Impacto da escala de produção na pecuária leiteira
Voltar
Você está em:
Zebuinocultura » Destaques
Publicado em 07/11/2016 às 20:15:27
- atualizado em 07/11/2016 às 20:21:51
Por Adilson Aguiar * Qual ou quais ações deveriam ser tomadas pelo produtor para aumentar o retorno do seu negócio na pecuária leiteira? A melhor estratégia é o crescimento vertical, aumentando a taxa de lotação da terra já em uso e do desempenho dos animais do rebanho, aumentando assim a produtividade da terra. Para escrever este artigo revisei os diagnósticos da pecuária leiteira dos Estados de Minas Gerais (DIAGNÓSTICO 2005) e de Goiás (FEDERAÇÃO 2009), a partir de entrevistas com, respectivamente, 1.000 e 500 produtores, de todos os estratos de produção e de todas as regiões daqueles estados.
Com base naqueles diagnósticos se obteve uma radiografia da atividade pecuária leiteira naqueles Estados. Os dados de MG são relativos ao ano de 2004 e os de GO são relativos ao período meados de 2008 a meados de 2009.
Nos Diagnósticos os produtores entrevistados foram estratificados pelas faixas de produção diária de leite, assim: abaixo de 50 litros/dia, entre 50 e 200, entre 200 e 500, entre 500 e 1.000 e acima de 1.000 litros de leite/dia. Segundo dados da maior cooperativa de laticínios do estado de MG e que foram apresentados naquele diagnóstico, o estrato de produtores com produção diária abaixo de 50 litros representava 13,63% do número de produtores, mas produziam apenas 1,11% do volume recebido diariamente pela indústria, enquanto os produtores na faixa de produção diária acima de 1.000 litros, apesar de representarem apenas 7,93% do número de produtores, eram responsáveis por 44,96% do volume de leite recebido diariamente.
No estrato de produção abaixo de 50 litros/dia, 80,57, 10,27, 1,96 e 7,2% do capital na atividade estavam imobilizados, respectivamente, nos ativos, terra, benfeitorias, máquinas e animais, enquanto que no estrato de produção acima de 1.000 litros/dia aquelas proporções eram de 58,16, 8,63, 10,38 e 22,84%, respectivamente. Por sua vez, no diagnóstico do estado de GO no estrato de produção abaixo de 50 litros/ dia, 78,5, 6,66, 2,5 e 12,35% do capital na atividade estavam imobilizados, respectivamente, nos ativos, terra, benfeitorias, máquinas e animais, enquanto que no estrato de produção acima de 1.000 litros/ dia aquelas proporções eram de 71,37, 6,33, 6,21 e 16,09%, respectivamente.
Em MG as taxas de lotação das pastagens eram de 1,40 e 1,97 UA/ha no período chuvoso, para os estratos de produtores nas faixas abaixo de 50 litros e acima de 1.000 litros/dia, respectivamente, e 1,24 UA/ha e 1,66 UA/ha média/ano (incluindo áreas para a produção de volumosos suplementares) para os estratos de produtores nas faixas abaixo de 50 litros e acima de 1.000 litros/dia, respectivamente. Em GO as taxas de lotação das pastagens eram de 1,66 e 3,49 cab/ha no período chuvoso, para os estratos de produtores nas faixas abaixo de 50 e acima de 1.000 litros/dia, respectivamente, e 1,59 cab/ha e 2,72 cab/ha média/ano (incluindo áreas para a produção de volumosos suplementares) para os estratos de produtores nas faixas abaixo de 50 litros e acima de 1.000 litros/dia, respectivamente. No diagnóstico de MG a produtividade por animal variou entre 4,31 a 12,86 litros de leite/dia por vaca em lactação, e entre 2,66 e 9,67 litros de leite/dia por vaca no rebanho (incluindo as vacas secas), para os estratos abaixo de 50 e acima de 1.000 litros/dia, respectivamente.
No diagnóstico de GO a produtividade por animal variou entre 5,66 e 14,97 litros de leite/dia por vaca em lactação, e entre 3,31 e 10,46 litros de leite/dia por vaca no rebanho (incluindo as vacas secas), para os estratos abaixo de 50 e acima de 1.000 litros/dia, respectivamente.
No diagnóstico de MG a composição do rebanho também variou entre os estratos: o total de vacas no rebanho representou 32,16 a 39,69%, e o total de vacas em lactação representou 19,84 a 29,85%, para os estratos abaixo de 50 e acima de 1.000 litros/dia, respectivamente. No diagnóstico de GO a composição do rebanho também variou entre os estratos: o total de vacas no rebanho representou 50,2 a 37,3%, e o total de vacas em lactação representou 28,6 a 37,3%, para os estratos abaixo de 50 e acima de 1.000 litros/dia, respectivamente.
Em função da interação entre as variáveis taxa de lotação, produtividade por vaca, composição do rebanho, e a área da propriedade explorada para a produção de leite, os volumes de leite produzido diariamente variaram entre 34,56 litros e 2.096 litros, em MG, e entre 36,09 e 1.919,21 litros, em GO, para os estratos abaixo de 50 e acima de 1.000 litros/ dia, respectivamente. A interação entre as variáveis taxa de lotação, produtividade por vaca e composição do rebanho, ainda influenciou a produtividade anual da terra, com variação entre 485 e 2.931 litros de leite/ha/ano, em MG, e entre 1.485,66 e 4.259,26 litros, em GO, para os estratos abaixo de 50 e acima de 1.000 litros/ dia, respectivamente.
