O CRPBZ destaca as ações de um pesquisador suíço que, há muito, vem recebendo elogios, como o melhoramento genético de forragens e outros métodos ambientalmente sustentáveis. Tanto que a atual "novela das 9" da Globo, Velho Chico, cita a Agricultura Sintrópica, técnica desenvolvida para demonstrar como é possível recuperar solos degradados e produzir alimentos em sistemas agroflorestais. Entenda um pouco mais sobre sua história, contribuição e experiência.

*Por Mimi Barros, historiadora (ABCZ/Museu do Zebu) e colaboradora do CRPBZ.

Nada melhor do que perceber a força que a novela brasileira tem em promover, instruir e divulgar questões que tocam e comovem o coração das pessoas. Salvo o contrário, cada vez mais é possível notar o envolvimento de temas que aprofundam o debate sobre assuntos relevantes para a diversidade das ações humanas e a harmonia que devem e precisam manter com o planeta. A novela Velho Chico vem fazendo sucesso nesse quesito, quando escolheu como um de seus propósitos instigar o povo a refletir sobre abordagens que vão além das paixões, como a agricultura familiar, a sustentabilidade e a agroecologia.

Ernst Götsch é um agricultor e pesquisador suíço de 68 anos de idade que migrou para o Brasil no começo da década de 1980 e se estabeleceu em uma fazenda na zona cacaueira do sul da Bahia. Desde então vem desenvolvendo técnicas de recuperação de solos por meio de métodos de plantio que mimetizam a regeneração natural de florestas. Espalha, por assim dizer, a sintropia pelo Brasil, produzindo alimentos em florestas e tirando dessa ideia seu próprio sustento.

Com o acúmulo de mais de três décadas de trabalho, os quais resultaram na recomposição de 410 hectares de terras degradadas (dos quais 350 foram transformados em RPPN - Reserva Particular de Patrimônio Natural, a primeira da Bahia), Götsch elaborou um conjunto de princípios e técnicas que visam integrar produção de alimentos à dinâmica de regeneração natural de florestas, sempre complexificando sistemas - ao que convencionou chamar de Agricultura Sintrópica, que é praticamente o oposto da entropia (medida da desorganização de um sistema).

O conceito aprimorado por Götsch é resultado de décadas de trabalho no campo, pesquisa científica e análise de teleologia, a ciência que estuda as finalidades do universo. Segundo a revista Globo Rural (Edição nº 370, agosto de 2016), iniciou seus experimentos na Suíça, trabalhando com melhoramento genético de forrageiras. Na Alemanha, implantou pela primeira vez um SAF (Sistemas Agroflorestais) para produzir hortaliças. Na Costa Rica, em 1970, inseriu refugiados nicaraguenses em projetos de agricultura sustentável, até que, em 1982, fincou de vez o pé no Brasil.

Com relação ao melhoramento genético, perguntou-se: "Será que não conseguiríamos maior resultado se procurássemos modos de cultivo que proporcionassem condições favoráveis ao bom desenvolvimento das plantas, ao invés de criar genótipos que suportem os maus tratos a que as submetemos?". Assim germinava o pensamento sobre Agricultura Sintrópica dentro da pesquisa e da vida desse grande agricultor.

Sempre buscando o caminho dos consórcios entre espécies, passou a testar as antigas tradições de plantação de milho junto com feijão, quando experimentou novas associações como trigo e ervilha ou framboesa, maçã e cereja, entre outras. Do sucesso das colheitas começa a surgir a ideia de organismo. Desde então, viria a ideia de cooperação e sucessão dos sistemas, além de tantos outros conceitos que fundamentam a filosofia e a técnica desse pesquisador, no sentido mais orgânico possível dos termos.

O nome da Fazenda onde foi morar, como de costume na região da Bahia, era uma metáfora da realidade local: "Fazenda Fugidos da Terra Seca". Foram aproximadamente 500 hectares de terra tornada improdutiva devido às práticas de corte de madeira, repetidos ciclos de cultivo de mandioca nas encostas dos morros, criação de suínos nas baixadas e formação de pastagens por meio de fogo ao longo das margens da estrada que corta a propriedade.

Embora tenha sido árduo, ali continuaria o desenvolvimento de seus experimentos em diversos Sistemas Agroflorestais (SAF), alcançando alta produtividade em grande variedade de espécies vegetais, com destaque para o cacau e a banana. Além de alimentar sua família, a consequência de sua intervenção pôde ser empiricamente observada mais tarde: a Mata Atlântica ressurgia na área, com todas as suas características de flora e fauna. Um verdadeiro milagre! Atualmente são cerca de 120 hectares de Reserva Legal ambientalmente reconhecida e regulamentada pelo MMA. Cerca de 14 nascentes ressurgiram na fazenda que hoje, seguindo a tradição cronista, passou a chamar-se "Fazenda Olhos d'Água".

Referência internacional em Sistemas Agroflorestais Sucessionais, Götsch desenvolveu uma apurada técnica de plantio cujos princípios e práticas podem ser aplicadas em diferentes ecossistemas. Com uma visão da agricultura que reconcilia o ser humano com o meio ambiente, o pesquisador tem muitos artigos publicados. No entanto, sem com isso escrever de modo enfático sobre o conjunto de suas observações, pois acredita que sua pesquisa não está acabada. Embora tenha chegado a tantas conclusões, diz que "não há o que ser dito, pois é tudo muito óbvio". Basta ver o que foi capaz de fazer para saber o quanto estava certo em suas indagações. A contribuição que vem dando é sim um verdadeiro "sucesso global", como é possível observar.

Para saber mais, acesse alguns links de interesse sobre o assunto em:

Agricultura Sintrópica e Agroflorestas (Materiais para pesquisa)

Ecoeficientes - Especialistas em técnicas de Construção Sustentável

Curso Preparatório de Agricultura Sintrópica (Ernst Götsch)