base no desempenho e no parentesco entre os animais avaliados. Os resultados da avaliação genética nacional das raças zebuínas permitem comparar animais de diferentes idades, sexos, condições de manejo, rebanhos de criação entre outros fatores sistemáticos que influenciam a expressão dos fenótipos. Com as DEPs é possível selecionar os animais geneticamente superiores e direcionar os acasalamentos para obtenção de progênies cada vez mais produtivas.

 

Para avaliar a relação entre os resultados da avaliação genética nacional e o desempenho realizado das progênies foram ajustados modelos de regressão linear simples. Foram utilizados nas análises dados da raça Nelore, provenientes de 1.257.114 progênies na desmama (205 dias) e 679.320 progênies no sobreano (550 dias) avaliadas no controle de desenvolvimento ponderal CDP, e 232.181 progênies avaliadas em perímetro escrotal ao sobreano. Além disso, foram utilizadas as avaliações genéticas nacionais do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos da ABCZ para Peso a Desmama (PD-ED), Peso ao Sobreano (PS-ED) e Perímetro escrotal ao sobreano (PES) de touros, vacas e produtos, e Total materno na desmama (TMD) e Peso na fase materna, efeito materno (PM-EM) de vacas da raça Nelore incluídos neste estudo. Em outras palavras, buscou-se verificar se os valores preditos pelas DEPs estão relacionados com o desempenho fenotípico dos animais.

Nas figuras apresentadas a seguir (Figuras de 1 a 7), para diferentes características, é possível observar que existe uma relação significativa entre a avaliação genética e o desempenho realizado dos animais. Nos eixos verticais (Y) estão os percentuais de indivíduos acima da média do grupo de contemporâneos do qual fizeram parte, e nos eixos horizontais (X) estão as Decas de acordo com as respectivas DEPs. Deca é o agrupamento dos percentis a cada 10%. Deca 1= até top 10%, Deca 2= do top 11% ao top 20%, Deca 3= do top 21% ao top 30%, Deca 4=do top 31% ao top 40%, Deca 5=do top 41% ao top 50%, Deca 6=do top 51% ao top 60%, Deca 7=do top 61% ao top 70%, Deca 8=do top 71% ao top 80%, Deca 9= do top 81% ao top 90% e Deca 10=do top 91% ao top 100%.

 

O QUE ACONTECEU COM O PESO NA DESMAMA, COM O PESO AO SOBREANO E COM O PERÍMETRO ESCROTAL AO SOBREANO DE ACORDO COM O ACASALAMENTO

 

De acordo com os resultados expressos nas Figuras 1 e 2, para cada unidade de aumento na Deca da média dos pais para peso na desmama, efeito direto (PD-ED) e para cada unidade de aumento na Deca da média dos pais para peso ao sobreano, efeito direto (PS-ED) espera-se respectivamente, uma diminuição, em média, de 3,117% e de 3,18% no número de progênies superior ou elite no grupo de contemporâneos aos 205 e aos 550 dias no CDP.

 

Os acasalamentos Deca 1 e Deca 10 para PD-ED tiveram, respectivamente, 65,52% e 31,04% de seus filhos acima da média do grupo de contemporâneos aos 205 dias no CDP. Para PS-ED o comportamento foi semelhante, com 64,16% e 30,38% das progênies acima da média do grupo de contemporâneos aos 550 dias no CDP quando oriundas de acasalamentos Deca 1 e Deca 10, respectivamente.

 

Esses resultados indicam que quanto pior foi a avaliação genética dos pais para PD-ED e PS-ED menor foi o número de filhos acima da média do grupo de contemporâneos aos 205 e aos 550 dias no CDP.


Figura 1

Figura 2

Na figura 3 é possível observar que para cada Deca aumentada na média dos pais em perímetro escrotal ao sobreano (PES) o número de indivíduos superiores em relação aos contemporâneos reduziu, em média, 4,665% no fenótipo perímetro escrotal ao sobreano. Quando o acasalamento para PES esteve na Deca 1 72,08% das progênies tiveram desempenho fenotípico observado acima da média do grupo de contemporâneos, e quando a média dos acasalamentos foi Deca 10 o número de filhos superiores em relação a média dos contemporâneos, no fenótipo perímetro escrotal ao sobreano, foi muito baixo, totalizando apenas 19,61%.

 

Estas informações permitem concluir que os pais com melhores avaliações genéticas em perímetro escrotal (PES) ao sobreano têm mais filhos acima da média do grupo de contemporâneos com relação ao fenótipo perímetro escrotal aos 450 dias.


Figura 3

O QUE ACONTECEU COM OS FILHOS DAS MELHORES E DAS PIORES MÃES EM GENÉTICA PARA HABILIDADE MATERNA

 

Verifica-se nas Figuras 4 e 5, uma diminuição média de 5,072% e de 5,081% no número de progênies acima da média do grupo de contemporâneos aos 205 no CDP, para cada unidade de aumento na Deca da mãe no total materno na desmama (TMD) e no peso na fase materna, efeito materno (PM-EM), respectivamente.

 

Os números são significativos, pois 77,65% das progênies provenientes de mães com TMD na Deca 1 tiveram desempenho acima da média do grupo de contemporâneos aos 205 dias no controle de desenvolvimento ponderal (CDP), mas apenas 23,65% dos filhos de mães com TMD na Deca 10 foram considerados superior ou elite no CDP aos 205 dias. De mesma forma aconteceu para PM-EM, em que 75,00% das progênies de mães Deca 1 superaram a média do grupo de contemporâneos no CDP aos 205 dias, e 22,12%, um número consideravelmente baixo, das progênies de mães Deca 10 estiveram acima da média dos contemporâneos no CDP aos 205 dias.

 

Estes resultados possibilitam inferir que as melhores mães em genética para habilidade materna têm mais filhos acima da média dos contemporâneos no CDP aos 205 dias de idade.


Figura 4

Figura 5

O QUE ACONTECEU COM OS MELHORES E OS PIORES ANIMAIS AVALIADOS EM PESO AO SOBREANO E PERÍMETRO ESCROTAL AO SOBREANO

 

Constata-se nas Figuras 6 e 7, uma diminuição, em média, de 4,969% e de 8,09% no número de indivíduos acima da média do grupo de contemporâneos aos 550 dias no CDP e no número de animais acima da média dos contemporâneos no fenótipo perímetro escrotal ao sobreano, para cada unidade de aumento na Deca própria em peso ao sobreano, efeito direto (PS-ED) e para cada unidade de aumento na Deca própria em perímetro escrotal ao sobreano (PES), respectivamente.

 

Foi observado que 74,20% dos animais Deca 1 para PS-ED classificaram-se como superior ou elite em relação ao grupo de contemporâneos no CDP aos 550 dias de idade, e que esse percentual cai para pouco expressivos 20,54%, quando os animais tiveram avaliação genética para PS-ED situada na Deca 10. De forma concordante, observou-se que 89,59% e 4,28% dos indivíduos Deca 1 e Deca 10, respectivamente, para PES foram superiores dentro do grupo de contemporâneos para o fenótipo perímetro escrotal ao sobreano - uma diferença de 85,31%.

 

De acordo com esses resultados, fica evidente que existe uma forte relação entre a avaliação genética do indivíduo em PS-ED e em PES e seu desempenho real no peso ao sobreano e no perímetro escrotal ao sobreano, respectivamente. Os animais com melhores avalições genéticas são, em sua grande maioria, superiores fenotipicamente em peso e perímetro escrotal ao sobreano.


Figura 6

Figura 7

QUE PODEMOS CONCLUIR

 

Os resultados encontrados são estimulantes porque afastam toda a ideia de que a genética, avaliada por métodos quantitativos e em âmbito nacional, seria uma abstração distante da realidade. Na verdade, ela é apresentada como um fato concreto que contribui para que se atinja uma pecuária produtiva e sustentável - uma demanda atual e crescente.

 

Além disso, é importante destacar que seus efeitos são acumulativos, o que permite um avanço contínuo nas diferentes características de importância econômica para os sistemas de produção de Zebuínos.

 

Uma perspectiva interessante é a possibilidade de mudança no perfil genético dos rebanhos. Ter um conjunto de animais na Deca 10 não é uma sentença inapelável. Basta usar as ferramentas e os critérios adequados para criar novos arranjos genéticos mais favoráveis.

Autores:

Henrique Torres Ventura, Edson Vinícius Costa, Mariana Alencar Pereira, Luiz Antônio Josahkian


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