Admirável ou assustador? Artigo do especialista Luiz Antônio Josahkian sobre genética Voltar

Você está em: Pesquisa » Divulgação de Estudos e Pesquisas Publicado em 11/08/2016 às 16:05:36 - atualizado em 11/08/2016 às 20:01:00
Fonte: cadeia de DNA, www.eclectika.es

Podemos imaginar Gregor Mendel no século XIX em seu monastério cultivando pés de ervilhas. Pacientemente observando e catalogando minuciosamente os resultados de 30 mil plantas, durante oito anos ininterruptos. Os resultados permitiram que ele estabelece as bases do que viria a ser uma nova e espantosa ciência: a genética.

Contudo os postulados de Mendel sobre a existência dos genes permaneceriam, esquecidos por 50 anos, até serem redescobertos, no início do século XX, por três pesquisadores; de forma que a genética, como ciência, é muito recente.

 

Uma cronologia sintética nos conduz a momentos fundamentais, na qual se destacam figuras como Morgan, que provou a existência dos genes. Muller, com a constatação de que os genes poderiam sofrer mutações; Rosalind Franklin, cuja paciência levou Watson, Crick e Wilkins a estabelecer a estrutura do DNA; Paul Berg, com a descoberta do DNA recombinante, que tornava possível fundir partes de DNA de diferentes espécies; entre tantos outros.

 

Entre a modelagem estatística de fenótipos simples de Mendel e as atuais técnicas aplicadas ao DNA, cabe um mundo inteiro de quase ficção. Desde 1971, a transgenia é uma realidade. Fármacos para uso humano, como vacinas e coagulantes, têm sido produzidos por animais transgênicos.

 

Na agricultura, as aplicações são imensas. Entretanto tais técnicas, até então, ficaram restritas aos grandes laboratórios, devido às suas complexidades.

 

Em 2012, foi a vez da descoberta da técnica denominada CRISPR -Cas9, que ocupou as manchetes dos jornais do mundo inteiro. Mas o que ela trouxe de tão diferente?

 

NA verdade, a CRISPR não foi uma invenção. Copiamos a natureza. Ela é uma sequência simples de DNA que foi encontrada em bactérias associadas a um conjunto de enzimas denominadas Cas. Dentre elas, o sistema mais utilizado é o CRISPR-Cas9.

 

Os estudos mostraram que o CRISP era um mesmo trecho de DNA de alguns vírus que infectam bactérias. Isso levou os pesquisadores a concluir que a aqueles trechos eram partes de DNA viral capturado por bactérias e, em uma segunda infecção, o vírus era reconhecido e eliminado.

 

A sequência de DNA incorporado no genoma da bactéria identifica o invasor por semelhança e a Cas9 corta o DNA viral ao meio inativando o vírus - uma "vacina" fantástica.

 

Esse mecanismo foi recriado e agora é possível editar qualquer genoma, bastando ter a sequência correta do que se quer eliminar ou incorporar. Além de ter um custo animador, a técnica pode ser realizada na maioria dos laboratórios.

 

Claro que isso traz um pouco de temor. Afinal, segundo nossos paradigmas, genes de macacos devem permanecer em um macaco e não devem aparecer em tomates ou cenouras - e muito menos em humanos. A própria comunidade científica decretou uma espécie de moratória no uso da técnica, o que não tem impedido seu avanço nem refreado as disputas por patentes e as enxurradas de investimentos.

 

Em 2015, pesquisadores chineses aplicaram técnicas em embriões humanos, buscando cura para doenças genéticas. A comunidade científica internacional considerou que havia sido rompido a barreira biomédica e os resultados não foram animadores, embora tenham sido promissores.

 

De Mendel à CRISPR, evoluímos, mas criamos uma sombra quanto aos aspectos éticos, jurídicos, ambientais e até mesmo da própria genética. Há muito por entender e, mesmo que agucemos nossa visão para o futuro, ainda é difícil distinguir se caminhamos para um admirável ou assustador mundo novo.

 

*Artigo produzido por Luiz Antônio Josahkian, Especialista em produção de ruminantes, Professor de melhoramento genético, e Superintendente Técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - ABCZ.

Fonte: Globo Rural ( Agosto de 2016)

 


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