Vermes vs. Carrapatos: Quem prejudica mais a produção? Voltar

Você está em: Pesquisa » Divulgação de Estudos e Pesquisas Publicado em 22/11/2016 às 08:18:40 - atualizado em 22/11/2016 às 08:23:25
Marcel Kenzo Vilalba Onizuka. Foto: Revista O Zebu no Brasil, 2016.

Por Marcel Kenzo Vilalba Onizuka*

O Brasil possui atualmente o segundo maior rebanho do mundo, com aproximadamente 212 milhões de cabeças de bovinos. A região Centro-Oeste detém 33,5% desse total (IBGE, 2014). Tal rebanho foi capaz de produzir 5,6 milhões de toneladas de carne e 35 bilhões de litros de leite (IBGE, 2015), números expressivos que evidenciam a importância da produção brasileira no cenário mundial.

Ainda relacionado à produtividade dos animais, principalmente no gado de corte, essa enorme produção é realizada predominantemente a pasto. A característica é um dos fatores que torna a pecuária de corte brasileira competitiva no cenário internacional (ALMEIDA, 2010). Outro fator que deve ser levado em consideração são as características dos animais utilizados para produção.

 

Como o Brasil está localizado em uma região tropical, possui estações de seca e chuva bem definidas, isso torna o ambiente favorável aos parasitos e desafiador para a produção animal (HONER; BIANCHIN, 1987). Essa característica ambiental fez com que, ao longo do tempo, animais de origem zebuína, com destaque para o Nelore, dominassem grande parte do rebanho das fazendas, principalmente por apresentarem melhor rusticidade e adaptabilidade a tais condições (HECKLER, 2016).

 

Apesar da maior rusticidade dos zebuínos, eles ainda são submetidos a constantes desafios, principalmente sanitários. Um dos principais problemas de sanidade que assombra a pecuária de corte é a nematodiose subclínica, mais comumente nomeada de "verminose" (COSTA; BORGES, 2010).

 

Em uma pesquisa sobre problemas parasitários realizada por Delgado et al. (2009), em Minas Gerais, os autores mostraram que 53% dos produtores rurais consideram as infestações por carrapatos como o principal problema, enquanto a verminose preocupa de fato apenas 5,6% dos entrevistados. Essa informação pode levar o leitor a pensar que este é realmente o principal problema, porém, outra pesquisa realizada por Grisi et al. (2014) mostrou que a verminose é a doença parasitária que mais provoca prejuízo ao rebanho brasileiro.

 

O valor estimado é de aproximadamente 7 bilhões de dólares por ano; o carrapato está em segundo lugar provocando prejuízos da ordem de 3 bilhões de dólares ao ano. A relação entre a percepção e o prejuízo real pode ser considerada um paradoxo. Essa inversão faz com que a energia dedicada para solucionar problemas parasitários seja mais direcionada ao controle de infestações por carrapatos do que as infecções por vermes.

 

Segundo Delgado et al. (2009), para os produtores rurais as infestações são problemas mais preocupantes porque são visíveis, enquanto o verme, como não é visto a olho nu fora do animal, acaba por não despertar um senso de preocupação com o controle. O autor ainda ressalta que 69,1% dos entrevistados não utilizam critério para desverminar os animais, ou seja, manejo sanitário incorreto e indução a resistência parasitária.

 

A verminose normalmente se desenvolve no animal com curso subclínico, apenas em casos muito graves os animais são levados a óbito. Obviamente não é interessante para o verme ocasionar a morte do animal, justamente por isso pode ser considerado um sério problema parasitário, pois ele compete pelos nutrientes.

 

Além da competição, as espoliações ocasionadas principalmente pelos nematódeos Haemonchus placei e Trichostrongylus axei, resultam em lesões e sangramento da parede do abomaso (estômago químico) do bovino, reduzindo o apetite, causando perda de peso e provocando estresse. Não menos importante, se for levado em consideração o potencial biótico (capacidade da fêmea de pôr ovos) cada fêmea do H. placei tem capacidade de fazer uma postura de 5.000 ovos/dia, o que denota a capacidade de infestar o ambiente (FONSECA, 2006).

 

Em conclusão, tanto o carrapato quanto o verme provocam prejuízos para a produção e podem levar os animais a óbito. No caso do carrapato, além de todo estresse provocado ao animal e de abrir porta para a entrada de bicheiras, ainda causa um aspecto visual negativo. A verminose tem caráter mais silencioso.

 

A competição por nutrientes, as lesões no trato gastrointestinal e a redução de apetite atrasam o desenvolvimento do bovino, impedindo-o de expressar seu potencial genético. A capacidade dos parasitos gerarem prejuízos varia de fazenda para fazenda; porém, as pesquisas realizadas no cenário nacional mostram que entre as doenças parasitárias, a verminose é aquela que mais gera prejuízos na produção.

 

Referências

 

ALMEIDA, M. H. S. P. D. Análise econômico-ambiental da intensificação da pecuária de corte no Centro-Oeste brasileiro. 2010. 86 f. Dissertação (Mestrado em Ciências). Escola Superior de Agricultura "Luís de Queiroz", Piracicaba: ESALQ/USP, 2010. 86 p., 2010.

 

COSTA, A.J., BORGES, F.A. Controle de endoparasitos em bovinos de corte. In: Alexandre Vaz Pires. (Org.). Bovinocultura de corte. Piracicaba: FEALQ, 2010. p. 1149-1169.

 

DELGADO, F. E. F. LIMA, W. S.; CUNHA, A. P.; BELL, A. C. P. P.; DOMINGUES, L. N.; WANDERLEY, R. P. B.; LEITE, P. V. B.; LEITE, R. C. Verminoses dos bovinos: percepção de pecuaristas em Minas Gerais. Rev. Bras. Parasitol. Vet. v. 18, n. 3, p. 29- 33, 2009.

 

FONSECA, A. H. Helmintose gastrointestinais dos ruminantes. Material Didático. UFRRJ, Rio de Janeiro, Brasil, 2006. 12 p. HECKLER, R. P. Epidemiologia e controle estratégico da verminose em bovinos de corte. 2016. 126 f. Tese (Doutorado em Ciência Animal). Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia/ UFMS, Campo Grande: FAMEZ/ UFMS, 2016. 126 p. 2016

 

HONER, M.R.; BIANCHIN, I., 1987. Considerações básicas para um programa de controle estratégico da verminose em gado de corte no Brasil. (Circular técnica 20). EMBRAPA - CNPGC, Campo Grande, Brasil, 53p.

 

IBGE. Estatística de Produção Pecuária - Dezembro 2015. Brasil: IBGE, 2015. 47 p. (IBGE. Indicadores IBGE).

 

IBGE. Produção da Pecuária Municipal Volume 42. Brasil: IBGE, 2014. 36 p. (IBGE. Produção da Pecuária Municipal).

 

*Marcel Kenzo Vilalba Onizuka é Médico Veterinário e Especialista Técnico em Saúde Animal

Fonte: Revista O Zebu no Brasil (Edição nº 219, Ano 44, Setembro/Outubro de 2016)


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