A influência do "Ecletismo do Zebu" na cultura uberabense
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Publicado em 22/11/2016 às 17:22:43
- atualizado em 23/11/2016 às 11:19:58

A 33ª Mostra do Museu do Zebu (2016) deu ênfase na perspectiva do encontro cultural ocorrido entre Brasil e Índia desde os primeiros anos das importações do Zebu - que sobrevém a partir do final do século XIX - aos tempos atuais, com destaque para religião, política, memória, arte e ciência (Genética e Pesquisa). Um dos objetivos foi compreender os princípios que permitiram a vocação inicial do Triângulo Mineiro para a introdução da atividade na ocasião. Leia, a seguir, um histórico elaborado para exposição de um dos painéis informativos que integram o conjunto da Mostra desse ano.
A Exposição de 1911
Para comemorar o centenário da fundação de Uberaba, realizou-se no Prado de São Benedito, em 3 de maio de 1911, uma Exposição Agropecuária promovida pela municipalidade e outras lideranças econômicas regionais. A feira teve duração de 15 dias e é considerada como um marco na história da cidade, pois foi o primeiro grande evento realizado na cidade em que se destacava entre as suas principais novidades, o gado indiano Zebu.
(...) "Uma verdadeira vila é levantada no Prado por projeto e obra do engenheiro Francisco Palmério. Esta vila, que caracterizou-se por construções leves, mas de admirável elegância de linhas, apresenta traços marcantes do distante e exótico Oriente. A vila contava com luz elétrica e era adornada com um chafariz e uma cascata luminosa. Fora construída em tempo recorde de 40 dias. Os expositores construíram, às suas expensas, seus pavilhões particulares. Isto os leva a se esmerar na apresentação visual, pois os pavilhões disputavam em beleza e grandiosidade".
LOPES, Maria Antonieta Borges e REZENDE, Eliane Mendonça Marquez de. ABCZ: história e histórias. 2ª ed. São Paulo: Comdesenho Estúdio e Editora, 2001, p. 46.

Antigo “Largo da Matriz” (atual Praça Rui Barbosa), marco da urbanização de Uberaba, em fotografia da década de 1930. Acervo: APU
A feira de 1911 foi realizada a partir de sugestão e campanha de Hildebrando Pontes para comemorar o primeiro centenário do "Distrito de Índios", (o que era considerado na época como a fundação da cidade). Cada expositor foi responsável pela organização e construção de seus pavilhões, cujo requinte demonstrou clara influência das arquiteturas orientais e europeias em muitas deles.
O acontecimento representa também a força política exercida pelo Triângulo Mineiro no Governo, pois pela primeira vez um "presidente" de Minas Gerais (governador) visitou a região - Júlio Bueno Brandão veio acompanhado de outras autoridades, como Fidélis Reis (então presidente da Sociedade Mineira de Agricultura), representando o Ministro da Agricultura e alguns deputados.
Um aspecto interessante marcou o discurso de Philipe Aché, chefe do Executivo local, foi a reivindicação naquele momento da implantação de uma fazenda especializada na seleção do gado, o que aconteceria somente em 1937, durante o Estado Novo (1937 - 1945) varguista, após a inauguração da Fazenda Experimental de Criação, ou antiga "Fazenda Modelo".

Pavilhão da Fazenda Tijuco na Exposição de 1911. Acervo: MZ
Uberaba, "A Princesa do Sertão"
A Câmara Municipal de Uberaba possui em suas dependências internas pinturas parietais com o símbolo da "Princesa do Sertão", emblema relacionado aos primórdios da formação do município. Elaboradas em 1920, são da autoria dos artistas espanhóis Vicente Corcione e Rodolpho Moselho.
O símbolo surge numa perspectiva tridimensional, com um fundo paisagístico que destaca o panorama principal da cidade (Praça Rui Barbosa e a Igreja da Matriz), com alguns exemplares zebuínos em pasto livre. Esses animais estavam ocultos por uma reforma feita no estabelecendo, não se sabe quando exatamente. Após recente restauração do afresco, o maior símbolo da vocação econômica ressurgiu imponente em sua originalidade.

Afresco da Câmara Municipal de Uberaba intitulado “Princesa do Sertão”, de 1920.
O primeiro Brasão Oficial de Uberaba foi criado e desenhado pelo professor, historiador e diretor do Museu de São Paulo, Afonso D'Escragnolle Taunay, a pedido de Olavo Rodrigues da Cunha, em 1928. Devido ao excesso de reprodução e às modificações de seus elementos, o emblema perdeu a originalidade ao longo do tempo.
É possível notar ao centro o escudo vermelho que contém em seu interior a figura geométrica representando a região do Triângulo Mineiro, onde em sua base observa-se a ilustração de um Zebu. O Brasão de Armas, assim como a bandeira e os selos municipais, é uma figura simbólica, uma insígnia que representa a identidade do município, a sua evolução política, administrativa e econômica, seus costumes, tradições, arte e religião.

Fac-símile da primeira capa original do Catálogo da Exposição de 1911. Acervo: MZ
Enfim, o "Ecletismo do Zebu" em Uberaba é exemplificado com exatidão nas palavras de Heliana Angotti Salgueiro, historiadora. A seguir:
Fonte: Citação de texto em montagem (CRPBZ).
Veja a seguir algumas imagens (fotografias) que contrastam com os anos iniciais da influência do Zebu na cidade (a exposição de 1911) e a primeira década do século XX, quando alguns registros belíssimos testemunharam a vocação agrária de Uberaba, naquela que é talvez o maior cartão postal do município: a praça principal e a famosa Câmara Municipal.
Referências:
LOPES, Maria Antonieta Borges e REZENDE, Eliane Mendonça Marquez de. ABCZ: história e histórias. 2ª ed. São Paulo: Comdesenho Estúdio e Editora, 2001.
SANTIAGO, Alberto Alves. O Zebu, na Índia e no Mundo. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1985.
MUSEU VIRTUAL DO ZEBU / ABCZ (disponível em <http://www.abcz.org.br/museuvirtual/>, acesso em 22/11/16.)
Autores: Mimi Barros, historiadora do Museu do Zebu e colaborada do CRPBZ e Thiago Riccioppo, historiador e Gerente Executivo do Museu do Zebu/ABCZ e colaborador do CRPBZ
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU