A ciência genética para ajudar o criador a fechar as contas, entrevista com Michael MacNeil
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Publicado em 24/08/2016 às 10:49:39
O time de cientistas e especialistas em melhoramento genético do PMGZ já conta com o reforço do norte americano Michael MacNeil. O novo consultor da ABCZ é referência no desenvolvimento de índices econômicos em diversos países e para diversas raças bovinas, tendo atuado por mais de 30 anos no Departamento de Pesquisa do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). O Dr. MacNeil esteve na ABCZ no mês de abril, para apresentar a sua metodologia de aplicação de índices econômicos em programa de melhoramento genético. A sistemática possibilita a associação de ganhos financeiros a cada característica selecionada pelos criadores aos rebanhos de produção de genética. A criação do índice econômico do PMGZ é um grande desafio que já faz parte da agenda da ABCZ.
ABCZ: Quais foram os principais desafios profissionais ao longo de sua carreira?
Michael MacNeil: Um desafio quase constante tem sido ser capaz de adaptar- me às mudanças. De um ponto de vista técnico, as mudanças vão de programas de melhoramento genético fundamentados na avaliação de touros baseada no desempenho da progênie em algumas poucas características de fácil mensuração, para a recente inclusão de informações genômicas e metodologias Bayesianas, para avaliação de milhões de animais em um número muito maior de características. A maneira adequada de avaliar a interrelação entre essas características para tomar decisões eficientes de seleção permanece como um desafio contínuo.
ABCZ: Um dos maiores desafios em programas de reprodução é alinhar os objetivos dos produtores comerciais com os dos produtores genéticos. Como o senhor encara esta questão, em um país de dimensões continentais e com uma variedade de sistemas de produção como o Brasil, do ponto de vista econômico?
Michael MacNeil: Eu gostaria de inverter essa pergunta e enunciá-la assim: "Como os objetivos dos selecionadores podem ser alinhados com os dos produtores de carne e leite?" Em uma grande parte, a seleção é aplicada nos plantéis de seleção, que resulta em mudanças genéticas. Quando este melhoramento genético é transferido para os rebanhos comerciais, seja sob a forma de touros, sêmen, embriões, etc., os produtores de carne e leite obtêm os benefícios resultantes da seleção aplicada. Esses benefícios motivam os produtores comerciais a pagarem mais para os criadores de animais melhoradores e, portanto, os selecionadores ficam motivados a investir ainda mais no melhoramento genético. Assim, para a viabilidade financeira em longo prazo dos selecionadores, é da maior importância que eles alinhem seu programa de seleção com os interesses econômicos dos seus clientes que produzem carne e leite.
ABCZ: Então, o selecionador, que o senhor chama de produtor genético, tem que procurar conhecer o mercado que ele atente?
Michael MacNeil: Obviamente, que cada selecionador tem vários clientes que são produtores de carne e leite. Esses produtores comerciais lidam com diferentes sistemas de produção e ambientes. Como um selecionador, meu programa pode ser baseado em uma caracterização média de meus clientes comerciais; então eu posso permitir que eles usem seus conhecimentos sobre circunstâncias individuais para tomar decisões inteligentes a respeito de suas compras. O quadro geral é que todos os produtores comerciais produzem um produto similar - alimento para alimentar pessoas. Eles também utilizam um conjunto semelhante de recursos na produção - alimento primário para o seu gado. Ambos, os produtos produzidos e recursos utilizados, estão sujeitos aos mercados nacionais e internacionais. Dessa forma, é sensato utilizar dados econômicos abrangentes.
ABCZ: Como a introdução de um índice econômico pode contribuir para o desenvolvimento seletivo do gado zebu brasileiro?
Michael MacNeil: Fundamentalmente, os pecuaristas estão no negócio para ganhar dinheiro. Índices econômicos são ferramentas que podem ajudá-los a alcançar esse objetivo. Índices fazem isso resumindo a DEP, ou características economicamente importantes de modo que maximiza a rentabilidade esperada da progênie. Dito de outra maneira, os índices permitem que a ponderação entre as DEPs seja feita de forma consistente de modo que os produtores comerciais possam, eficientemente, fazer um balanço entre os fatores que contribuem para os custos de produção e o valor de mercado dos produtos.
ABCZ: Qual é o maior desafio para implementar os indicadores de tecnologia econômica em um país cuja economia é instável e heterogênea?
Michael MacNeil: O reconhecimento de que qualquer programa de melhoramento genético para bovinos de corte é uma proposta de longo prazo, é um desafio universal. Mesmo em experimentos de seleção bem delineados e com objetivos simples, levam-se algumas gerações (10-15 anos) para detectar algum progresso. É improvável que um programa de melhoramento genético que mude seus objetivos a cada aquisição de novos touros obtenha progresso genético real. Instabilidade e heterogeneidade complicam o desenvolvimento de ferramentas de previsão econômica. No entanto, elas também motivam o desenvolvimento de índices como ferramentas visionárias para ajudar a gerenciar esse cenário.
ABCZ: O senhor tem uma vasta experiência na implementação de índices econômicos em muitos países. Qual a sua expectativa no Brasil em relação à eficácia de um índice econômico, ou, qual é a distância entre o que poderia prever e o que seria alcançável?
Michael MacNeil: Como um estrangeiro olhando para o Brasil, a minha impressão é de que existem algumas circunstâncias que tornam mais provável que os índices econômicos possam obter maior sucesso do que em alguns outros países. O Brasil tem alguns rebanhos comerciais grandes que são bem geridos e motivados pelo lucro. O Brasil também faz uso substancial de tecnologias de reprodução assistida que permitem o uso mais amplo de germoplasma com maior mérito genético. O alto grau de especialização técnica dos brasileiros que estão envolvidos em programas de melhoramento genético também é motivador. Talvez a maior desvantagem que vejo é a lentidão na adoção de tecnologias no campo.
ABCZ: Quais as características que considera fundamental para a seleção no Brasil no momento em que estamos com nosso gado?
Michael MacNeil: Aqui, novamente, eu sou uma pessoa de fora fornecendo uma perspectiva baseada em um conhecimento limitado da situação local. Dada a ampla diversidade de ambientes e sistemas de produção em que o gado é produzido no Brasil, parece lógico que a interação genótipo por ambiente pode ser importante. O desdobramento da existência de interação genótipo ambiente é que mesmo que nós falemos da mesma característica, suas bases genéticas podem ser diferentes no Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Características que estão associadas com adaptação aos ambientes locais provavelmente também são importantes.
ABCZ: Explique como é a construção de um índice econômico e, no caso do PMGZ, quais seriam as variáveis exigidas?
Michael MacNeil: O processo de construção de um índice econômico começa com a concepção de modelos de sistemas de produção comerciais típicos. Uma vez que os modelos são considerados representações satisfatórias dos sistemas de produção que foram destinados a simular, eles são submetidos a seguinte questão: "quanto é a mudança no lucro se alterarmos uma unidade em uma característica mantendo-se todas as outras constantes?". Estou ansioso para trabalhar com a equipe da ABCZ para entender melhor os sistemas de produção que serão representados no desenvolvimento de nosso modelo.
* O Dr. Michael MacNeil, é um pesquisador mundialmente reconhecido no campo da reprodução e da pesquisa animal. Ele é o novo consultor d Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas - PMGZ. O pesquisador tem inúmeras publicações científicas e uma vida dedicada à invenção de uma receita lucrativa a pecuária.
Entrevista realizada por Márcia Benevenuto
Fonte: Revista ABCZ, nº 93. Ago. 2016.
Adaptações: CPRBZ / MUSEU DO ZEBU
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU