Raças formadas pelo Guzerá: o gado que acompanha a humanidade desde as primeiras civilizações
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Publicado em 07/10/2016 às 13:59:29
- atualizado em 07/10/2016 às 14:17:44
O gado indiano Kankrej ou Guzerá como é conhecido no Brasil é a mais antiga de todas raças zebuínas. Sua presença remete a milênios e se mistura com a própria história da humanidade, uma vez que o uso dessa pecuária é uma das bases que estruturou algumas entre as primeiras grandes civilizações da antiguidade.
Vestígios arqueológicos, como carimbos de selos e cerâmicas de terracota comprovam a existência do Guzerá a cerca de 5 mil anos em sítios arqueológicos em Mohenjo-Daro e Harappa, na Índia, mais propriamente ao longo do vale do Indo até as fronteiras do Paquistão. Sendo assim, o habitat do Guzerá é a região predesértica de Kutch, em Gujarat, sequenciado ao norte pelo deserto de Thar e pelo deserto de Sind.
Sua dispersão ocorreu para outras civilizações em regiões que iam das antigas Mesopotâmia a Síria. No museu de Bagdá no Iraque é possível verificar diversas peças de diferentes épocas que o Guzerá aparece materializado em artefatos de ouro, esculturas e até em moedas.
Mapa dos sítios das primeiras civilizações indianas onde o gado Guzerá era uma das bases de suas organizações sociais e econômicas. Fonte: Redhistória.com
Hoje, a efígie do Guzerá é distintivo do próprio Ministério de Agricultura da Índia e é apontada como sendo "melhoradora das demais raças" sendo a raça predominante no país. No Brasil, o Guzerá está espalhado por várias regiões mas é notória sua presença na região nordestina, onde foi a única raça que sobreviveu, produtivamente, durante os cinco anos consecutivos de seca (1978-1983), além de ter enfrentado também outras secas históricas (1945, 1952).
No Brasil foi uns dos primeiros animais da raça zebuína a chegar ao Triângulo Mineiro (touro Lontra em 1889) e até as primeiras décadas do século passado era a raça de corte zebuína mais expressiva no Brasil. Por suas qualidades naturais como alta resistência, porte avantajado, ganho de peso rápido, capacidade de conversão de fibras de baixa qualidade em carne e leite as matrizes Guzerá foram usadas na formação de varias raças. Na década de 50 praticamente quase foi extinta mas alguns criadores tradicionais preservaram seus plantéis, em uma fase em que a grande maioria do rebanho foi usada para a criação do Indubrasil. O kankrej, como é chamado na Índia, é a base de sintéticos como Brahman, Santa Gertrudis, Indubrasil, Lavínia, Pitangueiras, Cariri, Tabapuã, Santa Mariana, Guzolando (Guzerá com holandês) e Guzonel (com Nelore).
O Guzerá é fonte de DNA PURO, capaz de gerar heterose em qualquer cruzamento seja em zebuínos ou com raças européias e quando selecionado em rebanhos puros tem muitas possibilidades genéticas, linhagens abertas facilitando o ganho por genética aditiva.
Por tudo que a raça representa para a pecuária nacional, mas principalmente pela perseverança dos criadores a seleção do Guzerá persistiu e suas qualidades foram sendo aperfeiçoadas, prova disso é que venceu 70 % das provas de ganho de peso em que participou organizadas pela ABCZ.
O Rebanho Guzerá tem crescido muito nos últimos anos e a tendência é esse crescimento continuar em ritmo forte pois na pecuária de corte moderna é opção segura de resultados, o Guzerá tem como principal característica imprimir suas qualidades em qualquer cruzamento, melhorando a habilidade materna, carcaça e conversão alimentar.
O crescimento de rebanhos puros Guzerá tem sido uma constante, pois além de opção de cruzamento a raça tem se mostrado altamente prolífica em programas de coleta de embriões viabilizando a formação de grandes plantéis puros, como o do Guzerá da Barra.

Animais da raça Guzerá. Crédito: Jadir Bison.
Brahman
De 1835 a 1906, o Guzerá foi a raça mais importada para os Estados Unidos e para a America do Sul. Nos Estados Unidos, formou o Brahman. O Guzerá, responsável pela formação do Brahman nos Estados Unidos, agora irá produzir um Brahman brasileiro, de maior altura, maior definição racial, maior rusticidade e melhor habilidade materna. Não é atoa que os ventres Guzerá estão sendo multiplicados aceleradamente, para cumprirem este papel.
Base do Brahman = Longhorn + Guzerá Brasileiro.
Tabapuã
Desde o início do século XX, alguns pioneiros já selecionavam um animal mocho, com aparência anelorada, a partir de cruzamentos entre o gado Mocho Nacional com o Nelore ou com o Guzerá. As mais antigas anotações mostram a formação deste gado mocho no estado de Goiás, embora tenha sido documentado também no estado de São Paulo e em Minas Gerais.
Tabapuã = Mocho Nacional + Guzerá ou o Nelore
Santa Gertrudis
A história começou em 1910, no Texas, onde já existiam reprodutores 1/2 sangue Guzerá e Shorthorn. O Santa Gertrudis foi o primeiro gado feito com os olhos voltados para o Comércio. Por isso hoje está presente em 60 países e em 49 estados Norte Americanos.
Santa Gertrudis = Guzerá + Shorthorn
Lavínia
Existem notícias sobre cruzamento de Pardo Suiça com o Guzerá, desde a década de 20. Vindo do cruzamento com o Guzerá, nenhum outro mestiço foi tão duramente provado, em sua história, como o Lavínia no Nordeste. Sua principal função era enfrentar e sobreviver as secas, sem deixar de produzir crias.
Lavínia = Pardo Suiça + Guzerá
Pitangueiras
O Frigorífico Anglo, durante a segunda Guerra Mundial, lançou-se num programa destinado a formar um tipo de gado misto, de alta precocidade, pronto para o abate aos 24 meses e matrizes produzindo acima de 15 kg de leite. A nova raça foi plasmada pelo Guzerá e pelo Red Poll. O Guzerá foi eleito pelo porte, carcaça, rusticidade e melhor úbere.
Pitangueiras = Guzerá + Red Poll
Indubrasil
Raça obtida pela fusão do Guzerá, Nelore e Gir, o sucesso de cruzamento foi tão grande que, além de se espalhar pelo país inteiro, também incentivou suas exportações, entre 1923 e 1924, para os Estados Unidos, com intenção de consolidar a raça Brahman. O Indubrasil dominou a pecuária brasileira desde 1925 até 1945.
Indubrasil = Guzerá + Nelore + Gir

Bela imagem da imponência de um Guzerá. Crédito: Adriano Garcia.
Simbrasil
O Ministério Brasileiro admitiu a raça sintética "Simbrasil" (Simental x Qualquer raça zebuína) como sendo homóloga do "Simbrah" norte-americano (Simental x Brahman). Foi difícil determinar um padrão para o Simbrasil, uma vez que existe animais oriundos de cruzamentos com Guzerá, Nelore, Nelore Mocho, Indubrasil, Gir e outros.
Simbrasil = Simental + Guzerá ou qualquer outra raça zebuína
Canchim
Os primeiros animais com 5/8 charolês e 3/8 Zebu nasceram em 1953. Tiveram participação na formação do rebanho Canchim 52 touros Charoleses, 8 touros Indubrasil, 4 touros Guzerá, 127 vacas Indubrasil, 9 vacas Guzerá e 9 vacas Nelore. O Canchim vem sendo cruzado com o Nelore, com o Guzerá e até com gado leiteiro comum, sempre com bons resultados.
Guzolando
Desde o início da história do Zebu, no Brasil, houve cruzamentos entre o Guzerá e o gado Holandês. Na modernidade o guzolando volta ao cenário, dessa vez para enriquecer o sangue do gado Girolando. Sem dúvida, a vaca Girolanda, ao ser cruzada com o Guzerá leiteiro, garante um produto 1/2 sangue de alto valor.
Guzolando = Guzerá + Girolando
Cariri
Trata-se do cruzamento programado entre o Guzerá e o Simental, na Caatinga Nordestina. A formação deste gado aconteceu na região denominada de Cariri Paraibano. Quando já haviam surgido os primeiros sintéticos Cariri, o ministério admitiu o registro da raça Simbrasil (Simental+qualquer zebuíno), daí adotaram o nome de "Simbrasil Cariri".
Cariri = Guzerá + Simental
Riopardense
Foi em 1947 que Osmany Junqueira Dias notou que a raça Holandesa precisava de "ajuda" do gado Zebu para suportar o clima tropical. Após três gerações de cruzamentos chegaram no gado "Riopardense", com 5/8 Holandês, 1/4 Guzerá e 1/8 Gir.
Xingu
A história começou em 1970, quando Roberto Martins Franco tentou obter um mestiço rustico e leiteiro. Pretendia obter melhores novilhos de corte, mais pesados e de crescimento mais rápido. Para lucrar com a heterose, escolheu o Guzerá e o Holandês nacionalizado, ou gado holandezado já com alguma rusticidade. Em 1990, o Xingu já estava consolidado como uma boa opção da pecuária do Brasil Central.
Santa Gabriela
Formado na estação experimental de Sertãozinho (SP), tendo em vista a produção de leite por meio de um gado de dupla aptidão. Obtido por cruzamentos planejados das raças Devon x Guzerá x HVB (Holandês vermelho e branco). As pesquisas continuam em andamento, já contando com usuários nas redondezas.
Outros Bimestiços em formação
Muitos são os trabalhos de cruzamentos no Brasil. Algumas raças européias preconizam abertamente, o uso do Guzerá na formação do gado F2. A geração F1 é feita com gado anelorado e, a seguir, entra o Guzerá, formando o F2.
Trechos e Adaptações: Equipe CRPBZ/Museu do Zebu
Fontes:
RICCIOPPO, Thiago. Guzerá: Centro de Referência da Pecuária Brasileira - CRPBZ.
SANTOS, Rinaldo. Guzerá - o Gado do Brasil . Uberaba: Tropical, 2005.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU