O lixo que virou lucro: veja como é possível transformar resíduos bovinos em Biogás
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Publicado em 06/10/2016 às 15:03:27
- atualizado em 06/10/2016 às 15:06:10

O CRPBZ apresenta o boi que virou tijolo, energia elétrica, gás, repelente de insetos, fortificante, divisórias, medicamentos, lubrificante aeronáutico, explosivos, filtro de combustível, chiclete, música, obra de arte, entre outros. Saiba o motivo pelo qual os pecuaristas podem dizer que "do boi se aproveita até o berro." Nada menos que cerca de 50 segmentos industriais dependem das matérias-primas geradas a partir do abate bovino para colocar seus produtos no mercado. Em algumas propriedades rurais e empresas do setor, a energia usada para colocar em funcionamento eletrodomésticos ou equipamentos e máquinas de produção vem do esterco. É a chamada energia limpa. E existe "matéria-prima" para isso.
O Brasil tem 164,9 milhões de bovinos eliminando diariamente toneladas de excremento no meio ambiente. Desse total de cabeças, em torno de 45,3 milhões devem ser abatidas este ano. Para se ter uma idéia do potencial brasileiro para gerar energia a partir de dejetos, cerca de 18% do peso de um boi de 468 quilos, pronto para deixar a fazenda rumo ao frigorífico, corresponde a fezes e urina.
O excremento animal contém metano, principal componente do gás natural e do biogás (a fonte energética mais em voga no momento pelo fato de ajudar na preservação do meio ambiente). É que o metano tem um lado negativo quando vai direto para o ar, sem passar pelo processo de combustão. Ele é um dos gases causadores do efeito estufa, ou seja, sua presença na atmosfera afeta a temperatura e o clima da Terra. Isso acontece, por exemplo, quando o excremento de bovinos, suínos, caprinos, búfalos e aves fica ao ar livre sem qualquer tipo de tratamento.
De acordo com dados da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, o metano responde por 16% de todas as emissões de gases de efeito estufa produzidos pelas atividades humanas. Além disso, é 23 vezes mais eficiente que o dióxido de carbono para "aprisionar" o calor na atmosfera durante um período de mais de 100 anos e pode permanecer na atmosfera por cerca de 12 anos. O Brasil está entre os países que mais emitem metano por meio da criação de animais.
A boa notícia é que, com tanta matéria-prima, produzir biogás no Brasil é tarefa fácil. E principalmente agora, pois essa fonte de energia está sendo considerada importante moeda de troca no mercado internacional. Os países industrializados que não reduzirem suas emissões de gases causadores do efeito estufa terão de investir nos países em desenvolvimento (como o Brasil, por exemplo) comprando créditos de carbono. A determinação é do Protocolo de Kyoto e já está em vigor.

O boi sustentável é perfeitamente administrado através de tecnologia avançada. Programa ABC, 2016.
De olho nesse novo mercado que se abre, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio firmou convênio com a Bolsa de Mercadorias e Futuro (BM&F) para criação do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões. É aí que entra o produtor rural. O metro cúbico de biogás produzido na fazenda equivale a um crédito de carbono nesse novo mercado.
As negociações em torno dos créditos de carbono estão apenas começando, mas os investimentos em biogás pipocam por todo o mundo. Quarto maior rebanho bovino mundial, os EUA está se mobilizando para fazer o "lixo" das fazendas virar dinheiro. No Texas, região de forte vocação pecuária, a companhia Panda Group vai investir US$ 120 milhões na construção de uma indústria de álcool. O diferencial do projeto está no tipo de combustível que será utilizado para colocar as caldeiras em funcionamento. No lugar do gás natural, a empresa vai usar biogás, produzido a partir de esterco bovino. A economia de energia está sendo estimada em mil barris de petróleo por dia.
Da terra do Tio Sam também vem a iniciativa de se criar o Mercado de Metano. O governo norte-americano pretende aplicar até US$ 53 milhões nos próximos cinco anos para facilitar o desenvolvimento e a implementação dos projetos de metano nos países em desenvolvimento e países com economias em transição. A estimativa é de que a Criação de Mercado de Metano consiga atingir, até o ano de 2016, reduções anuais de emissão de 15 bilhões de metros cúbicos de gás natural, cujo metano é o principal componente.
No Brasil, os investimentos também avançam. Já existem várias fábricas de biodigestor no mercado. Apesar de ter ganhado destaque na mídia atualmente por causa da venda de créditos de carbono, o biogás é produzido no País desde a década de 40, quando padres construíram biodigestores nas comunidades onde trabalhavam. Quatro décadas depois, o governo implantou alguns programas de incentivo à implantação do equipamento em fazendas. Na época, cerca de sete mil biodigestores foram instalados.
Problemas operacionais levaram muitos pecuaristas a abandonar, anos depois, a tecnologia. Ela só voltou a surgir no cenário nacional em 2001 por causa do Apagão, crise que causou racionamento de energia no Brasil por vários meses. Outro empurrão para a volta dos biodigestores, ocorrido no mesmo ano, foi o problema ambiental causado pela falta de tratamento dos dejetos de suínos.

Infográfico sobre a transformação dos resíduos do boi em Biogás. Simgás, 2016.
Agora, as exigências do Protocolo de Kyoto acabaram impulsionando novamente os projetos na área de biogás. "A venda de créditos de carbono é um mercado que está se abrindo agora, mas com grande potencial para crescer. O criador consegue ter em no máximo dois anos retorno do investimento feito", explica Jorge de Lucas Júnior, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp, campus de Jaboticabal. A universidade desenvolve estudos com biogás desde 1975.
Uma vaca confinada consegue produzir, em um dia, quantidade de esterco para gerar um metro cúbico de biogás. Encanado, ele sai diretamente do biodigestor para alimentar motores, bombas de água para o sistema de irrigação ou outros equipamentos e máquinas que dependem de energia elétrica para funcionar. Além disso, pode ser usado em fogões, lampiões ou para aquecer caldeiras. Na China existem pequenas cidades que funcionam utilizando o biogás como principal fonte de energia. Por lá, até mesmo dejetos humanos são matéria-prima para gerar energia através dos biodigestores.
O biogás a partir do esterco bovino demora em torno de 15 a 20 dias para ser produzido quando o equipamento é abastecido pela primeira vez. Depois desse período, o gás pode ser retirado diariamente. As fezes devem ser diluídas em água antes de serem colocadas no biodigestor, feito geralmente de lona flexível de PVC. "Dentro do equipamento também acontece a produção de biofertilizante, que pode ser utilizado na fertilização do solo em substituição ao adubo químico. Só não é recomendável usá-lo nas hortaliças de folhas", destaca Renata Serafim, professora da Fazu (Faculdades Associadas de Uberaba).
Outros resíduos bovinos também são aproveitados como fertilizantes de plantas. É o caso da urina. Segundo a Emater do Rio Grande do Sul, o líquido contém uma série de substâncias importantes na recuperação do solo, como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, ferro. Além disso, a urina tem ácido indolacético, hormônio natural que auxilia no crescimento da planta. O cheiro forte do líquido ainda espanta os insetos.
Fonte: Página Rural, 2016 (Adaptações da Equipe do CRPBZ)
Veja, a seguir, o vídeo promocional da Diaconia Brasil (2015) sobre a produção de Biogás nos Biodigestores a partir do resíduo animal nas fazendas.
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