Fernando Cardoso Penteado: 102 anos de vida dedicada a transfomar a agropecuária no Brasil Voltar

Você está em: Memórias do Zebu » Museu do Zebu » Histórias & Estórias Publicado em 11/11/2016 às 20:04:05 - atualizado em 14/11/2016 às 14:56:49
Fernando Cardoso em fotografia de sua formatura na Esalq/Usp em 1936

A história Fernando Penteado Cardoso como fundador da Manah, da Fazenda Mundo Novo, da Agrisus e de suas incontáveis realizações profissionais, desde a graduação como engenheiroagrônomo na Esalq de Piracicaba em 1936, é ampla e detalhadamente conhecida pelo grande público do agronegócio. Mas é a incrível jovialidade e lucidez preservadas nos seus 102 anos de idade que seguem impressionando e inspirando muita gente, principalmente seus filhos e netos que buscam seguir os passos do patriarca em seus exemplos: tanto os extraídos da vida profissional, quanto os da vida pessoal.

ABCZ: Como a história com a seleção da raça Nelore começou?

 

Fernando Penteado Cardoso: Quando fomos visitar o Sr. Geraldo de Paula, da Fazenda Papagaio, por recomendação do Dr. Fausto Pereira, Lima queríamos comprar um tourinho chamado Jango, premiado por ele na Exposição de Curvelo. O Geraldo não quis vender, pois o animal estava prometido a um criador da Colômbia. Conversa vai e conversa vem, eu falei: - Se você não vende o Jango, então me venda o pai do Jango - Deu certo e foi desse jeito que o Mistério veio para nossa criação, mas ele nunca visitou a Fazenda Mundo Novo porque foi direto para a central de coleta.

 

ABCZ: E como a opção por fechar o rebanho prevaleceu?

 

Cardoso: Começamos a comparar a produção do Mistério com a de outro touro da época e ver as vantagens. Vendemos todo o estoque de sêmen de outros touros e fomos comprar mais reprodutores desse gado do Seu Geraldo, que era o gado antigo do Estado do Rio e que ainda não era chamado de Lemgruber.

 

ABCZ: Qual foi a atitude do senhor no período em que o gado não fez sucesso?

 

Cardoso: Respeitamos muito as exposições de Uberaba, mas nossos animais eram mal vistos porque não obedeciam exatamente ao padrão dos animais de 1962. Nós deixamos de apresentar o gado na exposição, mas não escondemos os animais. Alugamos dois terrenos para montar um curral pequeno onde cabia cerca de dez novilhas e tourinhos. Era onde fazíamos nosso marketing com todas as pessoas que ficavam curiosas e vinham questionar. Não tínhamos um gado do gosto do juiz, mas sabíamos que o gado era bom.

 

ABCZ: Qual é o fato que marca para o senhor o momento da virada?

 

Cardoso: Um dia, o José Olavo Borges Mendes (ex-presidente da ABCZ, titular do Nelore VR-JO), me disse - vai ver um tourinho filho do 1646 que nasceu lá em casa. Era uma chácara perto de Uberaba. Fui ver e estava um bezerrão grande mamando em duas vacas receptoras. O bezerro foi um sucesso, virou campeão. Ele era o Nobre. Depois disso começaram a fazer cruzamentos com os nossos animais e a usá-los mais e a partir desse momento o gado foi aceito dentro do conceito da exposição.

 

ABCZ: Como o senhor definiu os conceitos de seleção que são atuais até hoje?

 

Cardoso: Em 1982, eu e meus companheiros pensamos em trazer uma opinião estranha para analisar nosso gado. Convidamos o professor Bonsma (J. C. Bonsma), da África do Sul, que veio e aprovou o nosso gado. Ele disse uma coisa muito importante - Se eu tivesse o seu Nelore quando fiz a raça Bonsmara, talvez não a criasse porque não seria necessário. Mas eu teria um Nelore melhor do que o de vocês - E daí ele nos deu regras básicas que respeitamos muito. Não foi uma ideia revolucionária, mas veio ao encontro daquilo que pensávamos.


Fonte: Revista ABCZ, nº 84. 2015.

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ABCZ: Qual o sentimento que fica para o senhor, quando vê a genética da Mundo Novo disseminada pelo Brasil?

 

Cardoso: Primeiro a gente se sente contente quando vê as estatísticas do bom desempenho funcional dos nossos animais, que são as tais notas que eles dão pela descendência nos catálogos de touros, e segundo, pela constatação de que a genética se disseminou pelo rebanho nacional, é respeitada e reconhecida. Não só o nosso esforço, mas os esforços dos outros selecionadores que visam um gado bom de campo, que forneça bons bois de corte são trabalhos que amparam a pecuária nacional. Nós só achamos que o nosso é um pouquinho melhor que o dos outros, mas isso é uma questão de marketing! Estamos convencidos de que contribuímos, juntamente com muitos outros criadores, para a estabilidade e o progresso da pecuária nacional.

 

ABCZ: Na esfera pessoal, o senhor tem alguma lembrança mais forte?

 

Cardoso: Teve um período que o Seu Geraldo ficou internado com problemas cardíacos em São Paulo. Um dia recebi uma ligação da esposa dizendo que ele queria me ver no hospital. Eu fui e ouvi uma coisa dele - Eu me sinto confortável porque vocês da Manah estão dando continuidade ao meu trabalho - Isso me emocionou muito e ele veio a falecer alguns meses depois. Seu Geraldo foi o homem que enxergou as qualidades dos seus animais e quando os comparou aos famosos de 1962 ele disse - não, o meu é tão bom quanto os outros, porque mudar? E nunca cruzou o seu gado com os touros de fora.

 

ABCZ: O senhor foi Secretário do governador Adhemar de Barros, um homem de negócios requisitado. Como é a rotina hoje?

 

Cardoso: Gosto de ficar aqui no meu paraíso (Fazenda Aparecida, Mogi Mirim, SP). É onde a minha família se reúne. No Natal, só faltaram 2 de 94, contando filhos, netos, bisnetos, genros e noras. Essa propriedade de lazer e de descanso é também produtiva e diversificada. Fizemos a recuperação dos pastos, das áreas destinadas ao cultivo de cana, aumentamos os reservatórios de água e preservamos as minas. Eu mantenho um rebanho Nelore de vacas puras e touros da Mundo Novo para produzir bezerros de corte. Minha outra paixão são as árvores. Eu e Magdalena plantamos um bosque de samaúmas da Amazônia e de outras árvores nativas. Essas seis palmeiras na frente da sede representam os meus filhos Fernando, Francisco, Rita, Magdalena, Eduardo e Maria Estela.

 

Márcia Benevenuto | Foto: Márcia Benevenuto

Revista ABCZ Ed. 84, 2015.


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