A produção de bovinos a pasto e o desafio sustentável, por Luiz Josahkian
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Sustentabilidade » Assuntos em debate
Publicado em 28/04/2016 às 09:06:28
- atualizado em 28/04/2016 às 09:10:34
Luiz Josahkian é zootecnicsta, especialista em produção de ruminantes e professor de melhoramento genético da Faculdades Associadas de Uberaba ( FAZU), além de superitendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores do Zebu (ABCZ).
Debaixo do mesmo teto
Por Luiz Joshkian
Estamos vivendo a era do Antropoceno - um período que coloca o homem como o grande modificador do planeta e com aceso a tecnologias nunca antes imaginadas. Nas comunicações , por exemplo, vivemos a era da instantaneidade, confirmando a predição feita por McLuhan (1962)de que um dia nos tronaríamos uma " aldeia normal".
Contudo, a velocidade com que as informações nos atigem tem provocado distorções mais ou menos na linha de "quem conta um conto aumenta um ponto". Bem nessa linha de ruídos e distorções estão os famosos gases de efeito estufa, conhecidos como GEE.
Os GEE existem naturalmente na atmosfera desde que o mundo é mundo, ou melhor, o mundo só existe porque eles existem.
A atmosfera é formada por concentrações naturais de oxigênio e nitrogênio e também pelos GEE, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, dentre outros. Sem os GEE, nosso planeta seria 33°C mais frio e possivelmente não existiria vida, pelo menos tal qual a conhecemos. O problema é que, em desequilíbrio, os GEE podem provocar mudanças climáticas em escala planetária.
Os ruminantes são apontados como grandes emissores de metanos, um GEE potente, mas é sempre bom lembrar - não o único. O metano resulta da ferramenta entérica dos ruminantes e é liberado via eructação ( arrotos). Isso é um fato e é preciso encarar a questão dos GEE de frente e buscar soluções para mitigar seus efeitos. A responsabilidade deve ser compartilhada por todos os setores produtivos, seja a indústria automobilística, a de geração de energia, a de transformação ou a de bens de serviços.
Estamos todos debaixo do mesmo teto. Nada é mais inteiro neste mundo do que o meio ambiente. O Brasil tem 90% de sua produção bovina no sistema a pasto. Melhorar a performance do binômio biológico rúmen-capim é tarefa para começar já, estamos atrasados.Estudos mostram que a combinação do aumento da demanda por produtos de origem animal ( que deve dobrar mundialmente até 2050) com a restrição do aumento de áreas de pastagens ( desmatamento zero) será benéfica . Parece estranho? Mas não é.
O que eles mostram é que a equação que parece insolúvel de produzir mais com cada vez menos recursos nos levaria à excelência do uso dos fatores de produção. E isso implica em investir em pastagens cultivadas e nelas colocar a melhor genética, e para essa genética adotar as melhores práticas sanitárias e nutricionais. Alguém já ouviu falar nisso antes? Com certeza sim, mas a hora da tomada de atitude nunca chega para uma maioria. Somente o aumento da demanda - contraposto a um limite de área - nos levará , coletivamente , a assumir essa postura.
As comparações da capacidade de retirar carbono da atmosfera, um dos GEE, entre pastagens bem manejadas e aquelas degradadas são surpreendentes. Simulações que mantêm permanentes as áreas já disponíveis de pastagens, sem derrubada de uma única árvore a mais, indicam que um aumento na demanda de 30% impacto na redução de 10% na emissão de GEE, exatamente porque aumentaria a pressão pelo uso de pastagens e geneticamente melhoradas. O contrário , ou seja, uma retração da demanda na mesma escala, induziria a um aumento de 9% dos GEE , isso porque a pressão para a melhoria das pastagens e genética adequada seria anulada, levando à degradação contínua.
E essa grande mágica acontece pelo fenômeno simples da fotossíntese, em que a luz e CO² retiradas da atmosfera são transformados em energia para os ruminantes. É um movimento inverso ao das pastagens degradadas : cada hectare libera por ano até 4 toneladas de carbono, por perdas de matéria orgânica. Combinadas essas técnicas podem, definitivamente, nos levar a ocupar o papel que o futuro do mundo nos reserva, qual seja , o de provedor sustentável de alimentos.
Fonte: Revista Globo Rural - Abril 2016
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU