Os desafios da Pecuária por Luiz Antônio Josahkian Voltar

Você está em: A Força do Agronegócio » Palavra de especialistas Publicado em 14/09/2016 às 14:35:03 - atualizado em 15/09/2016 às 10:25:05
Luiz Antônio Josahkian. Foto: ABCZ, 2016.

Por Luiz Josahkian*

Desde que Cabral chegou por aqui, muita coisa mudou, especialmente em nossa economia. Uma rápida espiada na história nos leva dos escambos com os índios aos grandes ciclos econômicos. Começamos com o extrativismo do pau-brasil, passamos pela cana-de-açúcar, pela extração de ouro e diamantes, pelos ciclos do algodão, do café e da borracha e de novo pela cana-de-açúcar, mas desta vez ao lado da soja e outros grãos mundialmente comercializados, Vimos nosso país se transformar.

Em meio a esses grandes ciclos econômicos - todos obviamente suportados pelo mercado extemo surgiu a pecuária bovina mais ou menos como a conhecemos hoje. com proprietários e fazendas exclusivas de gado. Ela surgiu basicamente atrelada às necessidades de tração animal para o primeiro grande ciclo da cana - de - açúcar. Desse ponto em diante, foi um pulo para que o gado fosse o responsável pela interiorização do país. Dai ser usual se dizer que o Brasil foi aberto a cascos de boi.

 

Desde aqueles tempos, a tônica sempre foi a mesma: as terras mais férteis e aráveis, e, portanto, mais caras, eram destinadas à agricultura, sendo a bovinocultura empurrada para o interior. Quinhentos anos depois, a situ ação não é muito diferente. Ouso da terra continua sendo determinado pelo retorno econômico por produtividade por área, acresci do, agora, do passivo ambiental que a legislação nos obriga a recuperar. Mas as semelhanças da pecuária com nosso passado colonial terminam aqui.

 

Hoje, as decisões são mais complexas e envolvem uma sociedade exigente quanto aos padrões de produção e a competição com. outros segmentos agroindustriais. Nesse contexto, as principais culturas, quando vistas do ponto de vista do valor biológico, são muito diferentes. Enquanto a soja produz 295 quilos de proteína metabolizável por hectare (aquela que é realmente bio disponível) e o milho 67 quilos, a carne bovina oferece 17 quilos.

 

Claro que isso não é novidade para ninguém, mas.à medida que o valor da terra aumenta e surgem alternativas de cultivos mais rentáveis, a bovinocultura precisa se reposicionar - e urgentemente. Para que a pecuárias e mantenha competitiva, pelo menos quatro grandes dimensões dos sistemas de produção de carne precisam ser otimizadas: a eficiência reprodutiva, a velocidade de crescimento e de terminação, a eficiência alimentar e a adaptabilidade aos ambientes. Todos esses aspectos têm componentes genéticos passíveis de seleção e melhoramento.

 

Mudar o perfil genético dos rebanhos comerciais é uma estratégia inteligente porque, diferentemente de outras tecnologias, como pastagens e sanidade, por exemplo, a genética não tem seus efeitos corroídos pelo uso e nem pelo tempo. Ao contrário, os ganhos são acumulativos e permanentes. Obviamente que isso não coloca sanidade e nutrição em segundo plano, porque não há genética melhorada que se manifeste adequadamente na ausência desses fatores.São tecnologias diferentes.

 

A tarefa de mudar o rebanho bovino de corte nacional começa nos planteis de seleção, e para isso eles precisam estar alinhados com os desafios do produtor comercial. Mesmo com esse cenário desafiador, a boa notícia é que a carne continuará sendo um alimento nobre sempre vinculado á evolução do homem desde os tempos das cavernas. Nutricionalmente, é uma das causas do nosso sucesso evolutivo, fornecendo energia, proteínas, vitaminas e minerais, alguns deles, como o ferro, dificilmente encontrados em outros alimentos com a mesma disponibilidade. Seguimos com nosso DNA atávico de caçadores e coletores, embora não precisemos mais sair por aí com uma lasca de pedra na mão. Vamos ao supermercado.

 

*Luiz Josahkian, é zootecnista, especialista em produção de ruminantes e professor de Melhoramento Genético na Faculdade Associadas de Uberaba - FAZU. É Superintendente Técnico da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ).

Artigo publicado pela Revista Globo Rural - Ed. Setembro. 2016.


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