Julgamento: do racial à eficiência Voltar

Você está em: Zebuinocultura » Exposições » Julgamento das Raças Zebuínas Publicado em 05/04/2016 às 18:33:10
Fonte: Banco de Imagens ABCZ

A 1ª Exposição Agropecuária de Uberaba de 1934, que anos mais tarde viria a ser conhecida como a ExpoZebu, foi a primeira a contar com julgamento separado por raças. Na época, a raça predominante na exposição era a Indubrasil, seguida por Guzerá, Nelore e Gir.

Um fato curioso das exposições que deram origem à ExpoZebu é que até 1954, não era exigido que o animal fosse registrado para ser inscrito na exposição. A partir de 1955, o registro passa a ser exigência e com o passar dos anos, outros critérios também começam a ser adotados como limite de idade e peso.

 

Até a década de 50, as comissões de julgamento eram constituídas exclusivamente por criadores. A partir daí, passou a ser composta por um técnico e dois criadores. Em 1959, um evento marcante começou a profissionalizar os julgamentos: a realização do primeiro curso de julgamento de zebuínos por orientação do professor Luiz Rodrigues Fontes, na época diretor do SRGRZ. "A partir deste curso, apenas técnicos e criadores que tinham frequentado as aulas poderiam atuar como jurados", relembra Hugo Prata, ex-presidente do Conselho Curador do Museu do Zebu.

 

 

As fases do julgamento

 

Durante as primeiras duas décadas dos julgamentos, as características raciais eram preconizadas pelos jurados e criadores. Em seguida, os julgamentos vivenciaram fases onde outras características passaram a ser mais valorizadas, como a do culto ao peso.

 

Os julgamentos podem ser divididos em cinco fases, conforme explica abaixo o superintendente Técnico da ABCZ, Luiz Antonio Josahkian.

 

1ª Fase: Afirmação dos tipos raciais (de 1938 a 1960)

 

Conceito: Identificar raçadores e matrizes com alta superioridade em tipo racial, procurando separar o "joio do trigo".

 

Ambiente: Os zebuínos eram tidos como raças exóticas, recém introduzidas no país, consideradas por muitos como "animais selvagens", "bicho de zoológico". O registro genealógico como instrumento oficial havia há pouco sido instituído, oficializado pelo MAPA e ratificado pelo Tratado de Roma de 1936. Predominavam as miscegenações, com formação dos tipos Indubrasil e Tabapuã. Reafirmar e consolidar o padrão das raciais era, justificadamente, a tônica dos julgamentos

2ª Fase: Culto ao peso (de 1960 a meados da década de 1970)

 

Conceito: Identificar indivíduos com alto potencial de ganho em peso. O peso maduro, sem considerações maiores com a idade, constituía-se no objetivo fim.

 

Ambiente: O zebu começa a se firmar como um conjunto de raças de reconhecimento internacional. O SRGRZ já estava consagrado e torna-se, realmente, de abrangência nacional. As importações (últimas oficiais de animais vivos) de material genético da Índia são extremamente benéficas para a raça Nelore e, em menor escala, para a Gir e Guzerá. A introdução das braquiárias e a abertura da fronteira centro-oeste elevam os zebuínos à condição de grupo genético predominante no país. Paralelamente, os hábitos de vida das pessoas começam a sofrer grandes modificações com o avanço das tecnologias. A vida torna-se mais sedentária. Cálculos mostravam que as necessidades de ingestão de calorias despencaram de aproximadamente 6000 kcal/dia para 3000kcal/dia. Em consequência, os hábitos alimentares começam a mudar.

 

A zootecnia da época estabelece o que ficou mundialmente conhecido como bovino "new type" ou "moderno novilho de corte".

3ª Fase: Do culto ao peso ao tamanho (Final da década de 70 até final da década de 80)

 

 

Conceito: Identificar animais com alto potencial de ganho em peso, de estatura elevada e peso final muito alto (tipo longelíneo). Novamente esses critérios não consideravam em primeiro plano, a relação peso x idade do animal.

 

Ambiente: A imagem do "new type" estava consolidada. A medicina humana condena o consumo excessivo de colesterol. Inicia-se uma busca frenética pela "carne limpa", sem gordura. Nenhum touro com o biotipo mais compacto ou que não apresentasse 1000 kg, se adulto, ou potencial para tal, poderia ser considerado um bom raçador. O mesmo raciocínio se estendia às fêmeas, ainda que em uma escala menor. Esboça-se o início de uma era do gigantismo, mas que não chega a se consolidar. Ultrapassar recordes de peso, inclusive de peso ao nascer, passa a ser quase uma obsessão.

4ª Fase: A busca pela eficiência e pelo equilíbrio (Início dos anos 90)

 

 

Conceito: Identificar os animais que melhor combinem, a um só tempo, características reprodutivas, de crescimento, maturidade sexual e de acabamento.

 

Ambiente: As raças zebuínas já são consideradas razoavelmente bem fixadas, o que pareceu justificar em boa parte, colocar os aspectos raciais em segundo plano. Alguns setores mais tradicionais reagem a essa postura dos técnicos. O peso e o ganho em peso, ainda que de forma mais equilibrada, continua em primeiro plano. Discussões sobre pesos excessivos, principalmente em fêmeas, começam a se formar (interações genótipo-ambientes e questões de mercado). Programas paralelos e independentes, vendendo outra imagem, se firmam no mercado. O mundo começa a discutir o impacto ambiental de todas as atividades e o uso racional dos recursos naturais. Novas doenças são identificadas tais como a AIDS, ébola e a nvCreutsfeldt-Jacob (vaca louca). A aftosa é controlada em grande parte do país.

 

A carne bovina é "amada" e "odiada" pela mídia, tornando complexo o cenário para sustentação da atividade. Carnes magras e produzidas com o menor risco de contaminação são alçadas à condição de excelência nutricional e questões de segurança alimentar e segurança do alimento passam a ser cotidianas. A sociedade sofre grandes transformações: a mulher está inserida no mercado de trabalho e a globalização determina efetivamente seus efeitos.

5ª fase: Busca pele eficiência global (Fase atual)

 

 

Conceito: Identificar os animais que apresentem a melhor harmonia nas características econômicas de interesse, inseridas em um plano maior de relações com outras atividades. Globalização torna compulsória a redução de custos de produção (competitividade internacional). Mercados se tornam mais exigentes (segurança do alimento e rastreabilidade). O resultado do trabalho é que tem que remunerar o capital (especulações desaparecem). As exportações de carne bovina brasileira firmam-se no cenário mundial, alavancadas por circunstâncias externas (aftosa na Argentina e Europa, e vaca louca). O mercado se torna mais formal para um público mais exigente e com cada vez menos tempo disponível. Acirra-se a disputa por mercados entre outros produtos de outros SAG's mais organizados (aves e suínos).

 

Esse ambiente determina o fim do "julgamento pelo julgamento" e impõe um novo padrão, o do "julgamento pela produtividade".

 

O cenário específico determina:

 

1. Embora pareça contraditório, retornar às origens e resgatar o tipo racial passa a ser importante;

2. A eficiência reprodutiva, de crescimento e de terminação devem ser priorizadas e consideradas simultaneamente;

3. As decisões devem ser contextualizadas na ciência do melhoramento genético (parte aditiva) e consoantes com o mercado.

Fontes: Adaptação feita pela equipe do CRPBZ do texto publicado por Laura Pimenta da Revista ABCZ, 78ª. A edição que teve como fonte básica de pesquisa o Museu Virtual da ABCZ e a obra: LOPES e REZENDE, 1997 - "ABCZ: Histórias e Histórias".


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