Chave de Ouro: o "Zebu que fechou uma era ao abrir outra para o Gir no Brasil."
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Publicado em 13/10/2016 às 16:38:30
- atualizado em 13/10/2016 às 17:20:48
Conheça a história do famoso touro da raça Gir, Chave de Ouro: de propriedade de Rodolfo Machado Borges, pecuarista uberabense e um dos pioneiros na aquisição de zebuínos puros trazidos diretamente da Índia nos áureos tempos das importações, hoje é parte integrante do Acervo Histórico do Museu do Zebu. O touro Chave de Ouro, da raça Gir, nasceu em tempos considerados difíceis (crise, denúncias e rivalidade partidária) e transformadores para a política brasileira, embora tenham sido propícios para os ventos que favoreciam o desenvolvimento industrial do Brasil - em especial, o estado de Minas Gerais, famoso pela vocação agrária e celeiro introdutório do Zebu no país.
Rodolfo Machado Borges, um dos pioneiros nas importações da raça indiana para o país a partir do século XX , era membro da família proprietária da Fazenda Laranjeiras em Uberaba (MG) e dono do boi aqui mencionado, o qual recebeu esse nome por representar, nas palavras do próprio pecuarista: "Um animal que fechava uma era e abria outra para a raça Gir no Brasil."
Rodolpho Machado Borges com Getúlio Vargas em 1939. Acervo: MZ
Rodolfo faleceu no dia 17 de fevereiro de 1955, aos 74 anos de idade, ou seja, poucos anos depois da aquisição do boi, o que teria de fato contribuído para valorizar ainda mais a fábula criada em torno do belo exemplar da raça Gir - um puro sangue, genuíno e, como diziam outros tantos amantes da pecuária zebuína, "Um verdadeiro garanhão!", por ter ajudado a consolidar o sangue que iria refrescar outros tantos plantéis que teriam surgido pelo Brasil afora.
Relatos históricos afirmam que quando nasceu o boi, Rodolfo encontrava-se doente, o que o teria levado a solicitar a visita solene do bezerro aos seus aposentos. Emocionado, comunicou a todos que ali estavam que aquele animal deveria ser registrado com tal nome, pois sabia encerrar ali sua vida de "girista apaixonado". Muitos de seus parceiros diziam que a frase, no entanto, teria sido outra: que o pecuarista havia "começado o caso de amor pelo Zebu com Bey (um entre vários dos animais puro sangue adquiridos por ele) para encerrar o casório, desde então, com Chave de Ouro".
O certo é que o boi - também chamado carinhosamente de "Velho" - foi o mais alto lugar no pódio alcançado pela marca R (de "Rodolfo"), segundo palavras do próprio, que havia então declarado em tom profético que esse touro "fecharia com 'chave de ouro' o seu trabalho diante da pecuária zebuína e descortinaria um grande futuro para o Gir brasileiro". Alguns criadores mais antigos diziam que isso era muito próprio do Sr. Rodolfo, que tinha a tradição de, ao longo de todos os anos, promover um touro colocando-o como pai dos principais bezerros nascidos em anos anteriores.
Fazenda Laranjeiras (Uberaba - MG), propriedade da Família Machado Borges, em fotografia de 1946. Acervo: MZ
Chave de Ouro faleceu em 1967, deixando de fato um legado e um nome muito bem construído na ocasião. Na verdade, o boi foi adquirido por Rivaldo Machado Borges, um dos filhos de Rodolfo, logo após a morte do pai. A pedido dele, o animal foi embalsamado pelo mestre taxidermista e naturalista, Giovanni Magrin, natural e residente na cidade de Franca (SP), quando ficou exposto na fazenda por algum tempo.
Poucos anos depois, o exemplar foi carinhosamente doado ao Museu do Zebu em 27 de fevereiro de 1984, pelo mesmo herdeiro e também pecuarista, que assim decidiu pelo bem da preservação da memória de seu pai e homenagem solene por toda a contribuição dele para o propício desenvolvimento da pecuária zebuína brasileira. O item é até hoje muito admirado pelos vários visitantes que, periodicamente, participam das feiras anuais realizadas no Parque Fernando Costa.
Chave de Ouro em fotografia da década de 1950. Acervo: MZ
Chave de Ouro tornou-se parte integrante do acervo histórico do museu, cujo processo de embalsamamento foi concebido pela manutenção da cabeça e pescoço originais do animal, preservados pela técnica química conhecida como taxidermia, muito usada para a concepção de coleções científicas ou para outros fins similares, bem como uma importante ferramenta de conservação e preservação da memória - como, aliás, é o caso desse objeto.
A relevância histórica da peça em questão atesta, entre outras acuidades, a paixão dos criadores pelo impulso pioneiro que os inspiraram a investir e acreditar no progresso da pecuária zebuína brasileira a partir da aquisição de exemplares únicos que, segundo as muitas experiências, acabavam se tornando objeto de reverência, carinho e mesmo culto, como é possível observar aqui. Não há dúvida de que o personagem é parte de uma bela história; perfeita até para, como muitos gostariam de dizer, virar um bom "causo caipira" - daqueles que levam o fazendeiro apaixonado a reunir os amigos na varanda antes de chegar a tão esperada hora do "pouso" diário.
Acesse a Ficha de Inventário completa do item "Chave de Ouro" no Acervo Virtual do CRPBZ
Autor(a): Mimi Barros (CRPBZ)
Fonte: Acervo Histórico do Museu do Zebu
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU