Caminho do meio: entre a busca do equilíbrio nas abordagens seletivas e o colapso da seleção Voltar

Você está em: Zebuinocultura » Destaques Publicado em 18/10/2016 às 14:05:26 - atualizado em 20/10/2016 às 08:07:25
Luis Antônio Josahkian, superintendente da área de melhoramento genético da ABCZ

*Luis Antônio Josahkian, é especialista em produção de ruminantes e superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Escreve mensalmente para a Revista Globo Rural e disponibiliza pesquisas e tutoriais no portal Centro de Referência da Pecuária Brasileira- Zebu (CRPBZ) ao longo do ano.

Leia, a seguir, mais um artigo sobre a questão genética na atualidade.

O caminho do meio

 

A seleção dos animais domésticos é quase tão antiga quanto a própria humanidade, desde que abandonaram a vida nômade, nossos ancestrais buscaram a ajuda dos animais para sua sobrevivência e evolução. Milhares de anos depois de habitar cavernas, o selecionador moderno se vê às voltas com tecnologias sofisticadas. Um arsenal de indicadores torna, sem dúvida, a seleção atual mais segura. Isso é válido para o conjunto de características que permite sua medição em valores matemáticos. Contudo, no universo da seleção, requeremos muito mais dos animais do que simples mente ganhar peso, produzir leite, lã ou botar mais ovos.

 

Tudo isso é muito importante, mas não resume a seleção. Existe outro grupo de características que são tão importantes quanto essas e que são mensuráveis por outros métodos. Infelizmente, e não raro, encontramos posições extremadas sobre uma ou outra forma de praticar a escolha dos animais. Algumas defendendo uma valorização imperiosa dos fenótipos dos animais que indicam pureza racial, beleza, equilíbrio; e outras que ficam ancoradas em modelos matemáticos sofisticados, os quais, embora sejam réus confessos em admitir que só predigam possíveis respostas, são considerados oráculos infalíveis. Onde está a verdade?

 

Para aqueles que se prendem a uma única abordagem seletiva e se fecham em seu universo, não sei até onde é possível afirmar que o colapso da seleção é uma questão de tempo, mas, seguramente, é possível dizer que as perdas são relevantes. E por que é assim? Porque as diferentes características que interessam na produção dos animais domésticos estão impressas, desde sempre, em um plano digital, que conhecemos como genoma (o DNA dos animais). Diferentes combinações de trechos de DNA determinam diferentes funções, todas elas de interesse, mas nem todas percebidas pelos mesmos métodos.

 

O resultado de algumas dessas combinações nós podemos medir, por exemplo, usando a balança para aferir o peso dos animais ou a produção de leite. Técnicas mais sofisticadas permitem que façamos uma leitura das estruturas internas dos animais, como a ultrassonografia, com as quais podemos medir a área de olho de lombo (um indicador de rendimento de carcaça) e a espessura de gordura subcutânea (um indicador de acabamento) por outro lado, algumas diferentes interações dos genes ou destes com o meio ambiente só existem na percepção do selecionador e só podem ser aferidas quando utilizamos outros métodos.

 

Por exemplo, para a harmonia funcional de um animal, para a relação osso músculo ou para a condição de aprumos, não existem balanças, hipômetros, testes laboratoriais ou ultrassonografias. Elas são percebidas em um plano quase subjetivo que integra a acuidade visual do observador do animal ao sistema de produção, mas nem por isso são menos importantes.

 

Dessa forma, o processo seletivo dos animais domésticos requer diferentes competências, que precisam andar juntas, pelo menos até quando elas forem, individualmente, insuficientes para distinguir com precisão tudo o que interessa na seleção dos animais domésticos. A produção animal resulta de modelos biológicos complexos que insistem em extrapolar o que os números nos contam, com precisão, é certo, mas somente para o que pode ser medido matematicamente.

 

Por isso, os aficionados dos modelos matemáticos e suas predições se darão conta, um dia, que seu critério se letivo pode estar entrando em colapso. Por outro lado, os aficionados da beleza puramente estética se darão conta de que não há mais tempo para percorrer o caminho que outros já percorreram. A sugestão é reunir o que há de melhor nos dois universos.

 

Fonte: Revista Globo Rural - Outubro 2016

 


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