Sistemas agroflorestais: potencial para sequestro de carbono Voltar

Você está em: Sustentabilidade » Assuntos em debate Publicado em 20/06/2016 às 14:25:16 - atualizado em 20/06/2016 às 15:31:54
Foto: Davi Bungenstab, Embrapa Gado de Corte

Sistemas agroflorestais: potencial para sequestro de carbono e produção de outros serviços ambientais

Autores: WOLF, Rhaysa. Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD,BARBOSA, Francis Régis Gonçalves Mendes. UFGD,; SILVA, Luciana Ferreira da. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul; PADOVAN, Milton Parron. Embrapa Agropecuária Oeste, padovan@cpao.embrapa.br.

Introdução

 

A intensificação do efeito estufa é resultado do aumento da emissão de alguns gases. Esses gases não se restringem ao dióxido de carbono (CO2), apesar de este ser o mais conhecido.Os créditos de carbono comercializáveis por meio dos Certificados de Redução de Emissões (CRE's) contemplam também a redução de emissões de metano (CH4), óxidonitroso (N2O), perfluorcarbonetos (PFCs), hidrofluorcarbonetos (HFCs) e hexafluoreto deenxofre (SF6), além da redução de emissões de CO2 (GOUVEIA; MESQUITA, 2011).

 

Os serviços de reflorestamento contribuem para a mitigação do efeito estufa através armazenamento de gás carbônico e também restabelecem diversos serviços ambientais,econômicos e sociais de grande importância para a sociedade. Conforme May et al. (2005),projetos florestais não podem estar sujeitos somente ao mercado de carbono como aprincipal fonte de financiamento. "Os sistemas florestais e agroflorestais de produção devemgerar renda suficiente para se tornarem economicamente viáveis, servindo a renda adicionaldo carbono apenas como um incentivo a mais para manter os reflorestamentos no longoprazo" (MAY et al., 2005).

 

Acredita-se que os sistemas agroflorestais (SAFs) se apresentam como protótipos alternativos de sustentabilidade, pois estão alicerçados em princípios econômicos, utilizandode forma racional os recursos naturais renováveis, sob exploração ecologicamente sustentável, sendo capazes de gerar benefícios sociais, porém, sem comprometer opotencial produtivo dos ecossistemas (VALE, 2004).

 

Os SAFs surgem como uma prática alternativa ao modelo convencional monocultor e latifundiário de produção, permitindo às propriedades aumentar seus rendimentos, com diversas espécies cultivadas de forma simultânea, otimizando a utilização das terras, seja pelo gado que se alimenta da vegetação do sub-bosque e diminui a necessidade de roçadas, seja pela venda de madeira ou de animais e seus subprodutos.

 

Esse sistema permite, ainda, o melhor aproveitamento da mão-de-obra e aumenta a oferta de empregos,bem como diversos benefícios ambientais, dentre eles, o melhoramento dos solos e aumento da biodiversidade local (GUTMANIS, 2004).No estado de Mato Grosso do Sul, "SAFs são alternativas potencialmente viáveis econômica, ecologicamente e socialmente adequadas para aumentar a demanda dematéria-prima florestal, de maneira compatível com a matriz econômica do Estado"(PASSOS; COUTO, 1997).

 

Dada à importância social, econômica e ambiental que os SAFs possuem, estudos sobre o funcionamento desses sistemas, os serviços ambientais que eles produzem e sobre os resultados de experiências de implementação, se constituem um importante veículo de conscientização pública e de dispersão de ideias e práticas de desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, o objetivo geral deste trabalho é identificar alguns serviços ambientais gerados por sistemas agroflorestais e avaliar o potencial de sequestro de carbono desses sistemas. Especificamente pretende-se:

 

I) abordar aspectos relacionados aos conceitos ecaracterísticas dos sistemas agroflorestais

II) identificar as possibilidades e condições para elegibilidade de projetos para obtenção de créditos carbono; iii) apresentar resultados de estudos realizados no Brasil e em outros países que fizeram a mensuração do potencial de sequestro carbono de sistemas agroflorestais em geral.

 

Metodologia

 

Para a realização deste trabalho foram utilizados livros, documentos e artigos científicos deorigem nacional e internacional, com o intuito de se conhecer o arcabouço teórico sobre os temas tratados no trabalho e também fomentar discussões e reflexões sobre os mesmos.

 

Também foram realizadas consultas a sites oficiais relacionados aos temas do trabalho, tais como: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do United Nations Frame work Convention on Climate Change (UNFCC), este último sendo um órgão das Nações Unidas responsável em acompanhar as negociações e cumprimento de metas de emissão de gases que causam o efeito estufa por parte dos países signatários do protocolo de Kyoto.

 

Resultados e Discussão

 

Müller et al. (2009) estimaram o volume de biomassa e de carbono em um sistema silvipastoril misto de 4 ha, composto por Eucalyptus grandis e Acacia mangium de 10 anosde idade com pastagem de Brachiaria decumbens, implantado na Zona da Mata Mineira ,numa densidade de 105 árvores ha-1 (60 de eucalipto e 45 de acácia).

 

O estoque médio de biomassa e carbono para o fuste das árvores foi de 24,8 e 11,17 t ha-1, respectivamente,para o eucalipto, e de 6,94 e 3,12 t ha-1 para a acácia, totalizando 31,74 t ha-1 de biomassa e14,29 t ha-1 de carbono, o que denota a vantagem do eucalipto como armazenador de carbono nesse sistema. O estoque de biomassa e carbono da pastagem foi de 1,28 e 0,58 tha-1, respectivamente. Miranda et al. (2007) estudaram duas áreas de 0,8 ha cada, localizadas em uma unidade de produção cooperativa no município de Martí, em Cuba.

 

Os autores fizeram a mensuração da quantidade de carbono armazenado em cada área e constataram que a quantidade armazenada pelo sistema silvipastoril foi bem superior à sequestrada pelo sistema de pasto natural. Considerando o carbono florestal e o retido nos pastos e no solo no sistema silvipastoril, a quantidade total de carbono sequestrada foi de 64, 38 e 24 t ha-1,respectivamente, totalizando 126 toneladas, ao passo que no sistema de pasto natural esse montante alcançou somente 32 t ha-1. Ávila et al. (2001) realizaram experimentos com vários modelos de sistemas agroflorestaiscom café e pastos na Costa Rica. Os sistemas eram constituídos de café arábica + eucalipto(Eucalyptus deglupta) de quatro, seis e oito anos de idade; café + poró (Erythrinapoeppigiana); pasto com braquiária (Brachiaria brizantha) + acácia (Acacia mangium); pasto braquiaria + eucalipto; monocultivos de café, braquiária e pasto ratana (Ischaemun indicum).

 

O estudo constatou que o sistema com café que teve maior capacidade de armazenamentode carbono foi o café + poró (195 t ha-1) e o de menor capacidade foi o de café + eucaliptode 8 anos, com 121 t ha-1. Em sistemas com pastos, os sistemas silvipastoris tiveram maior capacidade de armazenamento de carbono comparado aos sistemas de monocultivo de pastos, e mais de 89% do carbono armazenado foi proveniente do solo.

 

Apesar de os SAFs representarem importante papel como sumidouros de carbono, esses sistemas não têm sido considerados no pagamento de serviços ambientais devido, dentre outras razões, à ausência de informação quantificada sobre seu potencial de armazenamento e fixação de carbono (ÁVILA et al., 2001).Dentre os serviços ambientais prestados pelos sistemas agroflorestais estão a ciclagem de nutrientes, a formação do microclima, aumento da biodiversidade, aumento do estoque de biomassa e sequestro de carbono pelas árvores e pelas forrageiras que compõem esses arranjos (GUTMANIS, 2004; MIRANDA et al., 2007; MÜLLER et al., 2009).

 

Conclusões

 

O potencial de produção de biomassa e sequestro carbono por sistemas agroflorestais são comprovados por estudos apresentados neste trabalho, o que denota a importância desses sistemas como sumidouros de gases de efeito estufa da atmosfera. Ademais, com base nos resultados desses mesmos estudos, os SAFs conseguiram gerar uma quantidade maior de biomassa e de armazenamento de carbono em comparação a monocultivos agrícolas e silviculturais, denotando a importância desses sistemas enquanto mitigador das consequências do efeito estufa, favorecendo a estabilidade climática global.Pelo papel potencial que pode ser desempenhado na regulação climática global, os SAFsconstituem-se práticas potencialmente elegíveis para projetos de captação de créditos decarbono.

 

Os mecanismos que podem ser utilizados para a captação desses créditos por parte dos países em desenvolvimento são o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL (abrange projetos em setores energéticos, de transporte e florestal) e o mercado voluntário.Os mecanismos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal,REDD e REDD+, que são uma derivação do mercado voluntário, dão condições aos paísesque possuem florestas tropicais de obter créditos de carbono por meio de projetos que contemplem a redução das emissões derivadas de desmatamento e degradação dasflorestas, do aumento das reservas florestais de carbono, da gestão sustentável dasflorestas e da conservação florestal.

 

Referências

 

ÁVILA, G. et al. Almacenamiento, fijación de carbono y valoración de servicios ambientalesen sistemas agroforestales en Costa Rica. Agroforestería en las Américas, v. 8, n. 30, p.32-35, 2001.

GOUVEIA, N.; MESQUITA, L. Mercado do carbono. Instituto Nacional da PropriedadeIndustrial: Lisboa, 2011.

GUTMANIS, D. Estoque de carbono e dinâmica ecofisiológica em sistemassilvipastoris. 2004. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de São Paulo, Rio Claro,

SP.INSTITUTO DE PESQUISA AMBIENTAL DA AMAZÔNIA (IPAM). Disponível em:

<http://www.ipam.org.br/>. Acesso em: 20 jan. 2012.MAY, P. H. et al. Sistemas agroflorestais e reflorestamento para captura de carbono e geração de renda. In: ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIAECOLÓGICA - ECOECO, 6, 2005, Brasília. Anais do VI ECOECO, 2005.

MIRANDA, T. et al. Carbono secuestrado en ecosistemas agropecuarios cubanos y suvaloración económica: estudio de caso. Pastos y forrajes [online], v. 30, n. 4, p. 483-491, 2007.

MÜLLER, M. D. et al. Estimativa de acúmulo de biomassa e carbono em sistemaagrossilvipastoril na Zona da Mata Mineira. Pesquisa Florestal Brasileira, Colombo, ed.esp., n. 60, p. 11-17, 2009.

PASSOS, C. A. M.; COUTO, L. Sistemas agroflorestais potenciais para o Estado do MatoGrosso do Sul. In: SEMINÁRIO SOBRE SISTEMAS FLORESTAIS PARA O MATOGROSSO DO SUL. Resumos. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, p. 16-22, 1997(Embrapa Agropecuária Oeste. Documentos, 10).

UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION ON CLIMATE CHANGE (UNFCC).Disponível em: http://unfccc.int/2860.php. Acesso em: 20 jan. 2012.

VALE, R. S. Agrossilvicultura com eucalipto como alternativa para o desenvolvimentosustentável da Zona da Mata de Minas Gerais. 2004. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.


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