Pastagens Ecológicas: O habitat natural do bovino orgânico Voltar

Você está em: Pesquisa » Divulgação de Estudos e Pesquisas Publicado em 31/10/2016 às 16:58:18 - atualizado em 31/10/2016 às 17:08:50
Rebanho bovinos da raça Tabapuã. Foto: Associação brasileira dos Criadores de Tabapuã, 2016.

O Conceito de Pastagem Ecológica pode ser generalizado para uma pastagem
qualquer, que apresente: diversidade de forrageiras; arborização adequada,
manejo com o Sistema de Pastoreio Racional Voisin com exclusão do uso de fogo, adubos químicos, herbicidas e roçadas sistemáticas. Com o atendimento destas condições, uma pastagem qualquer pode se converter em pastagem ecológica, no curso de poucos anos.


*Por Jurandir Melado (Pesquisador Embrapa)

Pastagem Ecológica

 

A terminologia "Pastagem Ecológica" foi usada em primeira mão, para designar a pastagem obtidana Fazenda Ecológica (Site: www.fazendaecologica.com.br), através de um método alternativoque foi chamado de "Formação Ecológica de Pastagem no Cerrado". Neste método, foram excluídoso desmatamento, o fogo e a aração do solo, mantendo o ecossistema original do cerrado com um mínimo de alteração.

 

A Pastagem Ecológica foi obtida a partir da melhoria da pastagem nativapreexistente, com a introdução, à lanço sobre a vegetação nativa intocada, de sementes selecionadasdas principais espécies de gramíneas forrageiras adaptadas às condições de solo e clima da região -(Cerrado da Baixada Cuiabana - MT), empregando desde o início do processo o Sistema de Pastoreio Racional Voisin no manejo do gado nas áreas em formação e priorizando o desenvolvimento dos capinssemeados em relação aos aspectos produtivos.

 

O resultado foi surpreendente: uma pastagem com biodiversidade de forrageiras, com as várias espécies introduzidas convivendo com inúmeras espéciesnativas, a manutenção das árvores e arbustos do cerrado, num verdadeiro "Sistema Silvipastoril Natural" extremamente adaptado às condições edafoclimáticas locais e com uma produtividade pelo menos duas vezes superior ao de uma pastagem convencional em regime de pastoreio contínuo namesma área.

Passos para a Formação da Pastagem Ecológica no Cerrado

 

Para melhor entendimento, podemos dividir o processo em 3 fases:


1. Divisão da área em piquetes, de forma a controlar o pastejo do gado, possibilitando odesenvolvimento das gramíneas semeadas. Após a pastagem formada, o manejo deveráobrigatoriamente ser feito com atendimento dos preceitos do Pastoreio Racional Voisin, sendoque o tamanho definitivo dos piquetes deverá ser reduzido (1 ou 2 hectares é o mais indicado).


Durante a fase de formação porém, os piquetes poderão ser maiores (4, 6 ou 12 ha), paraposterior redivisão, sendo aconselhável áreas e formatos facilmente divisível em busca da áreadefinitiva ideal.


Na divisão dos piquetes usa-se as cercas elétricas de forma a tornar o empreendimento viáveleconomicamente. As cercas elétricas são extremamente econômicas, com o custo final variandode 10 a 25 % do custos de uma cerca convencional. As fotos 01 e 02 mostra a diferença entreuma cerca convencional e outra elétrica, ambas da região Noroeste de MT.


2. Semeio, no início do período da chuva, de uma mistura de sementes dos capins mais adequadosà região. A quantidade de sementes deverá ser em torno de 30 kg/ha, sendo que as sementes,após devidamente misturadas, deverão ser distribuídas a lanço sobre o cerrado nativo intocado,da forma mais homogênea possível. Na tabela 01 é apresentada uma sugestão de mistura considerada adequada para a região da Baixada Cuiabana, onde se encontra a Fazenda
Ecológica.


3. Rodízio controlado do gado pelos piquetes em formação: logo após o semeio do capim, o gado deve ser colocado para pastar no piquete. A ação do gado é importante para uma melhor fixaçãodas sementes no solo e o desbravamento do cerrado. Na realidade, gado promove uma certa "mecanização" da vegetação e do solo, facilitando o estabelecimento das sementes introduzidas.Nesta fase, o gado é um mero operário do processo, sendo que deve ser usado uma quantidadede gado que consiga obter sua necessária alimentação na vegetação nativa, por um período de1 a 3 dias, que deverá ser a permanência do gado em cada piquete.

 

Deve-se ter em mente que nesta fase, o importante é priorizar a formação da pastagem, adotando procedimentos queacelerem esta formação. Experimentações conduzidas na Fazenda Ecológica nos últimos anos têm demostrado resultados muito interessantes:

 

Uma área de 3 hectares, semeadas nos anos anteriores e em processo de formação, foi há dois anos dividida em 3 piquetes de 1 hectare, recebendo cada piquete um tratamento diferente quanto a ação do gado:


1. entrada do gado a cada 60 dias, durante todo o ano;


2. entrada do gado a cada 60 dias, apenas durante a seca, ficando o piquete vedado durante o período das águas para favorecer o ressemeio natural;


3. vedado ao gado durante todo o ano, para permitir o ressemeio natural e o crescimento máximodas moitas de capins semeados.


Os resultados obtidos foram nitidamente diferentes: no primeiro piquete em uso mais constante, o capim semeado está se desenvolvendo porém de forma muito lenta; no segundo piquete, que recebem o gado apenas 3 vezes ao ano durante a seca, teve a formação bastante acelerada; no terceiro piquete, totalmente vedado, o capim semeado teve um desenvolvimento surpreendente, com a pastagem já
totalmente formada.


Rebanho de bovinos da raça Sindi, Fazenda Castilho.

Chegou-se então à conclusão de que num período que varia de 3 a 5 anos, dependendo da adoção dos procedimentos que mais aceleram a formação da pastagem, é perfeitamente possível se obter uma pastagem no cerrado (Pastagem Ecológica), com mínimas alterações do ecossistema original e a um custo (apenas com cercas e sementes), de aproximadamente 1/5 do valor que se gastaria com o método convencional.

 

A Pastagem Ecológica, por incorporar os preceitos do Sistema de Pastoreio Racional (Voisin) e do Silvipastoreio, facilita atender também aos requisitos exigidos pela Pecuária Orgânica, já que a pastagem em equilíbrio ecológico, dispõe de fatores decisivos no controle biológico ou natural das principais pragas do pasto e do gado, dispensando ou minimizando os tratamentos convencionais.

 

Fonte: Embrapa, 2016 (Adaptado pela equipe CRPBZ)


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