Uberabatitan: um "dinossauro-zebu" no Centro Paleontológico de Peirópolis (MG)
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Publicado em 16/08/2016 às 14:17:11

Apesar de uma diferença no tempo de 65 milhões de anos, a descoberta do Uberabatitan - o maior dinossauro brasileiro e possivelmente o último do planeta - tem uma série de pontos em comum com a história do zebu no Brasil. Leia a matéria publicada pela Revista Globo Rural em 2010. Na edição de julho do ano de 2009, a revista inglesa Palaeontology traz, num artigo de 20 páginas, assinado por um cientista brasileiro e um argentino, a informação da descoberta do Uberabatitan ribeiroi. O local da descoberta está no nome - Uberaba, Minas Gerais. Faltou falar de uma coincidência incrível: o dinossauro gigante do Brasil foi encontrado na formação geológica das terras da mesma fazenda - Fazenda Cassu - onde se fez há 102 anos, quer dizer, em 1906, a primeira exposição de zebu em nosso país, exposição essa que deu origem à famosa e importante ExpoZebu, que se realiza todo mês de maio em Uberaba.
Por volta de 1906, nosso gado era todo de origem europeia. No clima brasileiro e, mais ainda, nas pastagens nativas de má qualidade, esse gado tinha definhado a ponto de uma vaca criadeira pesar 140 quilos aos cinco anos. Hoje, com o zebu, um garrote de dois anos - como se deu com Gero, da Fazenda Nova Índia - chega, em condições especiais, a mil quilos em dois anos.
A transformação do zebu no boi brasileiro - hoje, de 80% a 90% de nosso rebanho carrega sangue predominante de zebu - teve, nessa primeira exposição da Fazenda Cassu, um de seus marcos históricos mais significativos. Usando sangue de nelore, gir e guzerá, que buscava diretamente na Índia, a Fazenda Cassu queria formar uma raça de "zebu nacional" (como os americanos acabaram fazendo com o brahman) que fosse o mais pesado dos zebus. Essa raça devia chamar-se induberaba, mas, na hora do registro no Ministério da Agricultura, o nome passou para indubrasil.
Outra coincidência: mais de 60 anos atrás (como veremos logo adiante) foi encontrado o primeiro dinossauro de Minas (um parente do Uberabatitan, ou quem sabe ele mesmo) num desvio ferroviário na própria Fazenda Cassu. Duas coincidências, mas que não são as únicas. O anúncio da descoberta do Uberabatitan ('titan' é uma palavra grega que significa gigante) se deu na Casa da Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro, dia 24 de Setembro de 2008. Foi notícia de destaque em todos os telejornais do dia e ganhou primeira página nos jornais impressos do dia seguinte, além de 10 mil citações na internet.
No Jornal nacional, da TV Globo, no dia do anúncio, Willian Bonner deu assim a notícia: "Uma réplica do maior dinossauro já descoberto no Brasil foi apresentada hoje no Rio". Aparecem imagens do esqueletão montado para esse acontecimento com a voz da repórter Sandra Passarinho: "Um dinossauro desse tamanho no Brasil só se via em filme. Ao vivo é outra coisa". Surge na TV o rosto de uma jovem, possivelmente estudante, olhando o bicho e, de certa forma, confundindo as coisas: "Estou deslumbrada! Ele foi o começo de tudo, né?".

Visite o Sítio Paleontológico de Peirópolis. Está instalado no prédio da antiga estação ferroviária, construída em 1889. Acervo: PMU, 2016.
Agora a repórter Sandra está diante da câmera: "O gigante de Uberaba faz dessa cidade mineira a "capital nacional do dinossauro". Essa descoberta é resultado da maior escavação de fósseis já feita no Brasil. A reportagem segue com dimensões e características do gigantão.
Para calçar sua matéria em fontes dignas de respeito, Sandra Passarinho entrevista duas pessoas: o professor Ismar de Souza Carvalho, paleontólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor brasileiro do artigo que revelou o achado do Uberabatitan - e Luiz Carlos Borges Ribeiro, este um geólogo de Uberaba cuja presença, naquele ato, é a terceira grande coincidência em volta do dinossauro gigante: Luiz Carlos cresceu na mesma casa do homem - coronel Zé Caetano - que fez sozinho (e repetiu por cinco anos seguidos), em sua Fazenda Cassu, a exposição de zebu de Uberaba, até que, em 1911, ela passou a ser feita pela prefeitura e depois (a partir de 1934) pelo que é hoje a ABCZ. Coronel é seu bisavô.
"É emocionante a ideia de que eu, quando menino, andei a cavalo, ou a pé, no mesmo lugar onde viveram os nossos titans, que são hoje o meu assunto principal...", diz Luiz Carlos. O geólogo não estava no lançamento do Uberabatitan no Rio por causa da coincidência de ser bisneto daquele bisavô nem por nenhuma questão de família. Estava lá simplesmente porque ao maior dinossauro brasileiro foi dado seu nome.
De fato, a identidade do bichão que chegava a ter 20 metros de comprimento (5 a 6 de altura, peso de 15 toneladas ou mais) é Uberabatitan ribeiroi. "Uberaba" para indicar o lugar onde foi achado; "titan" por se tratar de um titanossauro (esses dinos herbívoros de pata de elefante e pescoço comprido) e 'ribeiroi', em homenagem a Luiz Carlos Borges Ribeiro, que foi quem encontrou, escavou e recolheu os fósseis que vieram a constituir o maior dinossauro brasileiro.

Uberabatitan. Revista Globo Rural, 2016.
O último dinossauro?
O Uberabatitan ribeiroi vem rodeado de proezas: é o maior dinossauro brasileiro, aquele cuja réplica foi feita com base em maior número de fósseis encontrados e também o que foi resultado da maior escavação paleontológica já realizada no Brasil. Outra característica daria ao gigantão de Uberaba um novo título: o de 'o último dos dinossauros'.
Os dinossauros surgiram há mais de 200 milhões de anos, e dominaram o planeta até 65 milhões de anos atrás, quando, em função de uma catástrofe na Terra (possivelmente pela queda de um meteoro e mudanças climáticas globais), foram extintos, em meio a uma destruição de muitas outras espécies - cerca de 70% das viventes naquela época.
A situação geológica em que o Uberabatitan foi encontrado dá a ele uma idade de 65 milhões de anos, isto é, coincidindo com a data do desaparecimento dos dinos. Se essa datação for correta, pode-se dizer: após o Uberabatitan, nenhum outro dinossauro pisou o planeta. Assim, ele tanto pode ser o último dos dinossauros como o mais novo deles.
Para ver a reportagem completa, acesse aqui.
Fonte: Revista Globo Rural (Edição 296, junho de 2010)
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