Gir no Brasil: Relevantes pesquisas sobre a raça que é a base para a pecuária leiteira tropical
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Publicado em 26/07/2016 às 14:39:50
- atualizado em 26/07/2016 às 16:30:50
Com o intuito de reunir e organizar informações que possam facilitar o intercâmbio entre pesquisadores, universidades, setor público e privado, o Centro de Referência da Pecuária Brasileira - Zebu (CRPBZ) apresenta um breve apanhado de pesquisas mais significativas que levaram a raça Gir ao patamar onde se encontra hoje. Aqui você terá um caminho por onde poderá encontrar informações e pesquisas sobre a raça.
Conheça a origem da raça e a sua história (CRPBZ)
A raça Gir, criada no Brasil, corresponde à raça de mesmo nome da Índia, que é incluída no Grupo III da classificação de Joshi e Phillips (1953). É originária das regiões de Gir, na Península de Kathiawar. Junto às raças do tipo Misore, ao sul, e às raças das regiões montanhosas, ao norte, é considerada de criação mais antiga.
Os primeiros exemplares da raça Gir, provavelmente, devem ter sido introduzidos, no Brasil, por volta de 1906, em uma das importações efetuadas por Teófilo de Godoy. No entanto, Wirmondes M. Borges, criador do Triângulo Mineiro, afirmou ter sido ele o introdutor da raça no Brasil, em 1919.
Três outras importações da Índia foram extremamente importantes para formação do Gir brasileiro. Em 1955, o criador Joaquim Machado Borges fez entrar em território brasileiro, via Bolívia, 114 cabeças. Posteriormente, em 1960, o criador paranaense Celso Garcia Cid conseguiu licença do Governo Federal para introduzir no País, após quarentena realizada em Paranaguá, 102 animais, sendo 70 da raça Gir.
Após esta liberação de importações, entrou no território brasileiro, em 1962, grande número de animais zebuínos, entre os quais 153 Gir. Lideraram esta importação, principalmente, os criadores Celso Garcia Cid, Torres Homem Rodrigues da Cunha, Rubens de Carvalho e Jacinto Honório da Silva. Enfim, não mais que 450 animais Gir.
Embora, o maior interesse pela raça Gir tenha surgido após o auge da formação do Indubrasil, a difusão daquela raça em território brasileiro foi bastante rápida. A partir principalmente do Triângulo Mineiro, o Gir alcançou todo o Brasil Central, algumas regiões do Nordeste e, atualmente, é criado na maioria dos Estados brasileiros.
Muitos países da América Latina importaram do Brasil animais dessa raça, estando presentes na Bolívia, Colômbia, Venezuela, Guatemala e México. Por intermédio do México e, posteriormente por meio de importações oficiais, o Gir brasileiro teve grande influência na formação do Brahman americano, principalmente, do tipo Red Brahman.
Gir mocho
Como os demais zebuínos mochos, o Gir mocho deve ter sido originado a partir de cruzamentos de animais da raça Gir com aqueles da raça Mocha nacional existentes sobretudo no estado de Goiás, que, por sua vez, tem suas origens ligadas aos primeiros animais taurinos introduzidos no País pelos colonizadores ibéricos.
O criador uberabense, Gérson Prata, adquiriu, na dé- cada de 40, doze vacas mochas "giradas", do Sr. Adolfo Prata, passando a cruzá-las com seus melhores touros Gir de chifres. Hoje, são várias as fazendas que se dedicam à criação dessa nova variedade selecionada, principalmente para produção de carne e, algumas, para leite.
Gir Leiteiro
A hegemonia do Gir manteve-se até o final dos anos 60. Percebe-se aqui a importância que o Gir teve no cenário econômico daquela época, inclusive sendo base para formação da raça Indubrasil.
A partir de então, o Gir perdeu espaço para as outras raças zebuínas, as quais apresentaram excelente aptidão para produção de carne nas mais diferentes condições extensivas de manejo.
Hoje, a raça Gir volta ao cenário brasileiro e contribui para a pecuária nacional, sobretudo por sua aptidão leiteira, que a torna preferida para acasalamentos com gado europeu, para obtenção de mestiças com boa produção de leite e rusticidade. Nos anos 30, quando a raça Gir teve grande valorização, alguns criadores, pacientemente, vasculharam as fazendas e realizaram operações de recolhimento de muitos dos exemplares Gir que se distinguiam pela capacidade leiteira, dispersos pelos rebanhos nacionais.
Assim, o Gir Leiteiro é resultado da seleção efetuada por entidades governamentais e por criadores particulares, a partir do gado Gir originariamente importado da Índia. Foram os responsáveis pela origem do Gir Leiteiro brasileiro, tendo merecimento equivalente ao das históricas importações das raças zebuínas brasileiras, por não permitirem que esta aptidão da raça se perdesse totalmente.
São a história viva do Gir Leiteiro, porque formaram rebanhos tradicionais, que criaram identidade própria. Alguns desses rebanhos são, hoje, conduzidos por herdeiros, outros, que já não existem mais, tiveram relevância no processo pelo fruto da descendência e encontram-se nos mais conceituados criatórios.
Outros animais Gir poderiam ter sido destacados, se não tivesse havido um processo seletivo antagônico à produção de leite nos rebanhos de Gir que praticavam melhoramento, visando à produção de carne.
Nesses rebanhos, muitas vacas de boa produção devem ter sido eliminadas por serem consideradas descarnadas, terem úberes grandes e porque o excesso de leite dificultava a criação dos bezerros e exigia a presença de vaqueiro.
Referência Bibliográfica : Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v29,n243,p7-25,mar/abr. 2018
Título do artigo - Gir Leiteiro no Brasil
Autores: Ivan Luiz Ledic, Leonardo de Oliveira Fernandes, Marcos Brandão Dias Ferreira, Sandro Henrique Antunes Ribeiro, Rui da Silva Verneque
Para acessa o artigo na íntegra clique aqui!!
Nos infográficos abaixo você poderá acompanhar os dados estatísticos do Gir tanto para evolução de Registro Genealógico Definitivo quanto para controle leiterio.
Fonte: Banco de dados, CRPBZ.
Fonte: Banco de dados, CRPBZ.
Fonte:CRPBZ
Fonte: Banco de dados, CRPBZ.
CARACTERÍSTICAS DO GIR LEITEIRO
O Gir Leiteiro apresenta peculiaridades que poderiam ser resumidas como
a) longevidade; b) alta fertilidade; c) baixa mortalidade; d) extrema docilidade; e) boa habilidade materna; f) persistência de lactação; g) baixo requisito de mantença; h) elevada taxa de gordura no leite; i) excelente temperamento leiteiro; j) não apresenta dificuldade ao parto; k) produção de leite em nível de pasto; l) adaptabilidade às condições tropicais; m) facilidade de adaptação à ordenha mecânica; n) versatilidade para cruzamento com raças européias; o) tolerância ao calor e resistência a ectoparasitos e mastite; p) alto retorno econômico (leite, sêmen, embriões, machos e fêmeas).
O QUE ESTÁ SENDO FEITO PELO GIR LEITEIRO
Os criadores de Gir Leiteiro têm promovido seus rebanhos por meio de diversas ações, em parceria com universidades, empresas de pesquisa, entidades de classe e centrais de inseminação.
CURVA DE LACTAÇÃO
Em estudo de 32.779 controles leiteirosmensais de 3.605 lactações de 2.082 vacas Gir (LEDIC, 1999), observou-se quehouve alteração, conforme a fase da lactação,estando o pico de produção no primeiro controle (ocorrido no 23o dia pósparto,tendendo a decrescer a partir destafase até o décimo controle (Gráfico 1).
A diminuição, a partir do segundo controle,foi mais abrupta no terceiro e no quarto controles (redução de 0,95 e 0,80 kg de leite em cada controle, respectivamente),mantendo declínio quase que constante a partir daí (queda de, aproximadamente,0,50 kg de leite por controle).
A produção de leite no último controle (305 dias de lactação) foi elevada, para considerar encerramento da lactação, principalmente por se tratar de animais zebuínos,representando queda de apenas 39,68% em relação ao primeiro controle,estando muito acima da produção médiado rebanho nacional.
Fonte: Embrapa Gado de Leite
Teste de Performance
Alguns trabalhos para avaliação do desempenho dos animais Gir Leiteiro são executados, podendo ser citados:
a) para leite: controle Leiteiro Oficial efetuado nos rebanhos, - participação em Torneios Leiteiros (Exposições), -
participação em Prova de Produção de Leite de novilhas;
b) para desenvolvimento ponderal:
pesagem de animais em nível de rebanho,
participação de touros em Prova de Ganho de Peso;
c) para padrão racial: -
seleção pelo sistema linear de avaliação, tipo leiteiro, - julgamento em Exposições Agropecuárias.
Teste de Progênie
Toda raça, de qualquer espécie, tem suas linhagens básicas que fornecem o material genético, do qual se processa a seleção evolutiva. Cabe aos criadores saberem utilizar, com proveito, este material oriundo das melhores linhagens e dos acasalamentos entre raças.
Os trabalhos de seleção foram realizados à maneira de cada criador. Cada um usou sua intuição, conhecimentos e experiências, com visão no mercado, e procurou as características desejáveis para seu plantel, segundo interesses específicos e particulares.
Praticavam baixa incorporação de genótipos de outros rebanhos no seu criatório, porque não tinham informações consistentes que pudessem auxiliar nessa decisão de introdução de outros animais.
Com o tempo, as respostas à seleção ou cruzamentos entre as próprias famílias formadas estavam produzindo resultados menos pronunciados em relação aos observados no início de seus trabalhos, como era de esperar, uma vez que os rebanhos não eram - e não são - grandes o suficiente para manter variabilidade genética para características de produção.
Surgiu, assim, a necessidade de conduzir um trabalho mais amplo, que pudesse colocar à disposição de todo rebanho Gir opções de touros e matrizes dessas linhagens já existentes, identificando aqueles de qualidade superior.
Foi, então, instituído pela ABCGIL e Embrapa Gado de Leite, em 1985, o Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro, visando proceder à Avaliação Genética das Vacas e executar o Teste de Progênie dos Touros.
Esse trabalho viria complementar a primeira fase de seleção praticada em cada fazenda e efetuar um teste central com delineamento apropriado, para comparar, numa mesma base de avaliação, os touros de vários rebanhos, identificando aqueles superiores para produção de leite, com base no desempenho das filhas.
No Programa, são avaliadas a produção de leite, gordura, proteína, sólidos totais, contagem de células somáticas do leite e 16 características de conformação e duas de temperamento das progênies, para o cálculo da capacidade prevista de transmissão (PTA) dos touros.
Todo ano, é publicado o catálogo dos touros avaliados, o que permite uma orientação segura aos selecionadores, pois prevê ganhos genéticos comprovados ao utilizarem um touro geneticamente superior para produção de leite, com base no teste de desempenho das filhas.
Os animais que se destacaram começaram a ser disseminados e utilizados pelos criadores, visando promover o melhoramento genético dos rebanhos por meio da introdução de novos genótipos, ampliando o leque de opções de linhagens de outros criadores, permitindo maior índice de acerto possível.
Nos estudos efetuados pela Embrapa Gado de Leite, usando-se dados de produção de leite de vacas pertencentes aos rebanhos de gado puro, têm-se observado nítido crescimento dos valores genéticos médios ao longo dos anos.
Ao mesmo tempo, tem havido crescimento substancial da produção média de leite, podendo se concluir que os ganhos genéticos dos rebanhos estão combinados com melhorias nas condições de manejo e de alimentação.
O Teste de Progênie do Gir Leiteiro identifica o valor reprodutivo dos touros pela PTA a partir de informações de suas filhas e de suas contemporâneas de rebanho, além de considerar as informações de Valores Genéticos (dobro da PTA) de todos os animais constantes nos seus pedigrees, utilizando do Modelo Animal e que tem norteado a escolha dos reprodutores utilizados nos rebanhos leiteiros e permitido considerável progresso genético ao longo dos anos.
Essas informações comprovam que a seleção dos animais é efetuada por avaliações (LEDIC, 1998):
a) numa primeira fase pela genealogia: o pedigree indica o que o animal pode ser; b) em uma segunda fase pelo próprio desempenho: o fenótipo mostra o que o animal parece ser; c) em definitivo pela produção de sua descendência: a progênie prova o que ele realmente é.
Outras avaliações O uso de marcadores moleculares é estudado pela Embrapa Gado de Leite como um auxiliar para identificar valores reprodutivos para leite (PTA) dos reprodutores, de forma antecipada.
Outros trabalhos de pesquisa e experimentação, como resistência aos carrapatos, cruzamentos reversos, são também desenvolvidos pela Embrapa Gado de Leite.
Com a fundação da Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), em 1980, nova dinâmica foi originada, culminando com a implantação do Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro, em 1985, com a parceria entre a Embrapa Gado de Leite, ABCGIL e Centrais de Inseminação.
Assim, o que diferencia o Gir Leiteiro dos outros animais da raça é que, além de possuir Registro Genealógico expedido pela Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), tem de apresentar produção mínima de 2.100 kg de leite em 305 dias de lactação ou 2.500 kg em 365 dias de lacta- ção, obtida por Controle Leiteiro Oficial.
É uma norma estatutária (item 2, parágrafo único do artigo 4) elaborada quando da fundação da ABCGIL, em 17/9/1980, sendo registrada no Ministério da Agricultura sob número 67, em 13/3/1991. Essa é uma singularidade da Associação, única que exige do associado possuir animais com características de produção e não somente características raciais (ABCGIL, 2007).
Fonte: Embrapa
Pesquisas relevantes da raça
Em 2015 os pesquisadores da Embrapa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fiocruz -Minas concluíram o genoma da raça Gir leiteiro, entrado para a história sendo que o sequenciamento foi realizado por equipe exclusivamente de brasileiros.
Este avanço auxiliou também nas pesquisas da genética do Girolando, cuja a base de sua formação são as raças Holandesa e Gir. O rebanho nacional leiteiro é composto por 80% deste híbrido daí a importância da raça Gir para a pecuária leiteira nacional.
O sequenciamento é importante pois permite acelerar os ganhos genéticos e otimizar os sistemas produtivos em fatores como produtividade, qualidade do leite e saúde animal.
Outra conquista científica foi o sequenciamento do genoma das mitocôndrias dessas raças. Cada célula carrega informações genéticas no núcleo - DNA nuclear - e também no citoplasma - DNA mitocondrial. Este é menor e com poucos genes em relação ao núcleo, porém porta as características de herança materna, enquanto no núcleo são obtidas as informações herdadas do pai.
O genoma mitocondrial está relacionado à possibilidade de se verificar a origem do indivíduo, também a de algumas doenças e processos que envolvem grande demanda energética, como a produção de leite. Foram identificadas diferenças relevantes entre os genomas mitocondriais das raças zebuínas, caso do Gir Leiteiro e do Guzerá, quando comparados com raças taurinas, como o Holandês.
IZ/Unesp Jaboticabal: Pesquisa revela que raça Gir Leiteiro é eficiente em proteína A2
Outra pesquisa importante para a raça foi realizada pelo Insituto de Zootecnica -UNESP-Jaboticabal que revelou que o Gir leiteiro é eficiente em proteína A2. Este tipo de leite traz benefícios à saúde, agregando valor comercial e à saúde do consumidor.
Das proteínas presentes no leite, cerca de 80% são as caseínas. As caseínas são as proteínas mais abundantes no leite bovino. As beta-caseínas respondem por 25 a 35% do total. Dentre as beta-caseínas, as mais frequentes são as codificadas pelos alelos A1 e A2.
Os resultados obtidos na referida pesquisa aponta uma vantagem para a raça Gir Leiteiro pela elevada frequência do gene que codifica a beta caseína A2.
Com as ferramentas genéticas atuais podem-se identificar as matrizes ideias para este tipo de produção e utilizá-las no rebanho.
Referências Bibliográficas:
Associação Brasileira de Criadores de Zebu - ABCZ ( 2016)
Centro de Referência da Pecuária Brasileira - Zebu ( 2016)
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA - Gado de leite)
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v29,n243,p7-25,mar/abr. 2018; Título do artigo - Gir Leiteiro no Brasil (Autores: Ivan Luiz Ledic, Leonardo de Oliveira Fernandes, Marcos Brandão Dias Ferreira, Sandro Henrique Antunes Ribeiro, Rui da Silva Verneque)
Instituto de Zootecnia - Jaboticabal
Os textos de várias pesquisas publicadas foram resumidos e adpatados pela equipe do CRPBZ e possui todos os autores citados e demais fontes de pesquisa. Pode-se acessar todos os trabalhos clicando nos links.
Para acessa o artigo na íntegra clique aqui
Links para pesquisa :
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU