ILP e a recuperação e renovação indireta da pastagem degradada
Voltar
Você está em:
Sustentabilidade » Sustentabilidade ISO 14001 ABCZ » Tecnologias Sustentáveis
Publicado em 26/07/2016 às 19:13:08
Por Adilson de Paula Almeida Aguiar* O Sistema de recuperação de pastagens degradadas intitulado como "Santa Fé" é uma alternativa funcional, sustentável e que possibilita excelentes resultados ao produtor.
Segundo Kluthcouski et al (2003) o Sistema Santa Fé reúne as principais premissas básicas da competitividade com sustentabilidade da integração lavoura - pecuária, destacando-se: produção de grãos na safra e/ou safrinha e forragem na entressafra, resultando no uso intensivo da área; produção observada de cerca de 120 t/ha de silagem no período chuvoso (aproximadamente oito meses) e 160 t/ha em todo o ano; produção de forragem para pastejo direto no período seco, capaz de suportar mais de duas unidades animal por hectare, podendo o ganho de peso diário ser superior a 500 g de peso vivo por animal, em pastejo controlado; produção de palhada de excelente qualidade para o sistema plantio direto, com amplas possibilidades de redução da utilização das diversas categorias de defensivos empregados na produção das culturas anuais; não altera o cronograma de atividades do agropecuarista; não exige equipamentos específicos; apresenta baixo custo de implantação; e aumenta a eficiência produtiva de algumas culturas anuais, no sistema de plantio direto.
O Sistema Santa Fé, implantado anualmente, consiste no cultivo consorciado de culturas anuais, graníferas ou forrageiras, com espécies forrageiras, principalmente as braquiárias, em áreas agrícolas com solos parcial ou devidamente corrigidos. As práticas que compõem os sistemas minimizam a competição precoce da forrageira, evitando redução no rendimento das culturas anuais e permitindo, após a colheita destas, uma produção forrageira abundante e de alta qualidade. Por tratar -se de pastagem de primeiro ano, tanto a produção de biomassa como a turgidez da forragem se estendem por muito tempo no período seco.
Em áreas irrigadas, a alternativa de se cultivar o feijão, por exemplo, na entressafra, sobre a palhada de braquiária, vem se constituindo numa prática altamente vantajosa, por reduzir os efeitos bióticos nocivos para esta leguminosa. Tem-se observado que também o arroz de terras altas beneficia-se quando é precedido pela braquiária.
Figura 1. Perfis de dois diferentes tipos de solo apresentando desenvolvimento radicular da braquiária até maiores profundidades em área de integração lavoura-pecuária onde a pastagem foi recuperada pelo método indireto com a cultura acompanhante:
Fonte: Pesquisador Dr. João Kluthcouski. Embrapa - Arroz e Feijão
Há evidências de que as braquiárias, pela agressividade de seus sistemas radiculares, promovem a melhoria das propriedades do solo, tornando-o mais fértil e menos compactado, em beneficio das culturas consorciadas ou subsequentes (figura 1).
Em estudos conduzidos em regiões pedoclimaticamente distintas do cerrado verificou-se que a braquiária não afetou a produção forrageira do milho ou do sorgo. Por ocasião da ceifa, entretanto, dependendo do local, foram acrescidas de 4,8 a 8,0 t/ha de silagem de braquiária no caso do consórcio com milho e de 2,0 a 5,6 t/ha no caso do sorgo, resultando numa maior produção forrageira por unidade de área, como mostram os dados da tabela 1. A partir da ceifa da silagem ou da colheita dos grãos, ainda com razoável residual de chuvas no período, o desenvolvimento da forrageira torna-se rápido, com acúmulo diário de matéria verde, variando de 350 kg/ha no solo de média fertilidade até 940 kg/ha no solo de boa fertilidade.
Em Santa Helena de Goiás-GO, por exemplo, em três cortes sucessivos de silagem de braquiária, na mesma área, no período entre março e outubro, em regime de sequeiro, obteve-se mais de 120 t/ha de silagem.
tabela
Na avaliação dos dados obtidos referentes à produção de grãos pelo Sistema Santa Fé, esta não foi afetada significativamente pela braquiária consorciada (tabela 2), com exceção da soja quando não se utilizou subdosagens de herbicidas. Ressalta-se que, nestes casos, não houve nem mesmo a necessidade de aplicação de herbicida graminicida, em pós-emergência, resultando em redução de custo de produção.
O Sistema Santa Fé pode ser estabelecido de forma simultânea ou a emergência da cultura anual. A dessecação da resteva ou o preparo do solo devem ser feitos seguindo-se as recomendações vigentes nos métodos convencionais. No sistema plantio direto, a aplicação correta dos herbicidas como de manejo (dessecante) como os pós-emergentes é de primordial importância. É importante na semeadura, simultânea, que até a completa emergência das plântulas das espécies consorciadas, ainda não tenham surgido as plantas daninhas. Para isso, deve-se realizar a semeadura imediatamente e a dessecação, caso a área não apresente grande quantidade de cobertura.
.
Devem ser utilizados de 5 a 10 kg de semente de braquiária (B. brizantha, B. decumbens ou B. ruziziensis) por hectare com valor cultural (VC) igual a 30%. Caso o VC da semente seja diferente deste, ajustar a quantidade por hectare. Para os consórcios de milho e sorgo, utilizar 7 a 10 kg de semente e para a soja, 5 kg. No caso do consórcio de milheto, pode-se utilizar até 10 kg de semente da braquiária por hectare. São necessárias de quatro a seis plantas de braquiária por metro quadrado para o seu pleno estabelecimento.
As sementes de forrageira devem ser misturadas ao adubo. Não armazenar a mistura por mais de 48 horas para adubos com médio teor de nitrogênio e potássio (exemplo 5-30-15) e 24 horas para adubos ricos em N e K (exemplo 8-20-20).
Na operação de semeadura, regular para que a mistura de adubo e semente da forrageira seja colocada mais profundo, 4 a 6 cm, que as sementes da cultura anual. Nos solos com mais de 70% de argila ou areia, a adubação deve ser mais superficial, em torno de 2 a 3 cm abaixo das sementes da cultura anual.
Para as culturas que exigem espaçamento entre linhas de 30 a 70 cm, utilizar a semeador plantadora de forma convencional, semeando a forrageira em todas as linhas da cultura anual. Para espaçamentos maiores que 70 cm, fileiras adicionais podem ser semeadas utilizando -se os carrinhos de sementes do entremeio, sendo as sementes da forrageira misturadas ao adubo ou não, dosadas pelo disco recomendado para sorgo. A adubação nitrogenada em cobertura deve ser antecipada, em relação ao convencional. Nos solos com mais de 30% de argila, aplica-se todo o nitrogênio cerca de 10 dias após a emergência das plântulas. Nos solos com mais de 70% de areia, aplicar 50% aos dez dias da emergência e o restante quando o milho, o sorgo ou o milheto apresentarem seis a sete folhas totalmente expandidas, e o arroz estiver em estádio de primórdio floral.
tabela 2
No manejo de herbicidas em pós-emergência, no caso do consórcio entre gramíneas (exemplo: milho x braquiária), pode-se lançar mão de herbicidas específicos para plantas daninhas de folha larga, seguindo-se as recomendações convencionais.
No caso do consórcio soja x forrageira, pode-se utilizar subdoses de herbicida específico para a cultura.
Para os consórcios entre sorgo, arroz e milho com forrageira, o procedimento da colheita é o convencional. Deve-se, contudo, evitar atrasos, já que a partir da senescência da cultura, as forrageiras tendem a crescer vigorosamente, podendo causar embuchamento ou reduzir a velocidade de operação da colhedora.
No caso do consórcio com soja, dependendo do desenvolvimento e população da forrageira, pode-se necessitar de uma aplicação de dessecante de contato antes da colheita.
A prática de semeadura da forrageira em pós-emergência da cultura anual é particularmente recomendada nas áreas muito infestadas por plantas daninhas. Entretanto, pode-se generalizá -la no consórcio com todas as culturas, pois permite o controle das ervas daninhas em pós-emergência precoce. Deve ser realizada entre 10 e 20 dias após a emergência da cultura anual.
* Adilson de Paula Almeida Aguiar - Professor na Faculdade Integradas de Uberaba - FAZU e Consultor na Consupec
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU