Pesquisadores confirmam que é possível obter boa produção pecuária em sintonia com o meio ambiente
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Publicado em 21/12/2016 às 12:07:20
- atualizado em 21/12/2016 às 12:11:48

Produção Equilibrada Pesquisadores dizem que não é preciso sacrificar o bife ou o churrasco do domingo para que pecuária e o meio ambiente possam coexistir. O Brasil possui uma produção pecuária que, além de abastecer grande parte da população mundial com apenas 30% de sua produção (70% abastece o mercado interno), é responsável por 4% do produto interno bruto nacional.
Para os pesquisadores, é possível diminuir as emissões de gases do efeito estufa mantendo a mesma produção. "Alguns óleos vegetais podem reduzir drasticamente as emissões de metano pelos animais. Existem também alguns antibióticos que são seletivos às bactérias do rúmen que produzem metano", explica o pesquisador da Embrapa, Luís Gustavo Barioni.
Técnicas de melhoramento genético e de manejo nutricional são verdadeiras aliadas na luta pela sustentabilidade na pecuária brasileira. Essa afirmativa também foi constatada pelos pesquisadores Paulo Henrique Mazza Rodrigues, do departamento de Nutrição Animal da FMVZ/USP, e Paula Marques, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, ambos de Pirassununga-SP. Eles desenvolveram um estudo que comprovou a queda, com algumas exceções, da emissão de metano entérico, por unidade de produto, pela pecuária dos principais exportadores de carne bovina do mundo. Isso quer dizer que o equilíbrio entre produção pecuária e preservação da atmosfera terrestre está intimamente ligado à adoção de técnicas de melhoramento tanto do manejo, quanto da qualidade genética dos próprios animais.
O estudo dirigido por Paulo Mazza e Paula Marques mostra que, apesar de o Brasil ter um maior crescimento da taxa de emissão de metano entérico, também apresenta a maior taxa de crescimento da produção de carne. "Isto fez com que o país tivesse o valor negativo mais baixo para taxa de crescimento das emissões de metano por unidade de produto (kg de metano/kg de carne)", definem os pesquisadores, que ainda complementam que "tais dados representam que a emissão de metano por unidade de produto acumulado nos últimos 20 anos decresceu em até 29,4%, no caso do Brasil, e aumentou em 1,9% ou 7,7%, como é o caso da União Europeia e do Paraguai, respectivamente". O que sugere que o melhoramento animal, que permite o abate em menor tempo de criação, pode ser um dos meios de se diminuir o impacto ambiental ocorrido pela emissão de gases. A pesquisa ainda revela que quatro dos maiores exportadores de carne bovina e integrantes da União Europeia destacam se em dois extremos do estudo. "De um lado, a Itália, com diminuição de 25,7%, e do outro lado a Holanda, com aumento de 19,3% desse parâmetro, considerando os últimos 20 anos", revela Paulo Mazza.
O governo brasileiro comprometeu-se voluntariamente a reduzir em até 38,9% a emissão de gases de efeito estufa até 2020, segundo proposta do Ministério do Meio Ambiente (MMA). A recuperação de pastagens e a introdução da técnica de integração lavoura-pecuária poderão contribuir com até 12% desse compromisso, segundo o pesquisador da Embrapa Cerrados - unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Geraldo Martha. De acordo com uma pesquisa realizada pela Embrapa Cerrados, se um pasto de baixa produtividade e com taxa de lotação de 0,4 cabeça/hectare passa a abrigar cinco animais na mesma unidade de área, cada hectare com essa taxa de lotação que é recuperado pela integração lavoura-pecuária libera outros oito para outros usos. "Um pasto produtivo pode ser tão eficiente na conservação do solo e da água quanto uma floresta", explica Geraldo Martha. Segundo o pesquisador, a grande quantidade de raízes no solo contribui para o aumento da matéria orgânica, o que incrementa também a captura de carbono da atmosfera e melhora a eficiência de uso da água e de nutrientes no sistema.
A emissão de metano pela digestão dos bovinos também é diminuída pela melhor qualidade das forragens. Estudos da Embrapa apontam que a emissão do gás pelos animais pode cair pela metade quando eles são criados em sistemas com elevada disponibilidade e valor nutritivo de forragem, como em sistemas de integração lavoura - pecuária bem manejados. "E a boa notícia é que o aumento no desempenho animal em pastagens, além de reduzir o impacto ambiental negativo da pecuária, geralmente aumenta o retorno econômico do empreendimento", acrescenta Martha.
Para outro pesquisador, Lourival Vilela, que coordena os estudos de pesquisa em integração lavoura - pecuária na Embrapa (Prodesilp), pelo menos metade das pastagens brasileiras estão em algum grau de degradação. Esse quadro de baixa produtividade das pastagens causa perda de matéria orgânica, erosão e compactação do solo. Por outro lado, a integração lavoura-pecuária, além de beneficiar o meio ambiente, permite maior eficiência no uso de fertilizantes, redução de plantas invasoras e ganhos de produtividade tanto nas lavouras quanto na pecuária.
Genética animal
Para comprovar que o melhoramento animal é a chave para uma pecuária em harmonia com o meio ambiente, pode-se considerar o fato de que um boi produz, de acordo com estudos da Embrapa, em média, 57 kg de metano por ano e se for considerado que ele demore cerca de cinco anos para ser abatido, sua emissão de metano em vida será de 285 kg. Como geralmente produz 240 kg de carcaça, esse boi emite 1,18 kg de metano por quilo de carne, conforme o estudo. Mas, por outro lado, se com o uso de melhoramento genético, nutrição (suplementação, recuperação de pastagens e etc.) e manejo sanitário (controle de doenças, verminoses) esse boi obtiver o mesmo peso com três anos e meio, sua emissão cairá para 0,83 kg de metano/kg de carne, o que representa uma queda de quase 30% das emissões por quilo de produto. Essa estimativa de diminuição das emissões conseguida com o melhor desempenho do animal pode ser ainda melhor que as apresentadas, considerando que animais com longo tempo para abate passam mais tempo de sua vida como adulto e animais adultos produzem mais metano do que aqueles em suas fases iniciais de vida (bezerros e garrotes). Cinco anos era justamente o tempo necessário para abate de um boi no início dos anos 90, no Brasil. Atualmente, a média nacional é de três anos e meio para abate e muitas propriedades conseguem abater este boi com apenas dois anos de idade.
A atividade pecuária, com áreas de pastagens arborizadas, poderia se tornar extensos armazéns de carbono para o planeta, segundo o ministro. Mesmo cortada e transformada em móveis, casas e outros itens, essa madeira continuaria cumprindo seu papel de armazém de carbono, abrindo espaço para novos plantios de árvores nas pastagens. A integração entre floresta e pecuária ainda traria uma série de outras vantagens ao pecuarista, com a renda adicional da venda da madeira. Os animais também seriam beneficiados pela diminuição do estresse térmico com a formação de áreas de pastagens sombreadas e as próprias pastagens seriam beneficiadas com o enriquecimento do solo, além dos benefícios da preservação do bioma. Fica a reflexão dos pesquisadores de que o Brasil possui vegetação exuberante, diversidade biológica e eficiência tecnológica que lhe dão total condição de equilibrar os efeitos da emissão de gases pelos bovinos. Já países como a Austrália não têm a mesma sorte, devido a suas extensas áreas de terras desertificadas. Mesmo os Estados Unidos têm dificuldade de colocar em prática esse equilíbrio entre produção pecuária e preservação da atmosfera, uma vez que possuem extensos confinamentos onde os animais são criados desde muito jovens.
Fonte: Revista ABCZ nº 54
Adaptações e adequações no texto: Equipe CRPBZ/Museu do Zebu
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU