"O tamanho do problema". Por Luiz Antônio Josahkian para Revista Globo Rural
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Publicado em 23/03/2016 às 18:34:16
- atualizado em 28/03/2016 às 08:30:12
Vacas são a base da produção de carne e representam cerca de dois terços da população de rebanhos de cria, sendo assim uma parcela muito significativa no custo de produção.
No ciclo de produção de um novilho de corte, de 70% a 75% do custo energético se concentra no par vaca - bezerro desmamado, mas a vaca representa 50% daquele total. O impacto econômico do componente vaca fica fácil de ser percebido. Cuidar para que as vacas estejam adequadas ao sistema passa a ser fundamental, visto que resolver essa questão significa buscar soluções para quase 80% dos desafios da produção de carne bovina.
Vacas comem muito, por isso a eficiência alimentar é importante. Vacas só pagam sua estadia nas fazendas se parirem cedo e regularmente, caso contrário, tornam - se inquilinas caloteiras. Falar em vaca ideal é uma falácia. Existem vacas adequadas para cada sistema de produção.
O custo médio de manutenção de uma vaca é da ordem de 84 quilocalorias (kcal) para cada quilo de peso metabólico. O tamanho da vaca é o tamanho do problema. Lidar com essa questão é complexo. Vamos considerar dois parâmetros do crescimento dos animais. Um é o chamado peso adulto (A), que indica o peso do animal no ponto de sua parada de crescimento; o outro é a taxa de maturação (K), que indica a velocidade com que o animal atinge determinada proporção de seu peso adulto. Se uma vaca com um Ade 450 quilos chegar a um ano de idade com 225 quilos, terá um K de 50%. Já outra comum A de 700 quilos, para ter um K de 50%, precisaria pesar 350 quilos com um ano de idade. Uma fêmea só atinge a puberdade quando alcança 60% de seu peso adulto. Do ponto de vista genético, os parâmetros A e K apresentam correlação negativa. Quanto maior o peso adulto, menor a precocidade do animal.
Voltando às duas vacas, seria necessário que pesassem, respectivamente, 270 e 420 quilos para estarem púberes. Nem é preciso dizer que os custos energéticos para uma e outra são muito diferentes. Grosseiramente, teríamos para a primeira vaca um consumo de 8.207kcal/dia e, para a vaca de 700 quilos,11.431 kcal/dia (um ser humano médio consome cerca de 2.500kcal/dia). Isso equivale a cerca de 13quilos de capim por dia a mais para a vaca de 700 quilos. Esta diferença não é um problema se houver disponibilidade sustentável de comida (energia), e por isso a eterna discussão do tamanho da vaca ideal. Cada um deve considerar seu sistema de produção. A vaca "ideal" irá emergir desse cenário, e não de definições padronizadas por um modelo generalizado.
Existem perdas no metabolismo animal, mas também existem grandes diferenças genéticas entre indivíduos e entre raças no aproveitamento da energia que podem chegar até os 30%. Essa eficiência é de difícil mensuração. Possivelmente, erramos menos ao optar pelas vacas medianas.Já que as pequenas seriam mais eficientes, mas produziriam novilhos muito leves; e as grandes produziriam novilhos pesados, porém, mais tardios e energeticamente mais caros.
Há outro parâmetro; a relação peso da vaca com o da desmama de sua cria (ao redor de 50%).É improvável que uma vaca de 800 quilos desmame um bezerro de 400 quilos, mas é viável uma desmama de 250 quilos para uma vaca de 500 quilos. Existe ainda o referencial de que o peso adulto de uma vaca deve ser próximo ao de seus filhos quando prontos para abate, ou seja, entre 18 e 20 arrobas. Extremos não seriam convenientes.
Refletir sobre uma das máximas da ciência animal, enunciada por Tom Cartwright (Texas A&M University), ainda na década de 1970, é esclarecedor; "Os sistemas de produção de bovinos de corte são caracterizados pelo antagonismo genético entre os objetivos econômicos de aumento da taxa de crescimento até a idade de abate e da redução das exigências nutricionais das matrizes na fase de reprodução".
Artigo publicado originalmente na Revista Globo Rural, março de 2016
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