O mago dos Sistemas Integrados quer uma nova revolução do campo, João K.
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Publicado em 16/05/2016 às 09:32:23
João K é um dos maiores especialistas em ILP - Integração Lavoura e Pecuária e ILPF - Integração Lavoura, Pecuária e Floresta no Brasil. Ele defende que tecnologia é uma das soluções mais eficazes para acabar com a baixa produtividade e preservar o meio ambiente. Fonte: (Imprensa ABCZ)Texto: Márcia Benevenuto
O mago dos Sistemas Integrados quer uma nova revolução do campo. É o que propõe o agrónomo paranaense, de origem ucraniana, João Kluthcouski, rebatizado pelos colegas da Embrapa como João K. Durante sua trajetória profissional o pesquisador de nome económico tornou-se um dos maiores conhecedores do tema Integração Lavoura-Pecuária-FIoresta (ILPF) do Brasil.
João K é graduado na Universidade Federal de Pelotas/RS, tem mestrado em Fertilidade do Solo pela Mississippi State University, dos Estados Unidos, e doutorado em Fitotecnia pela ESALQ-USP, de Piracicaba/SP. O pesquisador já ganhou prémios importantes, tem dezenas de publicações e em sua trajetória profissional tornou-se um dos maiores conhecedores do conceito de produção consorciada e integrada. O papa da ILPF é o idealizador das áreas de demonstração de ILP e ILPF da Embrapa na ExpoZebu Dinâmica e aqui ele destaca a importância desse conceito de produção.
ABCZ: Onde e como surgiu o conceito da integração?
João Kluthcouski: Em 1978, implantamos o primeiro experimento consorciando arroz com braquiária, baseado na prática dos produtores do Cerrado que semeavam arroz juntamente com capim, mas colhiam pouco ou nada. Isso foi na época do Proagro (Programa de Garantia da Atividade Agropecuária) e aconteceu tanto na Embrapa Arroz e Feijão com a minha equipe, como na Embrapa Cerrados onde estava o time do pesquisador Lourival Vilela. Duas décadas depois lançamos o Sistema Barreirão destinado à recuperação de solos e pastagens simultaneamente. Esse sistema é considerado o "pai da Integração" no Brasil e baseavase principalmente no consórcio de arroz com braquiária. Esse sistema também provocou nas instituições de pesquisa do país um "despertar" para a necessidade da recuperação de pastagens degradadas. Esse fato nos causou certa euforia, pois o grupo da Embrapa Arroz e Feijão pouco entendia de pastagem ou de gado.
A partir daí, os centros de pesquisa de pastagens e de pecuária começaram, então, a dar valor ao tema. Em 2001, foi a vez do Sistema Santa Fé, que consiste na produção de forragem para a entressafra e palhada para o cultivo em Sistema de Plantio Direto (SPD) para solos corrigidos. Esse sistema é considerado hoje o "Símbolo da Integração" em todo o mundo, pois até então as culturas anuais tinham que ser colhidas no limpo e não "sujas" ou "infestadas" com forrageiras tropicais. A partir desse momento se começou a falar em Integração Lavoura e Pecuária (LP) que envolvia a maioria das espécies graníferas e todas as forrageiras tropicais de importância económica.
Em 2015 foi iniciada a divulgação do Sistema de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF).
ABCZ: Quais são as combinações que mais favore-cem a atividade pecuária?
João K: A pura verdade é que a ILP e ILPF subsidiam a pecuária, resultando no de grãos paga os custos da "boi barato". A colheita implantação e ainda sobra dinheiro. Todas as combinações de forrageiras com culturas graníferas e árvores favorecem a pecuária, sejam elas relativas ao consórcio, sucessão ou rotação lavoura com pastagem. Cito como exemplos: milho e sorgo+capim, milho e sorgo+capim+guandu, milheto+capim+guandu após colheita da soja e capim em sobressemeadura na soja, além de outras.
ABCZ - Quais são as vantagens econômicas?
