Qualidade do leite em rebanhos das raças Guzerá e Guzolando ½ sangue Voltar

Você está em: Zebuinocultura » Destaques Publicado em 22/07/2016 às 14:03:17 - atualizado em 22/07/2016 às 15:31:04
Vacas da raça Guzerá. Imagem: Maurício Farias

A criação de zebuínos no Brasil tem grande relevância tanto na pecuária de corte como na pecuária leiteira. No contexto de lácteos, a raça Guzerá ganha evidência, junto com a raça Gir, por serem os materiais genéticos mais utilizados na composição dos rebanhos.

Os mestiços leiteiros produtos do cruzamento entre as raças taurinas (Bos taurus) e zebuínas (Bos indicus), como o Girolando e o Guzolando, apresentam extrema flexibilidade fenotípica. Vários estudos confirmam as vantagens do uso de Bos taurus x Bos indicus em condições tropicais, destacando-se, como resultado de tais cruzamentos, a produção de animais com boa produtividade e alta capacidade de adaptação às condições de criação no Brasil, sobretudo no Nordeste (Mello Lima, 2011).

 

Devido à raça Gir ser mais antiga em termos de programa de melhoramento genético, existe mais animais Gir puros e mestiços e as informações sobre a qualidade do leite desses animais são as mais documentadas na literatura. No entanto, as informações sobre a composição e qualidade higiênico-sanitária do leite das raças Guzerá e Guzolando (mestiço com Holandês) são escassas. Diante disso, objetivou-se avaliar a composição (gordura, proteína, lactose) e qualidade higiênico-sanitária (CCS, CBT) do leite em tanques de expansão de rebanhos comerciais das raças Guzerá-PO e Guzolando 1/2 sangue (½ Guzerá x ½ Holandês).

 

O trabalho foi realizado em duas fazendas particulares localizadas no município de Madalena-CE, a latitude de 04° 51' 25''sul e longitude de 39° 34' 37'' oeste, com altitude média de 299 metros. O clima é classificado como tropical com estação seca (Köppen-Geiger). A precipitação pluviométrica média varia entre 600 mm e 1000 mm anuais. Em ambas as propriedades as vacas eram ordenhadas duas vezes ao dia (05h e 14h), em ordenhadeiras mecanizadas. A sala de ordenha era equipada com uma ordenhadeira mecânica duplo seis, do tipo fila indiana, com linha de leite canalizada até o tanque de expansão.

 

O rebanho da Fazenda I foi composto exclusivamente por animais da raça Guzerá, totalizando, no período, 813 animais em ordenha, puros de origem, registrados pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), participantes das provas zootécnicas do Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas (PMGZ), Controle Leiteiro (CL) e Controle de Desenvolvimento Ponderal (CDP). Quanto à Fazenda II, o rebanho foi composto por animais Guzolando (½ Guzerá x ½ Holandês), totalizando 2.180 vacas em ordenha, todas registradas na ABCZ, na categoria Certificado de Controle de Genealogia (CCG).

 

Os animais foram mantidos em regime de confinamento, recebendo silagem de sorgo e milho como volumoso à vontade, e ração concentrada composta por farelo de soja (18,2%), milho grão moído (75,80%), calcário calcítico (2,80%), sal comum (1,00%), sal mineral (1,70%) e ureia pecuária (0,50%).

 

Foram analisados os dados referentes a 15 meses de coletas: de julho de 2012 a setembro de 2013. O procedimento de coleta do leite foi realizado diretamente no tanque de expansão, após homogeneização por meio de agitação mecânica. Foram coletadas 214 amostras, sendo 107 em frascos (40 ml) contendo o conservante Bronopol® e 107 em frascos (50 ml) contento Azidiol®.

 

As amostras foram identificadas, mantidas sob refrigeração (entre 2°C e 6°C) e enviadas para um laboratório pertencente à Rede Brasileira de Qualidade do Leite (RBQL), em Piracicaba, SP, onde foram realizadas análises dos componentes do leite: gordura, proteína e lactose; contagem de células somáticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT). As composições médias e os parâmetros qualitativos do leite dos dois grupamentos genéticos estudados encontram-se dispostos nas Tabelas 1 e 2.

 

Os dados referentes aos teores de gordura, proteína e lactose são semelhantes aos descritos por Ribeiro et al. (2009) para a raça Guzerá, mostrando a influência da raça na composição do leite, especialmente em gordura e proteína, e também a relação entre esses componentes. Já Ribeiro Neto et al. (2012), trabalhando com bovinos mestiços, também na região Nordeste, encontrou valores médios inferiores para os componentes gordura (3,66±0,53), proteína (3,16±0,22) e lactose (4,41±0,18), e valores médios superiores para CCS (564,95±653,56) e CBT (1.190,68±1.384,61).

 

Ainda, cabe ressaltar que a composição verificada para o leite dos animais Guzolando pode resultar dos efeitos da complementaridade entre as raças, prática que favorece a conjugação das características desejáveis de cada raça e a exploração da heterose. Especificamente neste caso, percebe-se que os animais da raça Guzerá, quando cruzados com animais Holandeses, contribuíram para a produção de leite com percentual de gordura superior aos 3,00% relatado por Mello Lima (2011).

 

A composição química média do leite de tanque de vacas da raça Guzerá é 4,57% de gordura, 3,71% de proteína e 4,67% de lactose.

 

Referências bibliográficas:

 

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção da pecuária municipal.

 

Produtos de origem animal por tipo de produto. Disponível em <www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em 11/2015.

 

MELLO LIMA, J.A. Desempenho produtivo de vacas F1 holandês/zebu submetidas ao aumento no número de ordenhas no início da lactação e a diferentes manejo de amamentação. Tese apresentada ao programa de pós graduação em zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG, Belo Horizonte, 2011.

 

RIBEIRO,A.B.;TINOCO,A.F.F.;FERREIRA,G.;GUILHERMINO,M.M.;R, ANGELA.H.N. Produção e composição do leite de vacas gir e guzerá nas diferentes ordens de parto. Revista Caatinga, v.22, n3, p 46-51, 2009.

 

RIBEIRO NETO, A.C.; BARBOSA, S.B.P.; JATOBÁ, R.B. et al. Qualidade do leite cru refrigerado sob inspeção federal na região Nordeste. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.64, n.5, p.1343-1351, 2012.

 

Autores:

 

Rodrigo Coutinho Madruga - ABCZ (escritório Natal - RN)

Adriano Henrique do N. Rangel - UFRN

Stela Antas Urbano - UFRN

Dorgival Morais de Lima Júnior - UFAL

Luciano Patto Novaes - UFRN

Danielle Cavacanti Sales - UFRN

 

Fonte: Revista ABCZ Ed. 89 nov./dez. 2015

 


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