O potencial das pastagens brasileira - Dr. Moacyr Corsi Voltar

Você está em: A Força do Agronegócio » Palavra de especialistas Publicado em 06/04/2016 às 09:18:12
Dr. Moacyr Corsi, imagem da internet

Possui graduação em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP (1967), mestrado em Agronomy - Ohio State University (1970), doutorado em Ciencia Animal e Pastagens pela ESALQ/USP (1972) e PhD em Agronomy - Ohio State University (1984). Possui dois Pós Doutorados, um em West Virginia University (1991) e outro em Massey University (2002). É professor titular da Universidade de São Paulo desde 1989.O professor Moacyr Corsi foi ganhador do prêmio "Norman Borlaug" 2015. É considerado um dos maiores especialistas em pastagens do País, com inúmeras pesquisas na área de nutrição,

Entrevista da Scot Consultoria com Dr. Moacyr Corsi

 

Scot Consultoria - Qual a principal dificuldade para o pecuarista intensificar a produção de capim?

 

Moacyr Corsi - Inicialmente, o pecuarista precisa se convencer de que a atividade pecuária é lucrativa. Entender que o trabalho que ele vai exercer proporcionará um resultado econômico muito melhor do que outras iniciativas que ele pode ter no uso da terra - como a agricultura, por exemplo.

 

Mas, como convencer esse pecuarista? Mostrando o resultado de trabalhos como os que são realizados aqui na escola (Esalq-USP) - projetos como os de Rondonópolis-MT, Rancharia-SP, Paragominas-PA, entre outros projetos grandes, que têm diversas propriedades participando.

 

Os projetos são interessantes. Começam com uma amostra, depois são escolhidas ao redor de cinco, seis propriedades para participarem. Após dois ou três anos (e bons resultados aparentes), o número de pessoas interessadas em entrar no projeto cresce vertiginosamente para 20, 25 propriedades. Além de se interessar, os pecuaristas ingressam e realizam profissionalmente esse trabalho.

 

É muito mais uma questão de demonstração de resultados. A dificuldade está na difusão dessa informação, desses resultados, para convencer o pecuarista a tomar uma inciativa no sentido de realizar o projeto.

 

Após isso, temos a segunda dificuldade: fazer com que o pecuarista tenha os conceitos corretos sobre a aplicação e o emprego das tecnologias na hora e na quantidade correta.

 

É muito difícil colocar tecnologia em um sistema de produção sem avaliar corretamente qual o nível tecnológico da propriedade. Porque se você oferecer mais tecnologia do que ela é capaz de absorver, não conseguirá os resultados esperados e, por outro lado, se oferecer uma tecnologia abaixo do nível tecnológico, o resultado também será frustrante. Isso é desanimador.

 

Scot Consultoria - Falta muito para a pecuária produzir no mesmo nível tecnológico da agricultura?

 

Moacyr Corsi - Não. Já temos eventos, inclusive nessas propriedades dos projetos que citei, que a partir do primeiro ano, o resultado econômico de muitas delas se equiparam ao que o milho e a soja apresentam na média.

 

Se já temos essas propriedades, com sistemas de intensificação de adubação de pastagens implantados e, que no primeiro ano atingem um retorno econômico semelhante ao da agricultura, vemos o potencial enorme que a pecuária tem.

 

Comparando a pecuária intensiva de um ano com a agricultura de soja de três, quatro, até cinco anos, conseguimos mostrar esse potencial. Já quando se trabalha a pecuária por mais tempo, dois, três, quatro anos, aí nota-se um retorno econômico bem superior ao da agricultura.

 

Mas é claro que para isso é preciso um acompanhamento técnico, para conhecer o processo tecnológico, seu desenvolvimento, agregar conhecimento e ganhar confiança no processo - ao ponto de chegar a desenvolver a propriedade como um todo, porque todo processo é começado por uma área menor, com o objetivo de, nessa área piloto, orientar o pecuarista como é que ele tem que fazer e que hora ele tem que fazer.

 

Scot Consultoria - Atualmente produzimos cerca de quantas arrobas por hectare? No seu ponto de vista, quanto vamos produzir em 2030?

 

Moacyr Corsi - A média brasileira está em cinco arrobas por hectare no ano.

 

Nos projetos citados, esse número é superior a 30 arrobas por hectare no ano. Os projetos mais antigos já produzem cerca de 40 arrobas. Os iniciais, no primeiro ano, a meta é de 25 arrobas. Do segundo em diante, a meta já é determinada por eles mesmos - levando em consideração as melhores médias de resultados do grupo que trabalhou no projeto (são cinco, seis, até 20 fazendas). Geralmente eles atingem essa meta, chegando até a 45 arrobas por hectare/ano.

 

A resposta desses pecuaristas à absorção e aplicação de tecnologia é muito boa, muito rápida. Cada vez mais, acreditam e melhoram seus resultados, que no início são bem desafiadores e, após um tempo, muito satisfatórios.

 

Sobre o futuro, acredito que nos próximos anos haverá uma mudança significativa no perfil do pecuarista, assim como houve, nesses últimos dez anos, no perfil do agricultor. Essas mudanças nos permitirão dar passos muito mais largos no sentido de atender produtividade em quantidade elevada.

 

Aumentando a produtividade para níveis mais elevados, conseguimos uma comparação muito mais justa entre a pecuária e a agricultura, financeiramente falando. E como mostram nossos projetos, é perfeitamente possível obter esses níveis de retorno econômico equiparados.

 

Se nós obtivermos esses níveis de retorno econômico semelhantes entre a pecuária e a agricultura, de fato estaremos fazendo uma integração verdadeira entre a pecuária, a agricultura e outra atividade do uso do solo. Nesse ponto em diante, o empresário rural começa a ter interesse em trabalhar numa outra atividade - em níveis de oportunidade de mercado.A pecuária ainda é coadjuvante e precisamos mudar isso.

 

Fonte: Entrevista realizada pela Scot Consultoria e adaptada pela equipe do CRPBZ.

 

Veja o vídeo: Recuperação de pastagens, a chave para uma pecuária sustentável - Moacyr Corsi


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