Reinventamos o mundo, artigo do especialista Luiz Josahkian
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Publicado em 19/05/2016 às 14:52:24
- atualizado em 19/05/2016 às 17:41:02
Reinventamos o mundoPor Luiz Josahkian* Há quase duas décadas, a prestigiosa revista Nature publicava um artigo com o título "O valor dos serviços ecossistêmicos do mundo e o capitalismo natural" ("The value of the world´s ecosystem services and natural capital"), de autoria do economista ambiental Robert Constanza e de outros colaboradores.
Trazido para o ambiente contemporâneo, pode-se dizer que o artigo de Constanza viralizou para os padrões da época. E isso porque foi a primeira vez em que um estudo tentava responder a uma questão econômica fundamental para todos nós: quanto custaria o trabalho que a natureza faz diariamente para manter o planeta habitável, caso fôssemos nós a fazê-lo? Os autores chegaram à estimativa estratosférica de US$33 trilhões por ano, o que representava, em 1997, a soma de toda economia dos países.
Não é preciso ir muito longe para entender que é impossível reproduzir a ação da natureza, seja por razões econômicas, seja por razões técnicas. O fato é que a natureza opera em sintonia com ela mesma e, diariamente, produz vida, purifica água, produz sombra e microclimas sustentáveis, produz alimentos, e não lixo recicla tudo e purifica o ar retirando gás carbônico da atmosfera. Tudo no mais perfeito estilo Lavoisier, em que "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
Durante o tempo em que a humanidade viveu e se reproduziu segundo os ditames da mãe natureza, esse equilíbrio era perfeito porque fazíamos parte harmoniosamente do ciclo completo. Esta é a visão de Tom Hartmann, escritor ambientalista e autor do livro As últimas horas da antiga luz do sol. Segundo ele, nos primórdios da civilização humana, a sociedade vivia basicamente com o que era possível de ser produzido diariamente com a luz do sol.
Era através da luz do sol que as plantas cresciam, os pastos brotavam, comíamos as plantas, os animais. Vivíamos menos e nos reproduzíamos menos também. Segundo estimativas éramos 150 milhões de pessoas no ano 1º D.C. e somente 350 anos depois dobramos esse número.
Com a revolução industrial, o padrão de crescimento mudou vertiginosamente e o mundo entrou em outro ritmo. Inventamos a máquina a vapor, aceleramos os meios de transportes, passamos a explorar a terra com mais intensidade e a realidade já não era mais dependente das horas de irradiação solar somente. Reinventamos o mundo. Na virada do século XX, atingimos nosso primeiro bilhão de habitantes e as fontes de energia fósseis foram popularizadas. Bastariam apenas outros 85 anos para que, em escala geométrica, nos quintuplicássemos e atingíssemos 5 bilhões de humanos. As projeções indicam que seremos 9,6 bilhões de pessoas em 2050. Se isso se confirmar, teremos multiplicado por mais de nove vezes o que demorou 199 anos para acontecer e, claro, o ritmo da natureza profundamente alterado.
Em que pese os efeitos desse crescimento, não há como retroceder. Atingimos padrões de qualidade de vida inimagináveis em eras passadas. A saúde, a educação, o transporte e a alimentação são inegavelmente melhores hoje do que eram 50 anos ou 100 anos atrás. Contudo é possível mitigar a pressão que estamos colocando sobre o ecossistema. E isso não diz respeito somente ao agronegócio. Diz a todos os setores produtivos. Não adianta desviar o discurso para um ou outro setor. Caso alguém ainda não tenha percebido, estamos no mesmo planeta. Boas práticas de produção serão muito mais de agora em diante, bem-vindas.
Artigo produzido originalmente para Revista Globo Rural. Edição: maio, 2016
* Luiz Josahkian - zootecnista especialista em produção de ruminantes e professor de melhoramento genético, superintendente técnico da Associação Brasileira de Criadores de Zebu ( ABCZ).
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