Que tipo de carne o mercado quer – Revista ABCZ em entrevista com Fabiano Tito Voltar

Você está em: A Força do Agronegócio » Destaques Publicado em 28/06/2016 às 14:34:16 - atualizado em 28/06/2016 às 14:35:58
Foto: Divulgação

A seleção de zebuínos para corte deve almejar nichos de mercado ou os desafios da segurança alimentar mundial? Esta questão norteará as discussões de especialistas de mercado e pesquisadores dos programas de melhoramento genético durante a Mesa Redonda que será realizada no dia 22 de agosto, durante a ExpoGenética. Entre os debatedores estará o zootecnista e mestre em Engenharia de Produção, Fabiano Tito Rosa, Gerente Executivo de compra de gado da Minerva Foods.

Caberá a ele falar sobre as características do mercado europeu e australiano. Em entrevista à revista ABCZ, o especialista destaca que os programas de melhoramento e criadores devem selecionar animais jovens, pesados, bem terminados e com pH baixo para atender as exigências do mercado internacional. Neste bate-papo, Fabiano Tito Rosa também fala sobre mercado interno, evolução da indústria frigorífica, boi ideal e relação frigorífico/pecuaristas.

 

ABCZ - O Brasil está na lista dos maiores exportadores de carne bovina há quase 10 anos. Como tem sido a tarefa de manter esse posto no que diz respeito às exigências de mercado, à evolução da indústria frigorífica brasileira e da pecuária em geral?

 

Fabiano Tito Rosa - O Brasil tem feito um excelente trabalho em termos de aumento de produtividade, o que contribuiu para o aumento do "excedente" exportável. Houve também melhoria de qualidade, tanto de produto (abatendo animais cada vez mais jovens, mais pesados e mais bem terminados) quanto de processos (com rastreabilidade, controle de resíduos e bem-estar animal). O controle sanitário também tem sido aprimorado, inclusive, nos últimos anos, com a ampliação da Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação. Por fim, o esforço conjunto do governo

e da iniciativa privada para a abertura de novos mercados tem sido constante. É um trabalho de cadeia, que tem mantido o Brasil no topo fio ranking dos exportadores de carne bovina.

 

ABCZ - A lista de países que o Brasil atende é vasta e com perfis variados. Quais os principais tipos de carne bovina que nossos maiores compradores querem?

 

Fabiano Tito Rosa - O Brasil exporta principalmente carne In natura congelada. Os valores mais altos, por sua vez, são registrados para a carne in natura resfriada. Para se fazer cortes resfriados (seja para o Chile, Europa, Norte da África ou Oriente Médio), as principais exigências estão relacionadas à cor(verme lho claro, não escuro) e pH (5,9-5,8) abaixo, destacando-se que a cor sofre muita influência do pH. Outra exigência dos principais mercados, como Chile, Israel, Irã e China, seja para a carne congelada ou resfriada, é a idade. Os animais precisam ser abatidos com, no máximo, 36 meses. Boi erado já não tem mais espaço, sendo que estamos falando de mercados para a chamada carne "commodity", não é nicho. Com relação á cobertura de gordura, nem todos os mercados exigem carne gorda, especialmente os compradores do dianteiro. A Europa, por sua vez, assim como compradores de cortes grill (seja mercado interno ou externo), buscam pelo menos cobertura mediana (acima de 3 mm). Vale destacar também que um mínimo de cobertura de gordura é necessário para proteger a carcaça durante o processo de resfriamento/maturação, mesmo quando o destino final é um comprador de carne magra.

 

ABCZ - Existem muitos estudos sobre maciez, marmoreio e qualidade de carne sendo desenvolvidos no país, mas há uma compreensão clara dos pesquisadores e da indústria frigorífica sobre o tipo de carne que devemos produzir, ou seja, mercado e programas de melhoramento genético bovino trabalham em sintonia no Brasil?

 

Fabiano Tito Rosa - Maciez e marmoreio elevados são pré-requisitos para atendimento dos mercados de nicho. Óbvio que, quanto maior a qualidade do produto, melhor. Porém, pensando no "grosso" do mercado, ou seja, falando de commodity, os requisitos principais ainda são aqueles descritos acima; idade, pH, cor e, para os compradores de traseiro, cobertura de gordura. Acredito que os programas de melhoramento têm, nos últimos anos, se aproximado mais da indústria e do consumidor, buscando aumento de produtividade com foco num perfil de carcaça que o mercado procura.

 

ABCZ - Com base nas exigências do mercado internacional, na sua opinião, quais características os programas de melhoramento e criadores devem trabalhar para atender os compradores externos?

 

Fabiano Tito Rosa - Ganho de peso (animais pesados reduzem custo fixo na fábrica, trazem mais receita para o produtor e melhoram a relação de troca), precocidade (terminação e reprodução) e temperamento (que tende a afetar positivamente cor e pH; especialmente importante no Brasil pelo fato de trabalharmos com machos inteiros). O foco deve ser animais jovens, pesados, bem terminados e com pH baixo.

 

ABCZ - O mercado interno, que responde pela maior parte da carne ofertada, vem sinalizando em qual direção?

 

Fabiano Tito Rosa - Esse será um ano especialmente difícil para o mercado doméstico, pois a crise econômica afeta negativamente o consumo. Porém, olhando os médio e longo prazos, acreditamos que embora o consumo per capita no Brasil tenha pouco espaço para crescer, dado que

já é bastante elevado, ao menos tende a permanecer em bons patamares, ao redor de 35-40 kg, com gradual aumento das exigências relacionadas à qualidade, na mesma linha das exigências do mercado externo já citadas anteriormente. Vale destacar também que há migração de parte do consumo de carne commodity para "cortes especiais". Os nichos de mercado tendem a se ampliar.

 

ABCZ - Como a indústria esclarece ao pecuarista qual o boi ideal para atender o maior volume demandado?

 

Fabiano Tito Rosa - Trabalhamos muito próximos dos nossos fornecedores. Esse esclarecimento é feito dia a dia, no atendimento realizado nas plantas, em visitas às propriedades, por meio de artigos/relatórios de mercado, palestras, dias de campo etc.

 

ABCZ - A produção de carne a pasto no Brasil é realmente um diferencial que o país pode explorar mais em termos de marketing e conquista de novos mercados?

 

Fabiano Tito Rosa - Sim, a questão da "produção natural" tem certo apelo junto a alguns mercados. Vale destacar que a pecuária brasileira é muito diversificada. Temos uma profusão enorme de raças e sistemas produtivos. Podemos atender diferentes exigências, ou seja, agradar gostos variados. Questão de explorar melhor essa vantagem.

 

Larissa Vieira

Fonte: Revista ABCZ, 82ª edição. Jun. 2016


CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU

Fone: +55 (34) 3319-3900

Pça Vicentino R. Cunha 110

Parque Fernando Costa

CEP: 38022-330

Uberaba - MG


©2015-2025 - Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - Todos os direitos reservados