O impacto do preço da arroba do boi gordo no elo "pós-porteira"
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Publicado em 18/03/2016 às 13:25:32
- atualizado em 18/03/2016 às 14:30:06

Leia matéria interessante sobre acompanhamento da evolução do preço da arroba do boi gordo e seu impacto no elo "depois da porteira" para o mercado interno e externo atual. A edição nº 89 (novembro/dezembro 2015) da revista ABCZ acompanhou a evolução do preço da arroba e do valor de troca na pecuária, e qual o impacto dessa alta nos elos "antes da porteira" e "dentro da porteira". Em termos nominais, a arroba do boi gordo, base São Paulo, valorizou 319% (4,19 vezes), sendo que a maior valorização ocorreu nos últimos oito anos, na ordem de 132% (2,32 vezes) desde a década de 60. Agora, vamos ver como essa matemática influencia o elo "pós-porteira".
É preciso aqui avaliar o impacto no mercado interno e no externo. No interno, se o aumento no preço da arroba for contínuo e significativo, a indústria e o varejo terão de repassar pelo menos parte do custo para o consumidor e este poderá migrar para o consumo de carnes de outras espécies animais, o que já vem acontecendo.
Se o país continuar com baixas taxas de crescimento, como a de 2014 e a projetada para 2015, com aumento no desemprego, uma provável redução no reajuste salarial etc., será muito difícil o repasse do aumento no preço da arroba para o consumidor, as margens da indústria e do varejo irão diminuir e este elo da cadeia vai pressionar para baixo os preços da arroba.
Todos os agentes da cadeia da carne bovina têm que ficar atentos e preocupados em um cenário de valorização contínua e significativa no preço da arroba do boi gordo, em um cenário de baixa taxa de crescimento e aumento no desemprego associados ao aumento na taxa de inflação acima do tal "teto da meta".
Isso porque o preço da carne bovina poderá se tornar "um bode expiratório" como sendo o principal fator de aumento da taxa de inflação, e volta a ser alvo de medidas populista e impositivas por parte do governo, como ocorreu na década de 80 no Estado de São Paulo ("sequestro de bois nas fazendas"), ou como tem acontecido em países vizinhos do Brasil, com altas taxações e medidas que limitam as exportações.
No mercado externo, o preço da carne bovina brasileira pode ficar muito alto e, portanto, menos competitiva, reduzindo os volumes embarcados. Outros fatores que podem diminuir as exportações são crises política e econômica, conflitos armados, principalmente em países que são grandes compradores da carne brasileira (países da Oriente Médio, Rússia e Venezuela).
Um aumento crescente e significativo no preço da carne bovina poderá dar mais subsídios para aqueles que condenam o consumo da carne vermelha e para os vegetarianos, como também para os ambientalistas cujos argumentos não têm embasamento nem científico, baseando na pesquisa, e nem em fatos.
Percebe-se desta análise que as variáveis que determinam aumentos e sustentação no preço da arroba são muitos, diversificados, dinâmicos e praticamente incontroláveis pelos agentes da cadeia, mais particularmente pelo "elo dentro da porteira" - o pecuarista.

Contrato futuro do boi gordo para fev/2016. Fonte: BM&F Bovespa, 2016.
Por fim, depois de uma exposição como está, tenho finalizado a conversa com os pecuaristas enfatizando que eles têm que se especializar nas ações e nos processos e procedimentos, cuja adoção está sob seu controle, tais como: o primeiro passo é a contratação de consultoria especializada nas diferentes áreas envolvidas em uma empresa pecuária (técnica, econômica, ambiental, social etc.). Tecnicamente tenho recomendado:
"Um aumento crescente e significativo no preço da carne bovina, poderá dar mais subsídios para aqueles que condenam o consumo da carne vermelha e para os vegetarianos, como também para os vegetarianos, como também para os ambientalistas cujos argumentos não tem embasamento nem científico, baseados na pesquisa, e nem em fatos".
a) Na condução da postagem: a exploração de sua propriedade baseada nos potenciais dados pelo clima e pela fertilidade natural do solo ou pelo clima associado com a correção e a adubação do solo; a escolha, implantação e condução de espécies forrageiras adaptadas às condições climáticas, edáficas (solos), aos insetos pragas e às doenças da região onde se localiza a sua propriedade; a implantação de infraestrutura de fontes de água, cochos para suplementação, sombreamento, áreas de lazer, corredores de acesso, formato e tamanho de piquetes dimensionados e localizados com base em parâmetros técnicos: científicos; controle de plantas invasoras e de insetos pragas; planejamento alimentar com base na taxa de lotação e na capacidade de suporte da propriedade;
b) No manejo dos animais: manejo racional de animais em piquetes e em currais; programa de prevenção de doenças e parasitos, de acordo com as condições climáticas da região e as categorias animais dos rebanhos;
c) Na gestão da atividade: inventário dos bens para diagnóstico, plano de metas, planejamento, execução do planejado, controle de resultados; gestão de recursos humanos com programas de contratação, de treinamento, de motivação; gestão dos custos e do resultado econômico da atividade; gestão da informação através da leitura de livros, revistas, boletins, anuários, programas rurais na televisão, participação em eventos (dias de campo, simpósios, reuniões técnicas, feiras de negócios), viagens técnicas;
d) Respeito à legislação ambiental, trabalhista e social.
Em síntese, todas aquelas ações têm como objetivo a condução de uma pecuária competitiva, ou seja, uma atividade com resultados econômicos que permitem pelo menos a sua manutenção e, de preferência, crescer, mesmo que pouco, quando vierem os ciclos de baixa dos preços. Ter rentabilidade positiva e crescer apenas nos ciclos de alta é relativamente fácil, mas é sustentável.
*O autor Adílson de Paula Almeida Aguiar, é professor da FAZU e consultor da CONSUPEC.
Acesse também a Revista ABCZ Edição nº 89
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