João K: A principal vantagem é que a pastagem é literalmente custeada pela lavoura. Porém, como existe sinergismo entre pastagem e produção de grãos, o solo torna-se cada vez mais produtivo e menos dependente de fertilizantes. A lucratividade é sempre certa, mas os valores dependem de cada caso. Em geral o custo da @ do boi sai pela metade do custo do sistema de engorda tradicional no pasto e o boi é muito mais precoce. O gado atinge o ponto de abate na metade do tempo, em média dois anos.
ABCZ - Quais são as vantagens ambientais?
João K: Todas as possíveis e imaginárias! As combinações dos Sistemas Integrados recuperam as áreas de pastagens degradadas e proporcionam uma condição onde pode se dobrar a produção brasileira de grãos e triplicar a produção pecuária sem a necessidade de novos desmatamentos, possibilita o controle e a redução das erosões hídricas e eólicas, diminui a necessidade de defensivos e adubos, mantém a área vegetada o ano todo e em condição de absorver C02 da atmosfera, reduz a idade de abate de bovinos - reduzindo a emissão de metano, melhora a fertilidade do solo com o incremento de matéria orgânica, melhora muito a infiltração e o armazenamento de água no solo, melhora a atividade biológica do solo, entre outras questões muito vantajosas.
ABCZ - Como e quanto a implantação dos sistemas de integração tem avançado no país?
João K: Todo início é lento, principalmente tratando-se de sistemas de produção. Até agora temos cerca de três milhões de hectares. Mas daqui pra frente a expectativa é otimista. As áreas vão aumentar cada vez mais e em menor tempo. Esperamos ter 10 milhões de hectares num prazo de oito a dez anos. Uma com-paração pode ser feita com o Sistema Plantio Direto, que levou mais de dez anos para ter adoção repre-sentativa e, hoje, ocupa quase toda a área de produção de grãos e cereais no Brasil.
ABCZ - Qual é o custo para o produtor implantar a Integração?
Esse sistema é considerado hoje o "Símbolo da Integração" em todo o mundo, pois até então, as culturas anuais tinham que ser colhidas no limpo e não "sujas" ou "infestadas" com forrageiras tropicais
João K: O custo varia conforme a opção de ILP e ILPF a ser adotada. A planilha muda dependendo da área que pode ser de um único hectare até milhões deles para serem trabalhados com uma enxada ou com tecnologia que envolva até a semeadura aérea. A Integração é indicada para um mini produtor da mesma forma que é adequada a um grande produtor.
ABCZ- E quais as dicas para quem quer começar a mudar a cara da propriedade rural?
João K: As dicas são: começar pequeno e pensar grande, não ter medo de diversificar, procurar a assistência de bons técnicos, gostar de ter lucro e assumir o espírito do lema: "Integrar para não se entregar".
ABCZ - Qual é a vantagem para o Bra-sil de se diversificar os sistemas produtivos?
João K: Produzir mais e com melhor qualidade, respeitando e preservando o meio ambiente. Recuperar áreas pouco produtivas ou degradadas e mostrar para o mundo que somos comprometidos com a sustentabilidade ambiental. A ILPF é a principal ferramenta para mitigação dos gases de efeito estufa e participa decisivamente do Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Programa ABC), do Governo Federal.
ABCZ - O que o senhor destaca da área de ILPF da ExpoZebu Dinâmica?
João K: É a área mais bonita e diversificada em termos de espécies florestais e banco de forrageiras e, também, de diversidade de opções de ILP. Vai tornar-se, se já não o é, a mais importante mostra no país de máquinas, implementos e opções tecnológicas voltadas para os pecuaristas.
ABCZ - Quais são as perspectivas da Embrapa sobre esse projeto com a ABCZ?
João K: A ABCZ tem mais de 20 mil associados e a Embrapa deveria considerar a ExpoZebu Dinâmica como um de seus principais eventos para transferência de tecnologias, não somente por ocasião dos eventos, mas de forma permanente.
Fonte: Banco de imagens ABCZ
Fonte: Banco de imagens ABCZ
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