A eficiência de uso da mão de obra também sofreu grande influência da escala de produção com variação de 64 a 525 litros de leite/ pessoa/dia, em MG, e de 105,79 a 471,91 litros, em GO, para os estratos abaixo de 50 e acima de 1.000 litros/dia, respectivamente. Em GO a mão de obra familiar correspondeu a 26,80% do custo operacional total no estrato até 50 litros de leite por dia, a 14,50% no estrato acima de 1.000 litros.
Por fim, a escala de produção influenciou significativamente a renda bruta (RB), os custos de produção e o retorno do capital investido na atividade. Em MG, enquanto a margem bruta (MB = RB - custo operacional efetivo (COE)) dos produtores até 50 litros era de cerca de um salário mínimo/mês, a dos acima de 1.000 litros/dia era de 46 salários mensais. Todos os estratos de produção apresentavam MB positiva. Entretanto, para o estrato de produção abaixo de 50 litros de leite/dia, a margem líquida (ML = RB - COE - custos fi xos (CF) - salário da família) foi negativa e apenas os sistemas de produção dos produtores dos estratos acima de 500 litros/dia foram atrativos, numa perspectiva de longo prazo. O COE/litro foi maior nos estratos de maior produção; nos extremos, a diferença é de 65%. Os custos, operacional total/litro (COT = COE + CF + salário da família) e total/litro reduziram com o aumento da produção, em razão da queda do custo fixo/litro. As MB, por vaca em lactação e por total de vacas, cresceram com o aumento da produção. Em GO a MB média foi positiva em todos os estratos. Entretanto, apenas os produtores nos estratos de 500 a 1.000 e acima de 1.000, alcançaram ML positivas.
Na formação do preço do leite são considerados o preço- base mais a bonificação por volume e por qualidade, ou seja, quem produz mais e com melhor qualidade, recebe preço/litro maior. O preço médio do estrato acima de 1.000 litros foi 22% e 10,3% maior que o do estrato até 50 litros/ dia para os produtores de MG e de GO, respectivamente. Em MG a margem bruta por hectare foi 3,93 vezes mais alta no estrato acima de 1.000 litros/dia comparado à margem alcançada pelos produtores no estrato abaixo de 50 litros/dia.
A taxa de retorno sobre o capital investido em MG foi de 0,58 e 5,99%, enquanto em GO foi de -0,59 a 0,69% para os estratos abaixo de 50 e acima de 1.000 litros/dia, respectivamente.
Entretanto, mesmo os indicadores dos produtores de MG e de GO no estrato acima de 1.000 litros de leite/dia ainda estão muito abaixo do potencial e dos indicadores que têm sido alcançados nas fazendas referências. Particularmente a composição do rebanho deverá ser alterada significativamente para uma proporção de mais de 65% de vacas no rebanho, com mais de 80% destas em lactação, ou seja, mais de 50% dos animais do rebanho sendo compostos por vacas em lactação. Outro indicador que precisa ser aumentado significativamente é a taxa de lotação das pastagens.
A adoção de técnicas e de tecnologias que possibilitam aumento no desempenho por animal e da taxa de lotação das pastagens permite elevar a produtividade da terra e a escala de produção da propriedade no sentido vertical. Com isso, é possível tornar a atividade rentável e competitiva.
.
Na TAB. 1 encontra-se uma comparação entre diferentes níveis tecnológicos de exploração da terra para a atividade de produção leiteira e seus impactos sobre as variáveis, taxa de lotação, produtividade por vaca, e produtividade por hectare, entre os indicadores relatados nos diagnósticos da pecuária leiteira dos estados de MG, GO e Ceará (CE), e de fazendas acompanhadas pela CONSUPEC.
.
Na TAB. 2 alguns indicadores técnicos e econômicos das 500 propriedades leiteiras que participaram do diagnóstico da cadeia do leite do Estado de GO, que exploravam sistemas extensivos de produção, com propriedades que exploravam o solo e outros fatores de produção de forma intensiva.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, A. P. A. Sistemas intensivos de produção de leite em pasto: irrigação e altos níveis de adubação em pastagens tropicais. In: SIMPÓSIO NACIONAL (5º) e INTERNACIONAL (3º) DE BOVINOCULTURA LEITEIRA. Viçosa, 2015.
Anais ... MARCONDES et al (Ed.). Viçosa: UFV, 2015. P. 113-140.
ANUALPEC Anuário Estatístico Pecuária Brasileira, 2015, Informa Economics FNP, São Paulo: Terras. p. 225. DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS (DIEESE). Estatísticas do meio rural 2010 - 2011. 4ª ed. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos: Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural: Ministério do Desenvolvimento Agrário.
São Paulo: DIEESE: NEAD: MDA, 2011. 292 p. DIAGNÓSTICO DA PECUÁRIA LEITEIRA DO ESTADO DE MINAS GERAIS EM 2005: relatório de pesquisa. .... Belo Horizonte: FAEMG, 2006. 156.p
Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG). Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite de Goiás: relatório de pesquisa. - Sebastião Teixeira Gomes - Goiânia: FAEG. 2009.
IBGE - CENSO AGROPECUÁRIO 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 777 p. YAMAGUCHI, L. C. T. et al. Caracterização do segmento de produção primária de leite no Ceará. In: ZOCCAL, R. et al., (Edit.). Caracterização da cadeia produtiva do leite no Ceará: produção primária. Juiz de Fora: EMBRAPA GADO DE LEITE, 2008. p. 13-38.
*Adilson de Paula Almeida Aguiar é Consultor da Consulpec e Professor das Faculdades Integradas de Uberaba - FAZU.
FONTE: Revista ABCZ Ed. nº 94 Out. Nov. 2016
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU