Tenho uma história pessoal com o Zebu, é o que diz José Hamilton Ribeiro
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Publicado em 22/06/2017 às 20:39:10
Por Faeza Resende A pecuária zebuína foi tema de boas prosas escritas e faladas pelo jornalista José Hamilton Ribeiro desde sua primeira matéria publicada na revista Globo Rural, há 31 anos.
"O caso conto. Como o caso foi. Ladrão é ladrão. Boi é boi." A lição de simplicidade de um jornalista nordestino é a regra número um da carreira de um dos mais brilhantes repórteres brasileiros: José Hamilton Ribeiro, ou melhor, o Zé Hamilton. O paulista, de 81 anos, viajou o mundo em grandes coberturas, como a da Guerra do Vietnã. Mas a consagração e o reconhecimento vieram ao cruzar o Brasil, simplificando e exaltando a rotina do produtor rural. Já são mais de 50 anos de carreira no jornalismo, e mais da metade deles dedicada exclusivamente em traduzir e informar o campo. Uma vocação que nasceu na infância.
Os pais de Zé tinham uma fazenda de gado no interior de São Paulo, no município de Santa Rosa de Viterbo. O avô produzia café. "Desde pequeno, vivenciei essa dureza que é pagar as despesas da fazenda, todo mês, e torcer para sobrar alguma coisa. Mais ou menos como é hoje", desabafa, defendendo o produtor rural, o que sempre fez com a caneta e o microfone. Inclusive na criação de uma revista específica para o homem do campo. Na década 60, na Editora Abril, foi a primeira tentativa. Frustrada. "O diretor me respondeu assim: 'No Brasil, mesmo na cidade, pouca gente lê. Imagine no campo... Vai ser umfracasso'", lembra o repórter. Em 1.985, já na Editora Globo, conseguiu fazer parte da equipe original da revista Globo Rural, na esteira do sucesso do programa homônimo de TV. E, simplesmente, a publicação foi o maior lançamento editorial do ano, chegando a tiragem de 450 mil exemplares. Além da revista, onde Zé Hamilton foi Editor-Chefe por dez anos, as palavras simples do jornalista viraram marca registrada do programa Globo Rural (para o qual ainda trabalha), e de mais de 15 livros. Entre eles, "Pantanal, Amor-Baguá" (com mais de 40 edições), "O Gosto da Guerra" e, o mais recente, "Música Caipira: as 270 maiores modas de todos os tempos".
E nessas décadas de estrada, o carinho de Zé pelo campo só cresceu. "Vejo com admiração a eficiência e capacidade de organização dos produtores que dão certo, num país, cujo governo só aparece para cobrar imposto, multar, exigir absurdos e aporrinhar a cabeça de quem trabalha", fala, de forma direta, levantando, mais uma vez, a bandeira da classe. "Vivo - como muitos - na esperança de que ainda vai dar certo", acrescenta. E muita coisa dá certo. Muito certo graças ao produtor rural. Nas reportagens, Zé acompanhou o avanço do melhoramento genético, a constante melhoria no manejo da criação de gado e até mesmo o surgimento da braquiária. "Ela no mínimo dobrou o tamanho das fazendas. Onde passavam fome 100 reses, hoje 200 comem bem, seca e verde", analisa. E por falar em pecuária...
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ZÉ HAMILTON E O ZEBU BRASILEIRO
Desde a primeira matéria na revista Globo Rural, há 31 anos, a pecuária zebuína foi tema de boas prosas escritas e faladas por Zé Hamilton. E a coisa vai além. "Tenho uma história pessoal com o zebu", revela o jornalista, explicando que, com a ajuda de parte da família que mora em Uberaba, sempre teve uma relação próxima com os famosos personagens dessa saga.
É o caso do pecuarista Lamartine Mendes, do vaqueiro Antônio Kinega, e do famoso José Caetano Borges, o Coronel Zé Caetano, um dos mais importantes da lista de memórias do repórter. "Quando o conheci, ele já não saía mais sozinho, mas era lúcido e engraçado, gostava de conversar e de contar piadas..."quentes". Sílvio, o único dos três filhos que o alcançou na velhice, o visitava todo dia. Às vezes, eu estava junto e o assunto era zebu, ou melhor, eram as histórias e as aventuras de mandar buscar zebu na Índia", recorda.
José Hamilton Ribeiro em entrevista para Revista ABCZ. Fonte: Revista ABCZ Nº 97.
Muitos casos tinham relação com o sócio de Zé Caetano na Índia, um "Marajá" de Ahmedabad, que ajudava na escolha dos animais. "Para o filho Sílvio, que era observador e organizado, tirando o fato de que não foi o primeiro a buscar zebu na Índia, em tudo o mais, Zé Caetano era pioneiro. Realizou na Fazenda Cassu, em 1906 , a primeira exposição de zebu no Brasil, com um número de animais próprios que só seria superado anos depois, quando o evento já era na cidade e envolvia outros criadores. Nesse tempo, o gado indiano - imagine: de cupim! e que urrava em vez de berrar ... - ainda era visto como bicho estranho, cuja carne amargava. Chegou a carnear novilhas zebu na Praça Rui Barbosa, distribuindo para as pessoas provarem e dar opinião. Em geral, havia uma queixa: o pedaço de cada um resultara pequeno demais... Quando fazia suas exposições anuais, comprava a primeira página inteira dos dois maiores jornais do Rio e de São Paulo, coisa que hoje em dia nem as multinacionais conseguem", conta Zé Hamilton, do jeito que só ele sabe fazer: com palavras certas, descomplicadas e gostosas de ler e ouvir.
Ah...e mostrando que conhece mesmo essa história, o jornalista ainda destaca que Cel José Caetano também criou o Indubrasil (antes Induberaba) e foi dono do touro "Lontra", imortalizado nos livros de Mário Palmério. E foi por toda essa importância da família Borges, que Zé Hamilton escolheu um funcionário do Coronel para ser o grande destaque da primeira edição da revista Globo Rural. "Davi - Um peão na Corte do Rei Zebu", como saiu na capa - era o capataz da fazenda Cassu e tinha trabalhado os "anos quentes" com Zé Caetano. Felizmente, estava lúcido e atuante, e acabou sendo um belo personagem da história", afirma.
Do início da história, ao ápice do desenvolvimento. Recentemente, Zé Hamilton fez uma reportagem (uma das melhores da carreira na sua avaliação) sobre um balanço do Programa Pró-Genética, divulgando "a boa ideia de propiciar a pequenos produtores de gado de leite (ou de corte) a possibilidade de ter na vacada um touro puro-sangue, que acaba sendo orgulho da família. Tanto da família bovina quanto da humana", completando que o diferencial é o caranguejo. "Uma marca que o produtor reconhece como sinal de seriedade e de tecnologia avançada".
Já foram muitas pautas e vem mais por aí. A evolução dessa pecuária zebuína moderna e tecnológica é o próximo tema idealizado pelo repórter. A ideia de Zé Hamilton é reviver a saga do Zebu, em uma série de reportagens para a TV, que englobe desde "a implantação do Zebu no Brasil , o que ele significa hoje, qual o "estado da arte", quais os avanços à frente, etc. Espero que se viabilize". E nós também esperamos, Zé Hamilton.
Fonte: Revista ABCZ. Edição nº 97.
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