Embrapa: recuperação de pastagens e áreas de preservação permanente
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Sustentabilidade » Assuntos em debate
Publicado em 28/06/2016 às 09:19:08
Durante décadas, a pecuária nacional valeu-se da fertilidade natural e do teor de matéria orgânica dos solos recém-desmatados para implantar plantas forrageiras de alto potencial produtivo e conseqüentemente com altos requerimentos em fertilidade do solo, como o capim-colonião. Nas décadas mais recentes, com a exaustão dessa fertilidade, os produtores iniciaram trocas sucessivas de espécies forrageiras por outras menos exigentes em fertilidade, e conseqüentemente com menor produtividade, até o ponto em que mesmo essas espécies menos exigentes, como o capim-braquiária, não conseguem sobreviver.
No decorrer deste caminho de queda da fertilidade dos solos, o pecuarista sente necessidade de diminuir a lotação animal da área. Entretanto, como não consegue prever a amplitude dessa queda e imbuído da ilusão do potencial passado da sua propriedade, o produtor acaba incorrendo em sérios erros de manejo da planta forrageira, abusando da freqüência e da intensidade de pastejos, utilizando superpastejo.
Quando a atividade atinge esse estágio, as pastagens encontram-se degradadas, caracterizadas por grandes áreas de solos expostos, plantas daninhas, erosão no solo, sinais evidentes de deficiência nutricional nas plantas e nos animais, menor taxa de crescimento das plantas, mudança do hábito de crescimento das plantas e baixa produtividade. Nessas condições, o solo encontra-se exaurido, apresentando por vezes teores de matéria orgânica inferiores a 1%.
No Brasil, segundo Zimmer et al. (1994), estima-se que existam cerca de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas, apenas do gênero Brachiaria. A possibilidade de sustentabilidade econômica de um sistema em que as pastagens estão degradadas é muito pequena. Então, há necessidade da tomada de decisão para reversão do problema, escolhendo-se a reforma ou a recuperação dos pastos degradados.
Essa tomada de decisão não é aleatória e depende de atributos técnicos e econômicos que são dinâmicos e se alteram com o decorrer do tempo, de acordo com os novos conhecimentos e com a flutuação dos custos dos insumos. A recuperação das pastagens, quando for possível adotá-la, é uma prática viável, tanto técnica quanto economicamente. Do ponto de vista ambiental, essa recuperação é muito interessante, porque, entre outras razões, evita o desmatamento de novas áreas para a formação de pastagens.
Se em cada hectare de pastagem degradada se adotasse apenas as primeiras etapas do processo de recuperação, seria possível dobrar a média de lotação animal do Brasil de algo ao redor de 1 para aproximadamente 2 UA/ha (UA = unidade animal, 450 kg de peso vivo), fato que tornaria possível dobrar o rebanho nacional, sem a derrubada de uma única árvore.
Somado a esse fato, a recuperação de pastagens proposta neste texto adota princípios básicos imprescindíveis, como conservação do solo, recomposição da fertilidade do solo, cobertura do solo, preservação da matéria orgânica do sistema e retenção de água, fatores que vão ao encontro da preservação do ambiente, ou seja, a recuperação da infra-estrutura ambiental mínima para que funções ecológicas possam ser reativadas.
Isso é imprescindível para que qualquer atividade agropecuária seja sustentável. Nos locais em que o custo de aquisição da terra é mais elevado, como no Estado de São Paulo, onde 1 ha pode custar de U$ 3.000,00 a U$ 10.000,00, percebe-se que a recuperação das pastagens degradadas e a adoção de sistemas intensivos de exploração de pastagens ganham espaço.
Levantamento realizado pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral na década de 1990 indica que 15% da área coberta por pastagens é manejada intensivamente. Esse número reflete não apenas a necessidade de recuperação mas também a necessidade de adoção de sistemas de manejo que contemplem o custo de aquisição e de oportunidade de uso da terra, dando preferência ao maior desempenho por unidade de área do que ao desempenho por animal, sempre almejando o equilíbrio técnicoeconômico.
1) Veja a primeira parte do vídeo produzido pela Embrapa que vai tratar sobre Recuperação de Pastagens com a opção de uma leguminosa, o Guandu.
2) Na segunda parte do vídeo você vai entender como fazer a recuperação de áreas de preservação permanente.
Reserva legal é a área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas.
A Reserva Legal não se confunde com as Áreas de Preservação Permanente, uma vez que nela é permitida a exploração econômica de forma sustentável. Já as Áreas de Preservação Permanente constituem áreas protegidas, cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, além de proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.
A legislação permite que o produtor rural sobreponha APP e Reserva Legal, em alguns casos, ao calcular a parcela de sua propriedade que deve ser preservada. Os casos especificos podem ser visualizados na Cartilha do CiFlorestas, coordenada pelo Polo de Excelência em Florestas de Minas Gerais, que descreve com mais detalhes sobre APP e RL.
Fonte: Texto adaptado pela equipe CRPBZ
Autores: Patrícia Perondi Anchão Oliveira, Dra., Pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, Rod. Washington Luis, km 234, 13560-970, São Carlos, SP Endereço eletrônico: ppaolive@cppse.embrapa.br Moacyr Corsi, Prof. Dr, da ESALQ/Usp,
Outras referências:
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU