Como a dieta carnívora pode ser importante para o desenvolvimento do cérebro humano?
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Publicado em 24/05/2016 às 14:22:06
- atualizado em 29/11/2016 às 17:47:01
Mesmo sendo atual e agradável ao paladar da maioria, comer carne é um costume primitivo. Todos sabem disso. É exatamente aí que reside sua importância mais remota. O Homo erectus, ancestral do homem moderno, consumia o gênero há cerca de 1,8 milhões de anos. Tanto é verdade que sem ele não estaríamos aqui hoje - foi o primata quem primeiro aprendeu a cozinhar alimentos e, portanto, passou a ingerir proteína animal com mais assiduidade. A transformação foi imediata: no caso desse ancestral, o tamanho do cérebro praticamente dobrou num período entre 200 mil e 400 mil anos. Segundo as teorias evolucionistas, foi sim um salto majestoso para a humanidade.
Em reportagem recente feita pela revista Veja, pesquisadores identificaram que a ingestão de carne pode ter sido um fator fundamental no auxílio da evolução humana. O estudo, publicado na última edição da revista Nature, revelou que o processamento de alimentos e uma dieta rica em proteínas foram decisivos no desenvolvimento do cérebro, além de induzir à evolução de características modernas na estética facial, como dentes e boca menores. O gênero entrou para a alimentação dos seres pré-humanos há cerca de 2.6 milhões de anos - e só foi cozido realmente há 500.000 anos.
Onde tudo começou? Foi, sobretudo, no chamado Período Paleolítico que uma divisão temporal se estendeu por cerca de 2 milhões de anos, até mais ou menos 10 mil anos atrás. Os humanos que ainda viviam da coleta de frutas, raízes e outras espécies vegetais, começaram a desenvolver o hábito de se alimentar de proteína animal decorrente da caça, da pesca e da coleta de mariscos, além do aproveitamento de carcaças de animais deixadas por outros carnívoros. A lenta adaptação começou daí para nunca mais retroceder. Estava lançada a pedra fundamental que diferenciava alguns primatas daqueles que praticavam hábitos antigos.

O Homo erectus foi o primeiro ancestral do homem a cozinhar os alimentos. Historia.templodeapolonet, 2016.
Em tempos difíceis, a palavra de ordem era sobreviver. E assim como acontecia com muitos animais, a carne passou a ser parte fundamental do processo. Tanto é verdade que o site HypeSciense destacou uma descoberta recente: foi encontrado na Tanzânia um conjunto de ossos cranianos de uma criança que morreu 1,5 milhões de anos atrás. Ela não devia ter mais de dois anos, e não se sabe ainda a qual espécie pertenceu: poderia ser Homo habilis ou Homo erectus, ou mesmo o Paranthropus boisei. Mas uma coisa é certa: ela sofria de hiperostose porótica, e isso é aparentemente um sinal muito importante.
Embora a criança tenha sofrido de uma doença causada pela ingestão insuficiente de carne, isso implica que ainda naquela época o gênero fazia parte da dieta regular do ser humano, não sendo, portanto apenas um alimento de ingestão ocasional. Para levar adiante a ação, os nossos ancestrais tiveram que estabelecer um elo mais eficaz com a caça, como foi dito. Até porque viam que os animais também agiam assim. Seria, portanto, uma questão cultural também? Sim. "O instinto como princípio, a sobrevivência por base e a consciência como evolução", disseram os filósofos.

Uma dieta rica em proteínas é muito importante para o desenvolvimento do cérebro, além de outras considerações. maisproteína.com, 2016.
Especula-se que a ingestão regular do item foi o que permitiu mudanças-chave na raça humana, como o desenvolvimento do órgão que melhor nos define. Segundo reportagem do Jornal O Globo, o cérebro humano só chegou ao patamar atual, diferenciando-se dos demais primatas, porque o homem passou a cozinhar os alimentos. Uma pesquisa da UFRJ e o Instituto Nacional de Neurociência Translacional fez tal comparação até chegar a essa observação. Foi verificado que o órgão necessita de uma quantidade considerável de energia, além de ser responsável por cerca de 20% do consumo dela no corpo humano em repouso.
A experiência analisou ainda por que os gorilas e orangotangos têm corpos maiores que os do homem, mas possuem crânio e cérebro menores. O resultado comprovou haver certa limitação metabólica em relação ao número de horas disponíveis para a alimentação, como na baixa quantidade de calorias presentes em raízes e vegetais que são ingeridos por eles. Isso demonstra que a exigência calórica do corpo e do cérebro é de fato limitante. E o que isso quer dizer? Que o homem passou a diversificar a dieta para poder comer melhor sem ter que para isso gastar energia desnecessária.
Muitos cientistas defendem a existência de uma tendência evolutiva que atua diretamente no aumento do cérebro nos mamíferos. O cozimento dos alimentos também teria aumentado o tempo disponível para atividades sociais, o que teria imposto uma pressão positiva para elevar os números de neurônios, agora acessíveis pela nova dieta, segundo os pesquisadores. "Para obtermos o cérebro atual ingerindo apenas alimentos crus, teríamos que passar mais de 9 horas por dia comendo sem parar", comenta a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, professora da UFRJ.

Grafitagem do veterano artista de rua britânico Banksy, alertando sobre o retorno do consumo de alimentos saudáveis para a humanidade. Cortsol.diet, 2016.
Sobre o tema a revista Superinteressante lembra que ao fabricar instrumentos de pedra, as novas armas permitiram que incluíssemos no cardápio a carne de mamíferos maiores. Assim, a ingestão da iguaria aumentou consideravelmente. "Sem isso, não teríamos desenvolvido um cérebro grande", diz Walter Neves, da Universidade de São Paulo (USP), maior especialista brasileiro em homens pré-históricos. O aumento súbito de proteína na dieta permitiu que nosso corpo investisse mais recursos no sistema nervoso. Hoje, de 30% a 40% de tudo o que comemos vira combustível para fazer o cérebro funcionar.
É preciso reconhecer que sem esse alimento talvez o surgimento do Homo sapiens não tivesse sido possível. Dizer isso para um vegetariano (e/ou similares) seria, no mínimo, um tanto provocador. Mas a verdade é que nossos ancestrais precisaram tornar-se consumidores regulares de carne por uma questão de adaptação natural à própria sobrevivência, o que resultou na evolução da inteligência e contribuiu para impulsionar de modo mais acelerado nossa organização social, por exemplo.
Em meio ao caos deflagrado pelo excesso de informações e o fim das barreiras impostas pela ascensão do mundo virtual, refletir sobre o acontecimento pode levar ao incentivo de pesquisas diversas no âmbito científico, psicológico e social - o que de fato é bastante conveniente quando as pessoas estão cada vez mais divididas diante de posicionamentos ideológicos, comportamentais e políticos. E isso, segundo os pensadores mais atentos, é ingrediente natural poderoso para a vida que se encontra em constante evolução - porque induz ao ato de pensar, simplesmente.
Você já ouviu falar na Dieta Paleolítica?

Alimentos fundamentais da Dieta Paleo (Low Carb). Paleodiario.com, 2016
Apesar de ter sido apresentada ao público pela primeira vez em um estudo publicado na revista científica The New England Journal of Medicine, em 1985, foi só recentemente que a dieta paleolítica ganhou um espaço maior entre as que querem mudar o estilo de vida, inclusive à mesa da cantora pop americana Miley Cyrus.
O ano de 2013 foi marcado por documentários e livros que falam do "método das cavernas", defendido por especialistas como a solução para um dos maiores problemas da atualidade: a obesidade. A explicação para isso seria o fato de o corpo humano não ter tido tempo para se adaptar aos hábitos alimentares do século 21. "Pesquisadores afirmam que 40 milênios não são suficientes para gerar no DNA uma alteração genética que prepare o organismo para tanta ingestão de cereais e alimentos industrializados", revela Noadia Lobão, especialista em Nutrição Clínica Funcional (RJ).

Pirâmide alimentar tradicional da dieta paleolítica. Kilorias.band.uol.com, 2016.
Márcia Loureiro, nutricionista da Life Clínica (SP), conta que 70% de tudo o que consumimos hoje são alimentos que não existiam na Idade da Pedra. "Nosso corpo não foi feito para digerir substâncias como açúcar refinado e conservantes. Esses itens favorecem reações inflamatórias que causam ganho de peso, baixa do sistema imunológico, dores nas juntas, refluxo ácido, dermatites, problemas gastrointestinais e falta de energia", alerta. É aí que entram os princípios fundamentais da dieta paleolítica, que prega uma volta à alimentação primitiva, regada a carnes magras, frutas, raízes e vegetais. Já entre os alimentos que ficam de fora estão os grãos, os óleos extraídos de sementes, as leguminosas e os produtos processados e industrializados.
Para ler a matéria completa acesse:
Revista Corpo a Corpo (Dieta das Cavernas: aposte no cardápio e emagreça 12 Kg em 30 dias)
*A equipe do CRPBZ recomenda que, antes de iniciar qualquer dieta, procure um profissional de saúde para garantir avaliação precisa e adequada às suas necessidades. Não caia no modismo! Não existem estudos científicos suficientes que comprovem os resultados de todo e qualquer tipo de dieta divulgada na Internet. Fique atento(a).
Fontes de Pesquisa: Jornal O Globo (23/10/12) Revista Superinteressante (Edição 175, abril de 2002), Revista Corpo a Corpo (02/04/2014), Revista Veja (11/03/2016), BeefPoint, HypeScience.com, UFRJ, Instituto Nacional de Neurociência Translacional, Unesp (Evolução Humana e Aspectos Socio-Culturais)
Autor(a): Mimi Barros (Historiadora do Museu do Zebu e colaboradora do CRPBZ)
Sobre a importância atual do consumo de carne, veja mais no CRPBZ:
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