Liberdade do animais, professor Luiz Josahkian
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Publicado em 03/08/2017 às 08:28:19
- atualizado em 03/08/2017 às 08:29:49

O Bem Estar Animal como ciência tem pouco mais de 30 anos. Tudo começou com a publicação do livro de Ruth Harrison Máquinas Animais, em 1964, que desnudou a forma real a sob as quais os animais domésticos eram criados, muito distante da visão bucólica de vacas e carneiros pastando calmamente.
Liberdade do animais
Luiz Josahkian
Zootecnista especialista em produção de ruminantes e professor de melhoramento genético, supereminente técnico da Associação Brasileira de Criadores de zebu ( ABCZ)
O Bem Estar Animal como ciência tem pouco mais de 30 anos. Tudo começou com a publicação do livro de Ruth Harrison Máquinas Animais, em 1964, que desnudou a forma real a sob as quais os animais domésticos eram criados, muito distante da visão bucólica de vacas e carneiros pastando calmamente. A obra levou ao questionamento pela sociedade de como se produziam os alimentos de origem animal. Entre as iniciativas para reformular os sistemas de produção e atender papel dos consumidores, foi criado o chamado Comitê Brambell, 1965.
Somente doze anos depois est comitê as chamadas " cinco liberdades" dos animais, que se tornariam os pilares da bioética: ausência de fome e sede, ausência de desconforto térmico ou físico, ausência de injúrias ou doenças, possibilidade de manifestar seus hábitos naturais e ausência de medo e ansiedade.
Mais tarde o manejo racional dos animais foi realçado pelas contribuições da pesquisadora americana Temple Grandine , uma referência unânime na área. Para Temple, o comportamento do animal é um reflexo direto do manejo e a escala de agressividade cresce de forma direta proporcional ao manejo inadequado.
Para o produtor rural preocupado em pagar as contas, esse assunto parece ser apenas um aspecto romantizado. É um grande engano. Basta olhar para o cenário brasileiro, em que a população rural vem despencando nas últimas décadas, com 85% da população de acotovelando nas áreas urbanas e os 15% restantes que permanecem no meio rural apresentando claros sinais de êxodo.
Combine este cenário com o fato de que animal mais reativo demandam mais tempo e mais mão de obra para o manejo e o obviamente já encontrará um motivo para reflexão.
Estudos mostram a importância econômica da adoção de manejo racional, em que homem e animal respeitem seus espaços. Temperamento agressivo, seja de origem natural ou provocada pelo homem, reduz eficiência alimentar, o ganho de peso, a produção de leite e a reprodução; piora a qualidade da carne e debilita o sistema imune. Isso sem falar no risco do pessoal na lida.
Se tudo isso ainda não é convincente, considere apenas o exemplo fascinante da fisiologia do estresse, que explica a queda da imunidade e a carne mais dura. Estímulos estressores externos são captados pelo hipotálamo, que libera corticotropina, um hormônio que vai atuar na hipófise, liberando adrenocorticotropina. Esse, sua vez, atua na glândula adrenal que libera cortisol , catecolaminas, adrenalina e noradrenalina . Essas respostas ao estresse, quando temporária, são fundamentais para sobrevivência. São elas que ordenam a correr ou ficar e lutar - a famosa descarga de adrenalina .
Já o cortisol é um hormônio ligado a regulação do uso do principal combustível do corpo , a glicose. Em doses corretas, ele melhora o metabolismo celular e a imunidade orgânica. Entretanto, durante a vida do animal, se o estresse é continuo e de longo prazo , ocorre um aumento sensível nos níveis de cortisol e uma drástica redução do glicogênio muscular e de outro hormônio , a serotonina , considerada o principal fator do bem - estar. Muito cortisol , pouca seretonina e pouco glicogênio muscular significa perdas de produção.
O mesmo processo ocorrendo na fase pré-abate leva a redução, ainda, de outra substância, o lactato, que impede a queda do pH muscular, com consequência endurecimento da carne. Parafraseando o juramento da zootecnia, podemos e devemos, sim atuar a favor do bem estar animal da humanidade e dos animais e para isso temos dois caminhos a adoção do manejo racional e a seleção genética do temperamento dos animais .
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU