Buscando-se eficiência alimentar no Centro-Oeste do país
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Publicado em 10/02/2017 às 14:47:18
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de carne bovina e o crescimento neste setor deve-se a um a série de fatores, entre eles, avanços em sanidade, reprodução, manejo, nutrição e, sem dúvida, o melhoramento genético dos rebanhos. Muito embora os níveis de produtividade em bovinos de corte ainda estejam aquém de seu potencial, as tecnologias geradas, como Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) e transferência de embriões, sêmen sexado, suplementação estratégica e confinamento, pastos em sistemas integrados lavoura pecuária e lavoura, pecuária e floresta tem permitido alcançar índices que concorrem com culturas mais rentáveis e de menor ciclo, como a soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, mas para seguir rentável, melhorar a eficiência da produção é fundamental.
No tocante ao melhoramento genético em zebuínos nas regiões tropicais, a seleção tem enfocado na melhoria das características produtivas, como crescimento ponderal, qualidade das carcaças e reprodução, com grandes méritos, porém, sem ter uma característica específica que relacionasse o consumo de alimentos com a produção, como a eficiência alimentar. Pela sua importância, Desempenho Esperado na Progênie (DEPs) desta característica já estão disponíveis para raças taurinas nos EUA e Austrália. Eficiência alimentar é uma medida de desempenho animal que impacta diretamente no financeiro da propriedade, pois expressa a relação de alimento consumido com a produção animal. Identificar animais eficientes tem sido uma tarefa desafiadora para o melhoramento genético, pois a experiência de utilizar a relação direta da conversão alimentar (kg de alimento ingerido/kg de peso ganho) como critério de seleção levou a identificação equivocada de animais superiores, de maior porte, pois as características de crescimento, como o ganho de peso, estão relacionadas com o tamanho adulto e assim, resultando em comprometimentos com a eficiência reprodutiva.
O Consumo Alimentar Residual foi sugerido na década de 1960 como uma metodologia alternativa para identificação de animais eficientes, com medições de consumo e peso, onde a eficiência alimentar é dada através de uma equação de regressão que ajusta o consumo dos animais em teste para uma mesma base de peso e taxa de ganho de peso. O consumo estimado dessa maneira é dado como a média de consumo estimado ± resíduo, assim, para animais com CAR negativo (CAR-), significa que os animais consumiram menos que a média, sendo, desta forma, eficientes, e animais que possuem CAR positivo (CAR+), consumiram acima da média, sendo assim, não ou menos eficientes. A principal vantagem para assim se proceder no calculo de eficiência é que desta forma o CAR não se correlaciona com as medidas de peso e assim se evita selecionar animais de maior tamanho adulto.
Exemplificando os resultados, dois animais similares de média de consumo estimado de 9 kg de MS/d podem ter CAR de -1,0 e CAR de +1,0, onde o de CAR- consome 8 Kg de MS de alimento e o de CAR+ 10 kg/d, dois kg a menos que o outro, ajustado para o mesmo peso metabólico e mesma taxa de ganho diário. A literatura mostra resultado de 20% a menos no consumo de animais contrastantes para CAR, o que, se extrapolando, vislumbra-se um possível aumento de animais na mesma área de pastagem ou para ou que o mesmo número de animais necessitaria área menor de pasto. Na prática, pesquisas na Austrália têm mostrado que, em apenas uma geração, a seleção para CAR apresentou redução no consumo diário de 9,8 para 9,2 kg/d, o CAR de 0,17 para -0,20 e a conversão alimentar de 7,6 para 7,0 kg alimento/kg de ganho em animais Angus divergentes para CAR.
A herdabilidade dessa característica estimada entre 1996 e 2003 foi de 0,43 para taurinos e a correlação genética entre medições de CAR na fase de crescimento e na fase adulta em vacas Angus é muito alta (0,98), indicando que a avaliação de CAR pode ser realizada no pós-desmame dos animais. Os resultados para a seleção de CAR mostram que os animais eficientes (CAR-) não apresentam diferenças na taxa de ganho, no peso e rendimento de carcaça, na maciez e suculência, na área de olho de lombo ou acabamento. Nas fêmeas, apresentam a mesma produtividade, com taxas similares de concepção, prenhês, natalidade, produção de leite, peso do bezerro ao nascer e ganho até o desmame.
Entretanto, a pesquisa tem observado alguns pontos conflitantes na seleção para CAR. Em alguns casos, tem-se verificado carcaças com menor proporção de gordura subcutânea e abdominal, o que no caso de animais para abate, sugere-se fazer o acompanhamento com ultrassonografia para obtenção do grau de acabamento mínimo.
Nas fêmeas, novilhas eficientes mostram-se uma semana mais tardias na expressão da puberdade e com um pouco menos de gordura corpórea que as menos eficientes, o que pode ter consequências principalmente em fazendas que desafiam suas novilhas aos 14 meses de idade. Além da ultrassonografia de carcaça auxiliar nos ajustes do manejo nutricional para esta categoria, também é recomendado que a equação que estima o consumo seja também corrigida para espessura de gordura subcutâneas, pois identifica melhor aquelas fêmeas que depositam gordura mais precocemente. Um dos grandes obstáculos é a dificuldade em medir a quantidade de gordura abdominal dos animais e incorporar nas equações de predição do consumo. Entretanto, esses pontos estão sendo trabalhados pela pesquisa de forma a contornar essas limitações.
Programas de melhoramento genético americanos e australianos já têm em suas bases marcadores moleculares para eficiência alimentar identificados e que responderam por mais de 50 % da variação do CAR, assim a constituição de DEPs genômicas já são uma realidade. No Brasil, em zebuínos, trabalhos têm sido conduzidos de forma a identificar marcadores moleculares para esta característica e buscar a rápida inserção nos programas de melhoramento genético, enquanto isso, a avaliação fenotípica é fundamental. Entende-se que a avaliação fenotípica para CAR não deve ser feita somente em machos, mas nas fêmeas de reposição, pois são elas que permanecem no rebanho por mais tempo e são responsáveis pela transferência de 50% do material genético.
Cientes da importância do CAR no melhoramento da raça Nelore e do impacto desta nova tecnologia na produção animal, o governo do Estado de Goiás através da sua Fundação Estadual de Amparo a Pesquisa (FAPEG), FUNDEPEC- GO e SUDECO aportaram recursos para a construção do Centro de Desempenho Animal e execução do projeto "Caracterização e seleção genética para eficiência alimentar em bovinos Nelore avaliados no Estado de Goiás" onde é proposto avaliar bovinos Nelore para eficiência alimentar e obter marcadores moleculares para esta característica. Os testes para CAR serão sequenciais e com os animais dos Testes de Desempenho de Touros Jovens, realizado pela Embrapa Cerrados em Goiás. Nesse sentido, vislumbra-se encontrar mecanismos de identificação de animais eficientes e ter a possibilidade de melhorar rapidamente o rebanho Nelore no Estado, com reflexos no seu sistema de criação e terminação. Assim, o Centro-Oeste alinha-se com Universidades, Empresas e demais institutos de pesquisa na vanguarda e busca por inovação na pecuária nacional.
Eduardo da Costa Eifert: pesquisador da Embrapa | Foto: Fabiano Bastos
Fonte: Revista ABCZ, nº 95.
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