E se o mundo todo parasse de comer carne? Voltar

Você está em: Pesquisa » Divulgação de Estudos e Pesquisas Publicado em 15/12/2016 às 10:07:33 - atualizado em 15/12/2016 às 11:21:49
Fonte: Atlas da Carne, 2016.

O Fórum Econômico Mundial mostrou uma pesquisa recente sobre a seguinte hipótese: e se todos parassem de consumir carne? Um dos assuntos mais polêmicos da atualidade é o consumo de carne x aquecimento global. A cadeia do gênero está na mira dos ambientalistas e ativistas vegetarianos e veganos. Mas o que aconteceria se isso for mesmo a solução correta a se fazer? É o que vamos saber, a seguir.

Segundo o World Economic Forum, a carne proporciona 17% da ingestão calórica global e ela tem um custo desproporcional para o meio ambiente. Produzir um quilo de carne de vaca emite quantidade considerável de gases de efeito estufa (cerca de 6,7 Kg). O uso da água também é um problema segundo os levantamentos das agências globais sobre impactos ambientais da agropecuária. Necessitam-se 214 litros de água para produzir um quilo de tomate enquanto é necessário 15.515 litros para produzir um quilo de carne em regime de confinamento.

O que pode ser feito para evitar o prejuízo? Melhorar o manejo de resíduos e os métodos de criação certamente reduzirá as "pegadas de carbono" da produção de carne. Isso é imperativo, se levado com seriedade e eficácia. Muitas vezes, a adoção de sistemas de captura de metano podem permitir que esterco do gado seja utilizado na produção de energia elétrica, mas esses processos ainda precisam ser adaptados ao custo-benefício real do planeta para serem comercialmente viáveis. Afinal, até certo ponto nossa dieta é uma questão de escolha. Ao optarmos por melhores alternativas, podemos fazer diferença.

 

Outro estudo calculou os benefícios se todos parassem de comer carne

 

Para 2050 o benefício para o meio ambiente estaria valorizado entre 500 milhões e 1,6 bilhões de dólares. O benefício para a saúde representaria entre 1 bilhão e 1,3 bilhões de dólares. Entretanto existiriam os efeitos negativos. O setor emprega mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo, tendo em conta os produtos alimentares e setor derivados, como cosméticos, detergentes e muitos outros produtos. Hoje, no entanto, entre 4 e 5% da população dos EUA e 30% da Índia são vegetarianos. 1,5% dos espanhóis não comem carne ou peixe.

 

E o Brasil? Como ficaria neste cenário?

 

Estudos afirmam ser o Brasil um dos maiores produtor de carne do planeta. Embora seja estimado erroneamente como o maior desmatador de florestas para produção de carne no mundo, o país seria o responsável por ajudar a poupar aproximadamente 43 milhões de bois, 40 milhões de porcos e mais uns 4,5 bilhões de frangos por ano. Considerando isso, é determinante prever a parcela de responsabilidade do Brasil em ajudar a garantir o equilíbrio da cadeia alimentar no mundo. As previsões e estimativas são positivas. A longo prazo, é o que se espera.

 

Na prática, esses animais são criados para entrar em linhas produtivas para consumo, assim como os ovos e o leite. A grosso modo é como se essa produção se transformasse em "desemprego funcional", ou seja, eles não teriam mais uma função social. Com essa quantidade de animais soltos acabariam por competir por alimentos com outras espécies, causando mais impacto ambiental. Nesse cenário, teríamos como resultado um colapso planetário. E isso inclui não apenas o açougue da esquina, mas milhões e milhões de pessoas desempregadas e bilhões de animais à solta competindo por alimentos.

 

Parar de comer carne não significa necessariamente ter ou adquirir mais saúde. Perderíamos vitaminas, proteínas e minerais. Teríamos de nos adaptar a uma nova dieta. Essa não seria a única mudança na rotina: seu guarda-roupas também passaria por uma revolução, devido à carga equilibrada de calorias e gorduras que ela apresenta. A verdade é que questões diversas podem ajudar a entender o processo. Entre elas, aquelas que dizem respeito à cultura, política e economia de muitas regiões do planeta, as quais, como todos sabem, são heterogêneas entre si. As pesquisas precisam continuar. E o bom senso também.

 

Você se lembra o que aconteceu com o Reino Unido durante o surto de Vaca Louca?

 

A encefalopatia espongiforme bovina, vulgarmente conhecida como doença da vaca louca ou BSE (do acrônimo inglês bovine spongiform encephalopathy), é uma doença neurodegenerativa que afeta o gado doméstico bovino. A doença surgiu em meados dos anos 80 na Inglaterra e tem como característica o fato de ter como agente patogénico uma forma especial de proteína, chamada prião ou príon. É transmissível ao homem, causando uma doença semelhante - a nova variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob, abreviadamente CJD.

 

A partir de Julho de 1988, o Reino Unido introduziu uma série de controles destinados a proteger os consumidores de produtos bovinos contra o risco da BSE ser transmissível e para evitar a transmissão da mesma a outras espécies animais. A incidência da doença atingiu um pico em 1992, quando 36.700 casos foram confirmados, um valor equivalente a 1 por cento do rebanho bovino Depois, diminuiu para 14.300 casos confirmados em 1995, quando em 20 de Março de 1996 o Secretário de Estado da Saúde anunciou uma possível ligação entre a BSE e uma nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD), identificada em pessoas mais jovens.

 

As vendas internas de produtos de carne de bovino diminuíram imediatamente em 40% e em abril de 1996 o consumo das famílias foi 26% No ano anterior. Os mercados de exportação foram completamente perdidos. O preço do gado de corte caiu mais de 25%. Muitos matadouros tiveram que fechar temporariamente ou colocar seus trabalhadores na rua. Por conseguinte, a crise afetou gravemente uma indústria estimada em 3,2 mil milhões de libras por ano (0,5% do PIB britânico) e empregava 130.000 trabalhadores (0,5% do emprego total).

 

O prejuízo econômico total para a nação resultante da BSE no anos 1996/97 foi estimado entre £ 740 milhões e £ 980 milhões, o que equivale a entre 0,1% e 0,2% do rendimento nacional do Reino Unido. O restante da perda nacional resultou do custo de operação dos vários esquemas públicos, custos de conformidade associados a novas exigências legislativas e custos associados aos ajustes de produção para atender novos mercados.

 

Agora dá pra imaginar o tamanho do prejuízo num cenário tanto de se parar de consumir carne quanto no caso de insegurança alimentar? Isso não quer dizer que todos devam comer carne ou não, porém é necessário cada vez mais produzirmos com sustentabilidade e buscar alternativas benéficas que podem impactar tanto para o planeta quanto para o ser humano e animais.


Exames preventivos são feitos para combater a doença na Inglaterra e no mundo. Fonte: Birmingham Mail, 2016.

Os animais possuem uma função importantíssima na sociedade, tanto como fonte de alimentos quanto parte da biodiversidade do planeta. Além disso, pertecem à cadeia de proteína e são habitantes indispensáveis nos diferentes biomas do mundo. É vital a preservação, a produção eficiente, o equilíbrio do efetivo populacional mundial de bovinos, suínos e aves, além do aumento considerável e responsável da produtividade relacionada aos animais e o campo, no geral.

 

A verticalização da produção é muito importante para o equilibrio da agricultura e a preservação da vida para as próximas gerações. Tema amplo e extremamente polêmico na atualidade e que está levando a uma alta polarização entre vegetarianos e carnívoros: fazer urgentemente o levantamento de pesquisas e diretrizes claras que possam incentivar cada vez mais o Bem Estar dos Animais, tanto quanto possa apresentar respostas claras ao consumidor sobre quais os aspectos que realmente levam ao aquecimento global.

 

As metodologias de estimativa de emissão de GEE indicadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) não correspondem plenamente à realidade nacional. Para pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agorpecuária (EMBRAPA),em alguns casos, a metodologia utilizada pelo Painel superestima as emissões vindas da bovinocultura. Estes cálculos são valores absolutos e não levam em conta as características de cada país. O próprio IPCC sugere que sejam feitos estudos regionais sobre o problema.

 

Entretanto, quando falamos de pecuária extensiva no Brasil, há de considerar que, em uma fazenda com um bom manejo, por exemplo, a quantidade de sequestro de carbono que as pastagens e outras culturas vegetais têm capacidade de absorver não é levada em consideração. Essa é uma informação muito importante para desmistificar o complexo processo de aquecimento global. Recentemente, esse foi um dos aspectos que deram destaques ao país na maior conferência mundial sobre sustentabilidade - a COP 21.

 

Vista por este ângulo a pecuária brasileira pode contribuir para um o balanço de serviços ambientais para o planeta. O país vem trabalhando incansavelmente para que a produção tenha cada vez mais sustentabilidade. O melhoramento genético dos bovinos, por exemeplo, e os últimos investimentos em tecnologia, além da valorização da agricultura familiar, são fatores coadjuvantes para que esse caminho seja percorrido. No portal CRPBZ é possível acompanhar todos os avanços e pesquisas já alcançadas para a preservação ambiental e produção de carne e leite.

 

Acesse aqui e descubra mais sobre o assunto!

 

Um ecologista à favor da produção de carne

 

Para Allan Savory "desertificação é uma palavra requintada para terra que está se tornando deserto", diz. O pesquisador é ecólogo, fazendeiro, soldado, exilado, ecologista, consultor internacional e presidente e co-fundador do The Savory Institute defende uma abordagem de pensamento sistêmico para gerenciar recursos. Como um oponente firme, Savory viria a defender o uso do gado devidamente controlado. Anos depois, a ideia é a de que os animias, movendo-se para imitar a natureza, são um meio para curar o ambiente. E afirma: "somente o gado pode reverter a desertificação."

 

Ele afirma ainda ser a desertificação um fator de risco que está contribuindo não só para a mudança climática, mas também para grande parte da pobreza, emigração, violência, entre outros aspectos. Nas regiões seriamente afetadas do mundo :"somente o gado pode nos salvar ", diz Savory. Ele acredita que as pastagens têm o potencial de sequestrar dióxido de carbono atmosférico suficiente para reverter as mudanças climáticas. Elogiado como o gênio, o profeta e o visionary, suas idéias controversas provocaram a oposição feroz dos academicos, dos ecologistas, e dos veganos.

 

No entanto, sua abordagem radical está ganhando terreno, com novos convertidos e investidores. As pastagem sob gestão holística está superando os 40 milhões de hectares em todo o mundo. Assustadoramente, a desertificação está acontecendo em cerca de dois terços dos prados do mundo, acelerando a mudança climática e causando o declínio das tradicionais sociedades pastoris para o caos social. Savory devotou sua vida a combater esse processo. Ele acredita - e seu trabalho confirma - que um fator surpreendente pode proteger os prados e até recuperar terras degradadas que já foram desertos.

 

Veja a seguir um dos vídeos mais contestadores sobre a produção de carne a pasto na atualidade:

Para saber mais, acesse:

 

Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC)

 

Pesquisa, tradução e redação: Aryanna Sangiovani Ferreira (Gerente de Desenvolvimento e Pesquisa do CRPBZ, mestra em Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável e especialista em Gestão da Qualidade e Segurança Alimentar, ambos pela UNICAMP).

 

Fontes: Allan Savory Institute, BBC Londres, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), The Economist, Natural Academy of Sciences, The Guardian, Oxford Martin School, University of Oxford, World Economist Forum e Revista Superinteressante.


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